A lição de Nala
Como a minha rotina é super tranquila, equilibrando as demandas de dois filhos, um marido, a gestão da casa, os projetos da empresa e o meu desempenho direto em num trabalho ininterrupto de três turnos diários e eu não tenho mais nada pra fazer (sim, essa frase contém ironia), resolvi acolher mais um serzinho para o nosso lar e ganhei uma filha adotiva, que veio a virar a irmã da nossa pug gulosa Jackie Vegas. Deveria ter assumido mais uma responsabilidade? Não. Eu sabia disso? Sim. Segui a razão ou o coração? Bom, imagina só…
Não adianta lutar contra quem somos: eu virei essa pessoa que gosta não só de dar amor, mas de promover felicidade.
Vou contar a história: a Nala é um spitz alemão (também conhecido como Lulu da Pomerânia (que, aliás, é uma região histórica e geográfica situada ao Norte – adivinha? – da Alemanha e da Polônia, à costa do Mar Báltico). Vem de uma longa linhagem de cães perfeitos, com certificado de pedigree e aquela coisa toda. Mas, definitivamente, não foi por isso que a escolhi. Eu a escolhi porque ela passou os seis anos da sua vidinha (no diminuitivo mesmo, porque ela tem apenas 20 cm de comprimento) cruzando, gestando e parindo, em um ciclo sem fim de reprodução. E a Nala era uma fêmea matriz. Eu nunca havia pensado muito sobre isso, até que a foto dela surgiu em minha tela do celular, sendo oferecida para doação. E eu pensei “oi?”. Esse cachorro que é caro para caramba vai ser dado, assim, no mais?
Sim, era isso mesmo. Nala cumprira o seu papel social e não tem mais utilidade: ficou velha para procriar. Do alto dos seus seis anos de vida completados hoje, ela já não serve mais. Logo, será excluída do seu mundo. Qualquer semelhança com a realidade dos humanos não é mera coincidência. Talvez tenha sido exatamente isso que me atingiu.
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Você bem deve saber como as mulheres vêm lutando para “derrubar a parede” que é o envelhecimento. O etarismo é muito mais contundente sobre o gênero feminino. A própria menopausa, até pouco tempo, ainda era vista quase como uma sentença de morte da mulher, como se a impossibilidade de gerar filhos a excluísse como opção sexual e a “jogasse para escanteio” na sociedade.
Felizmente, vivemos em um momento de “sair da caixa”, do desenvolvimento de tecnologias para a saúde, de intensa busca por uma melhor qualidade de vida. Vivemos, talvez, em um tempo sem parâmetros, de quebra de certezas. O mundo virou de cabeça pra baixo e, sim, nós viveremos muito mais e muito melhor. Logo, o próprio envelhecimento está sendo repensado, e eu ouço cada vez mais “idosos”(coisa mais despropositada é chamar alguém com mais de 60 anos de idoso, mas ok) dizendo “eu sou apenas jovem há mais tempo”. Eu acho isso tão lindo!
E foi por isso que a Nala veio parar aqui em casa.
Parabéns não só pelo seu aniversário, mas pelo início da sua nova e feliz vida, Nala London. Uma vida de contemplação e muito, muito amor. Porque fins podem, sim, ser apenas novos começos.