Kanban para uso pessoal

Sou formada em análise e desenvolvimento de sistemas e trabalho com times de desenvolvimento de software há quase 8 anos. Iniciei na área de testes onde fiquei por 6 anos, e desde então, estou atuando como analista de projetos com foco em metodologias ágeis.

O primeiro curso voltado a agilidade foi o Agile Expert da IGTI que foi um divisor de águas e um enorme empurrão nessa carreia, comecei a ler vários livros voltados a agilidade, até que decidi dar o primeiro passo rumo ao treinamento da KSD, e alguns meses depois, o KSI, recebendo a certificação KMP (Kanban Management Professional).

Mas de nada vale a certificação se no dia a dia não houver aplicação do que foi aprendido durante o treinamento, não é mesmo?

O fato de estar trabalhando nessa área facilita e muito a aplicação, mas precisamos comprovar o valor, e esse é o maior desafio!

E foi nesse desafio que o Kanban chamou a minha atenção, pois eu iniciei os estudos da agilidade com foco total no scrum (não que isso seja errado), mas para a realidade em que eu estava, não seria possível aplicar o scrum ao pé da letra, como a própria metodologia e o mercado pregam que tem que ser, e isso gerou uma certa frustração (repito que a “culpa” não é do scrum, e sim as necessidades do momento). O kanban, por outro lado, permite adaptações para que o processo atenda a cada necessidade, conforme David J. Anderson citou em seu livro ‘Kanban’:

“Você tem permissão para tentar Kanban. Você tem permissão para modificar o seu processo. Você tem permissão para ser diferente. Sua situação é única e merece o desenvolvimento de um processo adaptado e otimizado para o seu domínio, o seu fluxo de valor, os riscos que você gerencia, as habilidades de sua equipe e as demandas de seus clientes.”

Inclusive, nada impede de usar conceitos do Scrum com o kanban (indico o livro ‘Kanban e Scrum - obtendo o melhor de ambos’).

No dia 09 de Outubro desse ano eu recebi as chaves e iniciei a reforma do meu apartamento, e eu como agilista, utilizei tudo o que sei a meu favor 😊, afinal, não é porque a casa é de ferreiro que o espeto tem que ser de pau!

Criei um quadro kanban em uma plataforma virtual (existem muitas, mas já utilizei Trello, Notion, Miro, Jira, e Azure DevOps para este fim) com as colunas ‘Backlog’, ‘To do’, ‘In progress’ e ‘Done’

Comecei criando em backlog os cartões de user stories de tudo o que precisaria fazer, em sequência fiz duas perguntas:

- O que precisa estar concluído para que eu possa mudar o mais rápido possível?

- O que precisa fazer, mas que pode esperar e ser feito já morando lá?

(Dica: Crie proto personas, faça pesquisas para conhecer seu cliente/usuário, quais as necessidades e o que traz valor para ele. Isso é crucial para a criação da solução, gerando melhores user stories, entendimento de toda a equipe e, como consequência, sucesso nas entregas.)

Após responder essas perguntas, separei os cartões do backlog em sprints de acordo com a prioridade e dei início a evolução dos cartões.

OBS.: Quero salientar que esse exemplo foi algo pessoal, onde eu fiz o papel de várias pessoas cruciais que atuam junto dentro uma organização, eu sou o cliente final, o usuário, mas também fui UX/UI, PO, Agile master, Desenvolvedora em alguns momentos (sim, eu também coloquei a mão da massa literalmente), e Tester. Porém, dentro de uma organização é praticamente impossível atuar sozinho, cada função é importantíssima e exige alguém dedicado a ela, para que em equipe se construa um projeto integro, seguro e com qualidade. Caso contrário, gera sobrecarga física e emocional a longo prazo, e as chances de não conseguir fazer um e nem outro são grandes, reduzindo e muito a qualidade do projeto.

Com a primeira Sprint concluída (cartões voltados a pesquisas e orçamentos), eu obtive informações sobre prazos, sendo possível mensurar a data limite para um “MVP” (Minimum Viable Product), sendo ela dia 18/12/2021.

Sempre que eu pedia um orçamento, eu questionava sobre o tempo de trabalho e se conseguiria atender a data limite que eu precisava (isso era um fator muito importante para a  escolha do profissional), para que o atraso de um “cartão” não impactasse o início de outro, como por exemplo, eu precisava que o gesso fosse concluído até dia 03/12 pois estava programado o início da pintura para o dia 06/12, e a pintura teria que finalizar até dia 14/12, pois no dia 15/12 estariam instalando o piso.

Felizmente não tive problemas com as datas limites para a conclusão, mesmo com vários imprevistos e estresse de reforma surgindo, foi possível cumprir o prazo estimado para o MVP, ou melhor, para a mudança!

Os imprevistos, como o próprio nome diz, acontecem em todos os projetos, a questão é como lidar com ele para que as coisas continuem fluindo.

Benefícios que obtive utilizando o kanban:

- Organização: Quem nunca ouviu falar que reforma da dor de cabeça? Eu mesma falei muito isso, mas fico pensando em quanta dor de cabeça a mais poderia ter gerado se as coisas não estivessem planejadas e organizadas.

- Evidência: Muitas vezes falamos “é só arrumar isso”, “é apenas um ajuste ali” mas isso acaba crescendo e virando uma bola de neve. Com os conceitos dessa metodologia conseguimos evidenciar tudo o que saiu do escopo, que gerou gargalo, e contornar a situação antes que se agrave.

- Previsibilidade: Com ele conseguimos obter métricas, para uma previsibilidade mais assertiva, deixando o processo mais seguro.

- Reflexão: Começamos a ser mais criterioso aos detalhes, passamos a pensar mais na real necessidade, na complexidade, no objetivo principal e em soluções.

Mas... E para quem está começando agora na agilidade? Como aplicar o kanban sem um projeto específico?

A resposta para essa pergunta é o 1º princípio da própria metodologia: 

“Comece pelo que você já faz”

Comece pelo que você já faz no trabalho, em casa, nos estudos. Utilize a metodologia a seu favor para os afazeres diários.

Aos poucos, será perceptível a necessidade de incrementar melhorias, pois é uma constante para quem pratica kanban. Cada esforço de melhoria é uma tentativa, um experimento sobre o que funciona ou não, o que dá certo ou não. E justamente por não existir uma receita pronta, comece com o que tem, e busque melhorar um pouquinho de cada vez para uma evolução continua e incremental.