Hipótese de Gaia, o planeta se defende do avanço do homem

Hipótese de Gaia, o planeta se defende do avanço do homem

"O ano de 2020, passou para história, devido a pandemia de Covid19, o aumento recorde da temperatura no hemisfério norte e do desmatamento da Amazônia, nuvem de gafanhotos na África e na América do Sul, incremento da atividade vulcânica no planeta e a constante ameaça de novas epidemias. Por vezes parece que o planeta tenta “acabar” com a humanidade... ou seria somente a resposta imunitária de um macro-organismo que se defende diante de um elemento que coloca em perigo toda sobrevivência do sistema planetário?”

Desde o começo da pandemia do vírus da covid19, muitos adeptos da teoria da conspiração, trataram de responsabilizar e estigmatizar a China como responsável direta e proposital do desequilíbrio mundial causado pela pandemia, em uma suposta tentativa de desestabilizar o sistema financeiro e dessa forma obter vantagens.

Algo sem dúvidas contraditório quando analisada a participação do gigante asiático nos fluxos de comércio e investimentos ao redor do planeta e na própria interdependência existente entre a dívida americana e a saúde financeira do país.

Sem embargo, as noticiais de que novos vírus poderiam se propagar desde a China, mesmo quando a origem do Covid19 não seja comprovada, foi motivo suficiente para chamar a atenção da comunidade científica. O quê leva a China a ser o epicentro de propagação de diversas epidemias?

A microbiologia e virologia explica em parte esse processo. A mutação dos vírus que existem no planeta (tais como o coronavírus) responde a fatores genéticos e ambientais. Esse processo natural pode sofrer alterações devido às mudanças sistemáticas provocadas por desequilíbrios ou novos fatores tais como a ação humana, levando a propagação das doenças.

Algo que sem dúvida aconteceu ao longo da história e que continua ocorrendo, tais como a chegada da gripe no continente americano durante a colonização ou das doenças tropicais nos países do hemisfério norte nos últimos anos. O incremento da mobilidade humana e seu avanço em distintos ecossistemas constituí a principal fonte dessa propagação a nível planetário.

Outros fatores tais como o uso indiscriminado de fármacos, mudanças nos sistemas de produção e uso de agrodefensivos entre outros. Geram desequilíbrios que somados podem fomentar a existência de micro-organismos e novas cepas de vírus, até então comuns e inofensivos, e transportá-los para novas latitudes onde seu desenvolvimento será diferente na tentativa de se adaptar ao novo meio.

A China como país com a maior população, diversidade de ecossistemas, grande penetração nos fluxos de produção e maior exportador do planeta, se transforma em um potencial cenário para essas mudanças.

Na grande maioria dos casos e graças a universalização dos sistemas de imunização e hábitos sanitários, os riscos são pequenos.

Porém em 2020 não somente o Covid19 foi notícia, mas uma série de eventos de proporções continentais, tais como as pragas de gafanhotos na América do Sul e África, o aumento da propagação de doenças como a Dengue, alterações meteorológicas em todo o planeta, incremento da atividade vulcânica etc.

Um panorama que muitos associam ao Apocalipse bíblico, mas que de fato já havia sido alertado e previsto pela comunidade científica (Rio92, Cop15,etc) ...

O planeta está no seu limite e como consequência desse desgaste e desequilíbrio, o clima será cada vez mais adverso, os recursos mais escassos e as dificuldades maiores.

O famoso Relógio do Fim do mundo criando em 1947 devido ao medo de uma guerra nuclear, hoje se aproxima da hora final devido aos reflexos da atividade humana no planeta e no ecossistema e sua incapacidade de chegar a um consenso em relação a proteção do meio ambiente e crescimento sustentável.

Nesse contexto a teoria biogeoquímica de James E. Lovelock ou também chamada Hipótese de Gaia (1972) oferece uma nova perspectiva do impacto desses eventos no planeta e do papel do ser humano neles.

Assim como o corpo humano está formado por distintas células e tecidos que trabalham em harmonia para a manutenção da vida dos indivíduos, a Hipótese de Gaia defende uma visão fisiológica ou inter-relacional dos fatores que permitem a vida no planeta. Dessa forma um desequilíbrio no macrosistema pode levar a uma resposta “imunitária” que visa restabelecer o equilíbrio e que consequentemente afeta a todos os elementos que compõe o sistema.

Assim como a Teoria de Tudo (Barrow, 1990) a Hipótese de Gaia, trata de estabelecer um paralelismo entre a biologia, geologia e química para compreender o equilíbrio que permite a vida no planeta e como este reage de forma encadeada, fazendo com que toda ação tenha sua reação mesmo que a pequena escala (Efeito Borboleta, Edward Lorenz 1963) buscando sempre restabelecer a normalidade e gerando uma ponte com a Teoria do Caos (Lorenz, 1963).

Sob essa observação, os acontecimentos de 2020 ganham uma nova dimensão, onde nada é de fato fortuito, mas interligado em termos científicos.

Pela amplitude que oferece a Hipótese de Gaia, muitos a interpretam como uma visão filosófica unificadora que confere ao planeta personalidade própria, sendo levada ao campo ideológico e teosófico.

Porém o princípio dela é a correlação de fatores e elementos dispostos a modo de um sistema complexo, onde o ser humano já não é o protagonista que domina a vida e a criação, mas um fator integrante desse sistema cujo desequilíbrio pode levar a sua própria extinção.

Independente da adoção da visão defendida pela teoria biogeoquímica ou não, é inegável que são as atividades humanas as principais causantes do desequilíbrio do planeta e que ela é vítima de sua própria ação. Assim como o planeta pode se recuperar, com o controle ou até mesmo a interrupção das atividades humanas (Basta lembrar dos canais de Veneza durante a quarentena na cidade italiana, onde outras espécies afastadas de seu meio natural, voltaram a recuperar seu espaço).

Responsabilizar a China pelos desastres do panorama internacional, sem considerar a mesma como parte integrante de uma comunidade internacional direcionada a exploração dos recurso planetários e o ápice da hipocrisia humana, principalmente quando essas críticas são elaboradas por pessoas que possivelmente usem um computador, celular ou equipamento fabricados na China para tecer sua crítica.

E ainda que não existisse a China, para manter o nível de consumo dos países desenvolvidos, caso este fosse global, seriam necessários nove planetas como a Terra para conseguir manter a demanda.

De modo que se existe algum fator que coloca em perigo o equilíbrio do ecossistema mundial ou de “Gaia” seria o próprio ser humano e este pode ser levado a sua própria extinção como resposta sistêmica do meio ambiente, não como uma entidade titânica dotada de inteligência mas como um macro-organismo que responde aos desequilíbrios causados por um vírus chamado homem.

Wesley S.T Guerra, artigo publicado pelo REDESS Rede Empreendedora de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável


 

Referências:

Adamo, M. Virología. Un Enfoque Integral de las Infecciones Virales Humanas. Barcelona. 2018.

Lorenz, Edward – The Essence of Caos, 1993.

Hawking, Stephen – O Universo em uma casca de Nóz, 2003.

Lovelock, J.; Bateson, G.; Margulis, L.; y otros (1989/1995). GAIA. Implicaciones de la nueva biología (3ª edición). Barcelona: Editorial Kairós 2010. 

Lovelock, James. Gaia - Cura para um Planeta Doente. 1ª Edição, Brasil, Editora Cultrix, 2006.

COP15 United Nations Climate Change Conference - Página oficial, visitada em 18 de julho de 2020.

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