Isto aqui ôô é um pouquinho de Brasil iá iá
Vivemos hoje no Brasil um dos momentos institucionais mais delicados deste século, no que tange nossa economia. 2022 carrega muitos riscos que se concretizados poderão influenciar estruturalmente a forma como lidamos com o dinheiro no Brasil. Plagiando uma certa casa de análises que ficou famosa em 2015, acredito que sim... 2022 possa vir a ser o Fim do Brasil que surgiu com o Plano Real, a seguir explico o porquê.
Em 2014 após explodir o gasto público Dilma Roussef conseguiu se reeleger com uma vitória apertada sobre Aécio Neves, o que resultou em inflação alta e a pior recessão da nossa história, com uma contração severa do PIB em 2015 e 2016. O povo não engoliu calado o custo da reeleição, foi para rua e sua pressão resultou no impeachment da Presidenta, com Michel Temer assumindo em seu lugar e fazendo um Governo que tentou arrumar um pouco a casa e ser uma "ponte" para quem assumisse em 2023.
Em 2022 a eleição se polarizou entre os que não queriam de forma alguma ver o PT de volta ao poder e os que sentiam algumas saudades do gasto público inflado, que resultou por um bom tempo em benefícios sociais insustentáveis no longo prazo (FIES por ex.), da época PTista. Surge então um personagem controverso que aglutina o desejo de uma mudança radical no País, com uma promessa de mudar a forma como se fazia política, fim do toma lá dá cá e aliado a um notável que assumiria o Ministério da Fazenda, faria reformas e implantaria uma agenda liberal. Ele vence a eleição. O que ninguém podia prever é: haveria uma pandemia no meio do caminho.
A crise do Covid impediu a continuidade das discussões de uma agenda reformista mais profunda após a aprovação da reforma da previdência, nos demandou ações fiscais pesadas para impedir que o País entrasse numa profunda depressão e também revelou a profunda incompetência do Presidente em lidar com a crise sanitária, ao incorporar uma postura belicosa e de enfrentamento não só com atores internos, mas também externos, o que prejudicou a compra e a entrega antecipada de vacinas, o prolongando 2022 a dentro, a necessidade de restrição de mobilidade nas principais cidades do País.
Aliado a isto vimos o Supremo jogar por água todo o trabalho da Operação lava jato em Curitiba, trazendo o ex-Presidente Lula de volta ao jogo presencial. O que acirra a polarização entre os defensores incondicionais do Presidente Bolsonaro e o fiel eleitorado conquistado por Lula entre 2003 e 2010. Não há no momento nenhum nome que se mostre viável como terceira via, porém não é impossível que este apareça visto que parcela boa da população tem uma rejeição grande aos nomes de Bolsonaro e Lula.
As discussões do orçamento de 2021 deixam claro como o Brasil ainda não está preparado para uma agenda liberal, com redução do tamanho do Estado. O que se busca são brechas ao teto dos gastos para se gastar mais. Hoje não passa de ilusão pensar que reformas acontecerão para diminuir o gasto público, na verdade o que verificamos é apenas a troca de rubricas dos valores, o Estado deixa de gastar com salários por exemplo, mas destina maior verba para emendas parlamentares e com a dívida/PIB nos patamares atuais isto certamente não acabará bem. No passado a receita para segurar a inflação sempre foi subir a Taxa Selic, porém hoje nossa dívida é muito maior e não temos a mesma capacidade de fazer superávit primário de antes, para consegui-lo medidas duras de cortes de salários por exemplo teriam de ser tomadas e acredito que ninguém espera que isto aconteça por livre vontade do Presidente (seja ele quem for) e do Congresso de plantão.
Corremos o risco de ver o Banco Central perder o seu arsenal de combate aos juros, pois ao usar a fórmula do passado de jogar a Selic para cima a dívida pública explodirá e o Tesouro Nacional não terá condições de honrá-la, qual será a saída então? Inflação e uma moeda cada vez mais desvalorizada, são as alternativas possíveis para sobreviver em um cenário assim.
Estamos indo em direção ao caminho de nossos hermanos argentinos que viram o dólar sair de $20 para $90 em menos de 3 anos, o que fez a inflação explodir por lá (ou vice-versa)? Voltaremos ao Brasil dos anos 80 com inflação de 20% a.m.?
Eu diria que se olharmos apenas para Brasília, minha resposta seria um: - é provável! Institucionalmente, os posicionamentos recentes do Congresso e até do STF nos jogam nesta direção, o Executivo está a reboque. Porém não podemos esquecer o que vivemos no passado recente, com o povo indo para rua e protestando, reagindo ao desarranjo promovido na economia pelo Governo Dilma. Iremos para a rua novamente e exigiremos as medidas duras e necessárias de redução do tamanho do Estado para manter nossa inflação em patamares razoáveis?? Talvez esta seja a grande questão. Isto pode acontecer durante o período eleitoral no ano que vem, em torno de um candidato que se apresente e incorpore esta agenda, ou posteriormente resultando talvez em mais um processo de impeachment? Ou pode não acontecer, dependendo da retórica do momento podemos te um País dividido e sem união para lutar pela estabilidade econômica.
Ou seja, será preciso atenção, acompanhamento do cenário político e dos movimentos no Congresso Nacional, para se identificar o melhor caminho para nossas aplicações financeiras. Avaliar os riscos e perceber as assimetrias será fundamental para escolher quais serão os cavalos vencedores num cenário assim, teremos um 2022 e talvez até 2023 muito desafiador.