INVOLUÇÃO DO HOMO SAPIENS

         Em aclamada tese, o respeitado biólogo francês Jean-François Bouvet defende que, em 200 mil anos de existência, o Homo Sapiens está passando por evolução inédita, a qual denomina de retroevolução. Mais alto, mais gordo, sexualmente precoce, mas cada vez menos fértil, resume Bouvet, enfatizando que não se trata de uma mutação. "Pela primeira vez em sua história, a modificação de seu meio ambiente pelo Homem é o principal fator de sua evolução, superando a seleção natural. Não é uma evolução no sentido de Darwin, mas uma retroevolução". Em entrevista à AFP, o biólogo menciona, além dos fatores genéticos, o "big bang químico" criado pelo Homem, que está transformando o Homo sapiens em um "Homo Perturbatus".

         Se Bouvet, reconhecido mundialmente, trata a questão sob os pontos de vista biológico e científico, inclusive em seu último livro (Mutantes, como seremos amanhã?), o escritor gaúcho Luiz Carlos Freitas aborda a transformação do homem contemporâneo sob os prismas filosóficos, sociológicos e antropológicos. O primeiro se sustenta na ciência e na observação científica; o segundo na ficção e na observação empírica. Um completa o outro, ambos cooperam para se entender o ser humano atual na plenitude.

         O romance Homo Perturbatus se baseia na premissa de que a Família, a Sociedade e o Estado geram seres automatizados, como se fabricados em série. O excessivo apego à tecnologia, o consumismo desenfreado, o materialismo e o desrespeito às leis naturais estão transformando o Homo Sapiens no Homo Perturbatus. A obra aponta causas e consequências da perda dos referenciais humanos, fazendo do Homo Perturbatus mais do que uma crítica social. Trata-se de profunda análise da condição humana e das instituições que dominam a civilização ocidental, mostrando a necessidade de revolução individual e coletiva do Homem, sob o risco de ele perder as prerrogativas de animal racional.