Líderes da ficção para se espelhar (ou não)

Líderes da ficção para se espelhar (ou não)

 

Personagens que transbordam liderança costumam ser a peça central para atrair a disputada atenção do espectador até o final do filme ou da série de várias temporadas. As pessoas precisam se identificar com alguém que está na tela, seja por se reconhecer no outro, ou se projetar nele.

Essa identificação estabelece vínculo humano e emocional indispensável para conquistar a simpatia da audiência. O líder carrega em seus ombros qualidades muito apreciadas e desejáveis, como ousadia, determinação, inteligência emocional, foco, inovação, entre outras tantas.

Logo, não é de admirar que quando uma produção ficcional consegue ser competente em encarnar em tela um símbolo inquestionável de liderança conquiste fãs e admiradores. Liderança cativa, inspira e transforma.

Por razão dessa capacidade de magnetizar a audiência, a ficção é repleta desses personagens que adentram o imaginário popular pelas incríveis habilidades de superar desafios, adversários e expectativas no papel de líder.

Mas é preciso separar o joio do trigo. Alguns ganham fama e admiração pelos motivos errados. Nem todos se baseiam em premissas legítimas ou ambientes críveis, ainda que possam ser associados ao nosso cotidiano.

Há personagens e histórias ficcionais que realmente têm algo a acrescentar na liderança que exercemos diariamente, mas não são tão abundantes conforme a quantidade de personagens afamados como líderes possa sugerir.

Por isso, decidi fazer uma lista do que considero como bons e maus exemplos de líderes na ficção.

Acompanhe.

Billy Beane: ele mudou o jogo

Todos os nomes que destaco nesta lista são conhecidos, porém, alguns são mais do que outros. Creio que Billy Beane de O Homem que Mudou O Jogo esteja na lista dos menos famosos por questão temporal. Lá se vão mais de 10 anos desde o seu lançamento nos cinemas neste caso verídico e não se trata do filme mais famoso do Superstar Brad Pitt.

Billy é manager de um time de beisebol dos EUA que amarga uma longa sequência de temporadas no lamaçal da derrota. Beane é um dos mais incomodados pela situação e sente-se desafiado a mudar essa trajetória de insucessos.

Para tanto, decidiu mudar de estratégia e apostar em uma suposta inovação no mundo do beisebol: basear suas escolhas de contratação de novos talentos com informações estatísticas fornecidas por um analista de resultados.

A condição de sua equipe era a seguinte: o time, por acumular fracassos, não dispunha de grandes orçamentos para contratar as estrelas da liga e precisava se contentar com “as sobras” dos outros times ou com novos talentos oriundos das universidades.

O grau de acerto precisava ser alto, pois uma aposta errada, não poderia ser substituída tão cedo. Para aumentar a precisão de suas escolhas, ele deixou de ancorar apenas em questões históricas, esportivas e intuitivas: ele adicionou a matemática nos seus critérios.

Ao lado do analista de resultados, Beane conseguiu desenvolver uma análise de desempenho mais apurada que o permitiu fazer uma seleção certeira e uma equipe vencedora.

Billy Beane é uma boa inspiração?

Sem dúvida!

Ele decidiu apostar em dados para reduzir a incerteza e aumentar o controle sobre a qualidade de suas contratações. Ele buscou na tecnologia e nas ferramentas do saber a disposição a inovação necessária para se destacar da concorrência.

Miranda Priestly: o diabo de Prada

Um dos papéis mais conhecidos de Meryl Streep e também é baseado em uma história real. Ela virou sinônimo de chefe que impõe respeito, segue ferreamente suas convicções e jamais desvia de seu foco.

Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada, é uma renomada editora de uma revista de moda de repercussão mundial.  Sua dedicação ao trabalho e o controle que exerce no ambiente de trabalho a faz uma profissional de destaque. Tudo segue o alto padrão que determina e isto garante uma linha de trabalho coesa e confiável.

Miranda Priestly é uma boa inspiração?

Não. É bom separar bons resultados de excelência. Priestly era uma profissional competente, mas era uma liderança nociva, pois estimulava um ambiente de competitividade tóxica.

O sucesso que obteve foi a custo de muitas turbulências internas que resultaram certamente na saída de profissionais qualificados por não suportarem a rotina de humilhações. Profissionais que poderiam agregar e conduzir o futuro da revista.

Sua maneira de conduzir poderia ter resultado em diversos problemas com a justiça do trabalho e criar enormes dores de cabeça para a empresa mesmo após sua saída. Existem formas e formas de sucesso.

O sucesso a qualquer custo com potencial de representar uma vitória de Pirro ou um sucesso sustentável, que deixe um legado a se reproduzir a longo prazo e não provoque desgastes institucionais.

O Professor: O chefe da casa

Vários aspectos da liderança do Professor de La Casa de Papel chamam atenção - independente de seus objetivos.

Ele tinha um objetivo claro e planejou detalhadamente por anos uma estratégia para imprimir 2,4 bilhões de euros de forma insuspeita e virar milionário. O Professor recrutou cada um dos 8 integrantes e, o que observo de mais interessante: aplicou conceito de Administração por Objetivos (Alfred Sloan-Peter Drucker) ao formar os grupos de trabalho.

Ele desenvolve centros de trabalhos multidisciplinares a partir das características de cada integrante. O Professor define metas para cada grupo e avalia o resultado para conduzir o plano central e macro.

É um método sagaz para conduzir um grupo grande de trabalho e realizar tarefas de alta complexidade.

O Professor é uma boa inspiração?

Certamente. Destaco não só o esmero de seu planejamento e organização, mas a sua relação interpessoal com a equipe. Ele transita pelas unidades de apoio inspirando confiança e demonstrando preocupação com cada integrante. Ele convence que trabalha em prol do coletivo, pois sabe que cada um exerce uma função importante para o sucesso do plano.

O Professor reúne qualidades de estrategista, recrutador, gestor de projetos e liderança inspiradora.

Dr. House: falso brilhante

O Dr. Gregory House, vivido por Hugh Laurie, é um médico genial capaz de diagnosticar transtornos raros e quase impossíveis com sua incrível capacidade analítica. Com o seu olhar de Sherlock Holmes e a obstinação para decifrar o enigma que representa o transtorno não diagnosticado de cada paciente, obtém resultados extraordinários que elevam a sua fama.

Sua competência é tão admirável que o hospital que trabalha decide criar um departamento especial para ele chefiar. Quando todos os filtros de análise são experimentados e não se obtém respostas conclusivas, o departamento de House entra em ação.

O médico ao longo das 8 temporadas foi decisivo para salvar vidas que certamente teriam sido perdidas se fossem levadas para qualquer outro hospital. House faz a diferença na vida das pessoas e apesar de seu gênio difícil, é admirado.

House é uma boa inspiração?

Definitivamente não. O Dr. House pode ser uma ótima engrenagem para garantir o funcionamento de uma estrutura organizacional voltada para atender ao público, mas é um péssimo líder.

Ele apesar de contar com uma equipe de ótimos profissionais, não confia no julgamento alheio, ultrapassa as barreiras pessoal/profissional e faz jogos psicológicos que instauram ambiente de trabalho doentio.

A sua falta de sensibilidade para com os colegas de trabalho, funcionários e pacientes o impedem de progredir na carreira e lhe gera diversos transtornos que o afetam pessoal e profissionalmente.

House, apesar dos resultados extraordinários que oferece, se demonstra uma bomba relógio. Seus desvios e abusos podem acarretar problemas que solapem os feitos incríveis como médico e afetar criticamente não só a sua carreira, mas a organização que trabalha.

Há outros personagens que sem dúvida merecem destaque, tanto positiva, como negativamente, mas fico por aqui para não me alongar demais. Talvez este post mereça uma parte 2. O que acham?

Deixem nos comentários e se há outros personagens que gostariam de citar. Até a próxima.


Faltaram o Coach Carter e o Capitao Nascimento.

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