A lógica do mercado e o impulso por uma cultura de inovação
Alguém pensaria em ganhar um jogo de pocker conhecendo somente as regras do buraco?
Os mercados existentes operam como um jogo de mesa. Todos os participantes conhecem suas regras e se destacam aqueles jogadores que as aproveitam melhor e assim se diferenciam dos demais.
O mercado tem suas regras estabelecidas e algumas barreiras que dificultam a entrada de um novo concorrente. Quando alguém entra, o faz com uma velocidade que dá tempo para as empresas que já atuam neste mercado reagirem.
Por isso, é muito difícil que um empreendimento incipiente como uma startup possa querer desafiar um mercado jogando com as regras existentes.
A solução para entrar de forma rápida e algumas vezes devastadora tem sido mudar a lógica de como atuar em um determinado mercado. Se o mercado está jogando buraco, as startups convencem o cliente de que poker é melhor.
É isso que vem acontecendo em inúmeros mercados, como o de mobilidade urbana, hospedagem, locação de filmes, bancos, etc.
Agora que as regras do êxito já não são eternas, ou pelo menos duradouras, e a lógica da reprodução contínua e da expansão está sendo invadida por disruptivas soluções, o que fazer?
Neste contexto, a inovação deixa de ser demandada apenas pelo impulso da diferenciação e crescimento, mas pelo primitivo instinto de sobrevivência. Não basta jogar com as regras existentes, tem que virar a mesa.
Há vários caminhos sendo percorridos pelas empresas tradicionais para gerar inovação. Comprar uma startup, ser sócio dela, implantar programas de atração de talentos que possam ser promotores da inovação e até a criação de novas funções dentro das organizações, são alguns exemplos.
Como o caminho da IKEA, cujo CEO afirma categoricamente que está criando e comprando várias startups cujo objetivo é “quebrar” a própria IKEA.
Contudo, para gerar inovação através da construção de uma cultura forte, é importante um conjunto de ações integradas.
É sobre esse processo que trazemos uma reflexão: ressignificar a importância de estratégias e ações integradas de crescimento e desenvolvimento.
Na lógica reinante de mercado vemos que grande parte do tempo, energia e investimentos vão para ações de crescimento, como a ampliação de mix, entrada em novos mercados, aumento de capacidade produtiva, etc. São ações muito importantes, mas jogadas com as regras do jogo atual dificilmente geradoras de inovação.
A capacidade de criar e de jogar novos jogos e com novas regras de mercado é diretamente proporcional aos impulsos da organização no desenvolvimento de competências exteriores e de capacidades interiores nas pessoas.
As ações de crescimento são essencialmente quantitativas e, portanto, mais fáceis de identificar e gerir. As ações de desenvolvimento são essencialmente qualitativas, ligadas ao desenvolvimento das pessoas.
É natural que no caminhar das organizações esse processo vai se desequilibrando e re-equilibrando, já que as pessoas precisam se desenvolver para que a organização se desenvolva.
A crise, então, torna-se um sintoma deste desequilíbrio, podendo gerar um impulso de mudança.
Neste contexto, são as empresas que consciente ou inconscientemente implantam ações de desenvolvimento organizacional capazes de equilibrar com as ações de crescimento, que geram aprendizado individual e coletivo e, assim, tornam-se capazes de alavancar o negócio.
Contudo, a implantação desta nova cultura de inovação pode encontrar sólidas barreiras.
Entendemos que o processo de desenvolvimento passa pela identificação destas resistências em seus variados níveis e pela criação de caminhos de gestão capazes de apoiar a construção da nova cultura.
Para isso, a nova cultura precisa ser percebida como uma peça a ser inserida em um mosaico, não em um quebra-cabeças. Mas qual a diferença?
Para inserir uma peça em um mosaico, é preciso retirar algumas outras peças e buscar um novo formato. Não é tão simples quanto inserir uma peça em um quebra-cabeças, que foi feito para encaixes os perfeitos.
Rodrigo Goecks e Fernando Lorenz