La La Land... é pra lá que eu vou!
La La Land poderia ser um filme de sonho e amor romântico. É isso mesmo! Mas tem mais, beeeeem mais. A obra começa já anunciando um dos conflitos filosóficos da narrativa: é só outro dia de sol.
Quantas adversidades e quantos problemas a vida nos desconforta a ponto de adiarmos sonhos e projeções pra dar conta da realidade? La La Land são ciclos da vida, são os processos pelos quais passamos a partir de uma enxurrada de decisões que precisamos tomar constantemente.
A linguagem Kitsch cheia de referências iconográficas do cinema nos leva pra um lugar ambíguo muito delicioso: ora realidade ora fantasia. É como se o diretor tivesse escolhido alguns filmes de que mais gosta pra brincar de fazer uma homenagem. Vocês sentem essa despretensão? Eu tive essa leitura, o que trouxe, pra mim, a percepção de uma obra leve, mágica e muito, muito poética! É um tanto difícil não se emocionar com a valsa de Mia e Sebastian flutuando de amor, porque a gente se envolve e acredita naquele estado de sublimação.
A metalinguagem que o diretor usa pra recontar a história com diferentes finais serviu pra nos dizer que há inúmeras possibilidades e inúmeros caminhos pra gente seguir na vida se a gente sempre considerar uma situação condicional: E se...
E se a peça da Mia tivesse sido um sucesso com Sebastian na primeira fila? E se... Mia não tivesse fugido do trânsito por um atalho e encontrado, ocasionalmente, um Clube de Jazz?
Você já lançou um "e se..." na sua vida HOJE? Quantas novas respostas surgem à sua mente?
Eu tentei ser socialmente correta e gostar de Moonlight. Mas não consegui. Acho o filme ruim. São muitos silêncios forçados nos diálogos e muitos lapsos na narrativa sem uma função dramatúrgica que se justifiquem.
Moonlight tem sim um peso enorme para as sociedades mundiais hoje ao trazer à tona os conflitos do negro gay com a mãe drogada.
Diante dessa onda conservadora que estamos sendo obrigados a viver (para alguns, reviver), Moonlight tem sua importância, mas não confere, pra mim, qualidade cinematográfica.
Recorto de Moonlight 2 lindas cenas: a metáfora pra vida e pra sobrevivência quando Raymon (o Dusk de House of Cards, by the way) ensina Chiron a nadar; e uma rápida passagem de tempo (que pode passar despercebida), mas que mostra Chiron na aula de dança do colégio. Aquele instante é como se fosse um sopro de pertencimento do garoto.
Em todas as ausências que a vida lhe entrega, Chiron se encontra naquele passo de dança. É praticamente uma tentativa de construir a sua identidade distante daquela atmosfera exclusiva e preconceituosa. Só que Chiron reúne todos os adjetivos "não aceitáveis" pela sociedade, tornando-o invisível.
Essa invisibilidade, mesmo que atribuída por diferentes razões, eu também encontro em Mia e Sebastian.
Afinal, quem é Mia, a barista do café da Warner? E quem é Sebastian, o cara que toca a "música de fundo" do bar?
Certamente La La Land não carrega a densidade dramática de Moonlight, mas sintetiza, em conjunto, uma construção muito arrojada na direção e em toda a ficha técnica. Eu só faço aqui essa comparação de obras, porque ambos foram julgados pelo mesmo critério - de melhor filme - no Oscar de 2017.
Tendo em vista a avalanche de críticas que a Academia recebeu em 2016 pela também invisibilidade das obras de temática racial e pela ausência de atrizes e atores negros nos indicados, penso que o prêmio pra Moonlight foi estratégico.
Agora vamos voltar pro sonho? Porque na lua de La La Land, o que mais brilha é o amor.
É lá que eu quero ficar. E vocês?