A lógica do Cisne Negro, o coronavírus e as mudanças climáticas.

Nicholas Taleb, autor do livro "O Cisne Negro: o impacto do altamente improvável" escreve que não podemos prever uma crise com base nas últimas que ocorreram. É chamada assim por uma analogia, antes da descoberta da Austrália, o mundo todo acreditava que só existiam cisnes brancos. Bastou se deparar com o primeiro cisne negro para demonstrar a fragilidade do que se acreditava. E é com isso que ele baseia sua teoria, que é pautada em três pilares:

1. O Cisne Negro está fora do âmbito das expectativas comuns;
2. Ele exerce um impacto extremo;
3. Apesar de estar fora das expectativas comuns, após o evento, a natureza humana desenvolve explicações para sua ocorrência - tornando o evento previsível e explicável.

Tudo isso se relaciona com o momento que estamos vivendo: a pandemia causada pelo coronavírus. Foi um evento sem precedentes recentes, que atingiu o mundo todo com impactos extremos e acumula um número crescente de infectados. "Quem imaginaria que isso ia acontecer?". Mas, já há uma explicação para o evento. Claro, após a ocorrência de algo tão improvável.

O problema dos cisnes negros é que, quando eles ocorrem, nos tornamos especialistas em como se prevenir ou enfrentar um acontecimento semelhante. No entanto, a lógica é exatamente o contrário: se ocorrer um outro evento, ele vai ser fora das expectativas comuns.

Além de nos especializar em todas as técnicas de prevenção e enfrentamentos, estudamos toda uma lógica para explicar o evento e demonstrar que ele poderia ser evitado com alguma mudança simples, preventiva. Mas, não damos valor para atitudes preventivas.

Mas o que isso tem a ver com as mudanças climáticas? Tudo. A ciência climática demonstra, há tempos, que os riscos que poderemos sofrer com a mudança do clima podem ter um impacto extremo nas nossas sociedades. E podem ser, além de tudo, eventos inesperados.

Por outro lado, a ciência climática nos explica os métodos preventivos e de adaptação aos fenômenos. E, assim como nos aliamos à ciência e seguimos seus protocolos e orientações para enfrentar a pandemia, devemos seguir o que estão alertando há anos, sob riscos que estamos submetidos.

Mais do que a ciência, foi necessário que o Poder Político também demonstrassem, de forma ampla e acessível, quais os protocolos para a prevenção da doença: o isolamento e distanciamento social, o uso de máscaras, a limpeza das mãos, dentre outros que tanto escutamos nos últimos meses.

O enfrentamento da crise climática e seus riscos, iminentes e a longo prazo, não dá para se prever exatamente, é uma pauta muito além do meio ambiente. Não é focada em emissões, tanto é que esse foi o erro do Protocolo de Kyoto, mas sim em desenvolvimento sustentável, que relaciona a economia, a sociedade, a política e o ambiente.

Assim, um evento iminente, ainda mais climático e global, depende de fortes lideranças que cooperem com a ciência e queiram modificar a estrutura econômica de destruição dos recursos naturais. É tudo sobre liderança e política: sobre como aplicar o que a ciência já demonstra há anos. A sociedade tem seu papel importante nessa pauta: muito mais do que ações individuais, é preciso a transmissão de conhecimento de forma acessível, para que possamos escolher melhor os nossos líderes.

A crise causada pela pandemia de Covid-19 mostra claramente que a ciência, com a força de vontade política, pode realizar mudanças em nosso estilo de vida. Assim, os atores não-estatais devem exigir a reconstrução da economia de forma sustentável, respeitando o estabelecido em acordos internacionais e prezando por energias limpas e responsáveis.