Investimento sustentável, quem se importa com eles
Mesmo diante do compromisso global para redução na emissão de gases do efeito estufa e do crescente número de catástrofes naturais e sociais no planeta, os títulos sustentáveis, socialmente responsáveis e aderentes a critérios de melhor governança - chamados verdes - ainda são tratados como uma categoria aparte no cardápio da maioria dos investidores.
Vistos com ceticismo, raramente ocupam manchetes de jornais ou garantem total lotação em eventos organizados pelo mercado financeiro. No entanto, a boa notícia é que uma somatória de fatores está empurrando mais investidores para a escolha de portfólios ou ativos aderentes a critérios ambientais, sociais e de governança, resumidos na sigla ESG (Environmental, Social and Governance), que é utilizada mundialmente por gestores que já se dedicam ao tema.
Dominados pelo temor de "perder dinheiro", é previsível que muitos olhem para esse tipo de investimento simplesmente por conta de impactos que as catástrofes naturais e sociais possam ter em empresas nas quais aplicam seus recursos. O Instituto para Liderança Ambiental da Universidade de Cambridge tem um estudo, de 2015, apontando perdas de 45% em uma carteira teórica de ações por conta de eventual mudança rápida no sentimento do mercado frente a riscos climáticos. Apenas metade dessa perda teria, de acordo com o instituto, possibilidade de ser compensada, ou protegida, com uma realocação eficiente.
Outra informação preocupante: os sinistros relacionados a catástrofes naturais foram recorde para as seguradoras no ano passado. A Munich Re fez as contas e previu em US$ 135 bilhões as coberturas decorrentes dos US$ 330 bilhões em prejuízos causados por catástrofes naturais do ano passado.
Considerando ainda o Acordo de Paris assinado em 2015, no qual 195 nações, entre elas o Brasil, se comprometeram com redução nos níveis de emissão de gases do efeito estufa, a "descarbonização" das carteiras já é uma vertente bastante séria e adotada por gestores e fundos soberanos de alguns países.
Mas um dos vetores mais empolgantes está no simples fato de que jovens são, por definição, transformadores e, nesse sentido, se comportam de modo bastante seletivo em relação a várias coisas, especialmente quanto ao que consomem e, gradativamente, também quanto ao modo como investem seu dinheiro. Ainda que o retorno seja a principal razão da escolha de um bom investimento, gestores identificam grupos crescentes de jovens investidores dispostos a abrir mão de parte do rendimento por convicções, como o respeito ao clima, as pessoas e a si mesmo.
Não são poucos os estudos que apontam para os milenials (jovens de 20 a 36 anos) e centenials (com até 19 anos) para justificar um olhar mais atento para ofertas de fundos e outras opções de investimento que tenham uma "pegada" verde ou social. Hoje, eles somam 59% da população mundial e estão cada vez mais descartando produtos e serviços relacionados à velha economia. Gestores de diferentes regiões do mundo estão de olho nas movimentações desse público, estando a maior parte deles na Europa, representados por fundos de pensão e administradores de grandes fortunas.
No Brasil, o envolvimento de players da indústria financeira também cresce. O BNDES, por exemplo, tem feito esforços para incentivar a emissão de papéis e a constituição de fundos verdes. A Febraban já tem um guia para os greenbonds, os títulos de dívida emitidos para investimentos comprovadamente sustentáveis. No Ministério da Fazenda, um grupo de técnicos trabalha para levar adiante um projeto a fim de atrair os investidores institucionais para os títulos verdes, por meio de algum tipo de incentivo fiscal. No Laboratório de Inovação Financeira (LAB), que conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), muitas cabeças pensam em como promover o investimento ESG.
Embora as salas de congressos e fóruns que se ocupam do assunto ainda sejam ainda pequenas, existe um movimento com certo ritmo positivo.
Sócio | CEO InfoMoney e XP Educação
6 aÉ um caminho sem volta e é preciso falar mais sobre esse tema. Parabéns pela iniciativa!