LIÇÕES PARA CENÁRIOS DE INCERTEZA

LIÇÕES PARA CENÁRIOS DE INCERTEZA

As duas parábolas que trago neste artigo, enfatizam a importância de reconhecer quando as circunstâncias mudam sendo necessário ajustar a rota, destacam a importância da adaptabilidade, inovação e gestão de riscos ao enfrentar a volatilidade do mundo em que vivemos, como é importante abandonar o que não mais funciona e ter coragem para explorar novas oportunidades.

 

O NAVIO E O CAPITÃO

Era uma vez um grande navio, admirado por todos no porto por sua robustez e navegação tranquila. O capitão, que comandava o navio há décadas, sempre seguia a mesma rota. Ele tinha um mapa antigo, que seu pai e avô também haviam usado. Durante anos, essa rota os levava aos portos mais lucrativos, garantindo prosperidade para todos a bordo.

Os marinheiros confiavam plenamente no capitão e acreditavam que ele sabia o que estava fazendo. Afinal, a tradição da família e o sucesso passado eram prova de sua competência. Mas, com o passar dos anos, o clima começou a mudar. Tempestades imprevisíveis surgiam do nada, as correntes marinhas mudavam e alguns dos portos lucrativos, outrora cheios de mercadorias, agora estavam vazios.

Os marinheiros começaram a murmurar, perguntando se o mapa ainda era confiável. Mas o capitão, confiante em sua experiência e na tradição, ignorava os sinais de mudança. "Já passamos por tempestades antes, tudo se resolverá com o tempo", dizia ele.

Até que um dia, o navio foi atingido por uma tempestade colossal. Ondas gigantes bateram contra o casco, e o vento rugia tão forte que a tripulação mal conseguia se segurar. O capitão tentou seguir o mapa como sempre, mas as águas o empurravam para outra direção, para territórios desconhecidos.

A tripulação, apavorada, pediu ao capitão que procurasse abrigo e ajustasse a rota. Mas ele insistiu: "Este mapa nunca falhou antes. Não podemos abandonar o que sempre funcionou."

Mas a tempestade só piorava, e o navio estava à beira de naufragar. Foi então que um jovem marinheiro, com menos anos de experiência, mas com um olhar atento para as estrelas e as correntes, propôs uma solução. "Capitão," disse ele, "talvez o mapa antigo não leve em consideração as novas correntes e os ventos que mudaram. Podemos usar as estrelas para navegar por este novo território, ajustar nossas velas e explorar novas rotas. Pode ser arriscado, mas é nossa única chance de sobrevivência."

Relutante, mas percebendo que o velho mapa não funcionava mais, o capitão deu sua aprovação. A tripulação ajustou as velas e seguiu a nova orientação. Embora a nova rota fosse desconhecida, o navio finalmente encontrou águas calmas e um novo porto, cheio de oportunidades que nenhum deles havia imaginado.


O RIACHO E O PESCADOR

Havia um pescador que, por toda sua vida, pescava em um pequeno riacho. Desde criança, ele aprendeu com seu pai como lançar a rede e pegar peixes com facilidade. O riacho era farto, e os peixes vinham em grande quantidade, dia após dia. Ele conhecia cada curva da água, cada pedra, e sempre retornava para casa com uma boa pesca.

Com o passar dos anos, no entanto, o riacho começou a mudar. As chuvas diminuíram, o nível da água baixou, e os peixes começaram a desaparecer. O pescador tentou os mesmos métodos que sempre funcionaram, mas a cada dia que passava, ele voltava com menos peixes.

Certo dia, ao lado do riacho, ele encontrou um viajante. O homem estava observando o pescador, e após um tempo, disse: "Por que você continua a pescar aqui se os peixes não são mais abundantes?"

O pescador, confiante na tradição que aprendera de seu pai, respondeu: "Este é o meu lugar, sempre pesquei aqui. Se eu for persistente, os peixes voltarão."

O viajante, então, sugeriu: "Já pensou em tentar o rio que fica a poucos quilômetros daqui? Ele é maior, mais profundo, e ouvi dizer que os peixes são abundantes lá."

O pescador, hesitante e desconfiado, respondeu: "Eu conheço este riacho como a palma da minha mão. Não sei como pescar em rios maiores, e quem garante que haverá peixes por lá?"

O viajante sorriu e disse: "Nada é garantido, mas o mundo muda, e às vezes, precisamos mudar com ele. Se você ficar aqui esperando que tudo volte a ser como era antes, poderá perder a oportunidade de descobrir algo melhor."

Ainda incerto, mas cansado de voltar de mãos vazias, o pescador decidiu arriscar. Caminhou até o rio, um lugar que nunca havia explorado antes. Lá, encontrou águas mais profundas, correntes mais fortes e peixes maiores do que jamais imaginara. Com o tempo, ele aprendeu a pescar no novo rio e prosperou, adaptando-se ao novo ambiente.

 

A partir destas duas parábolas, traço uma análise com base em lições importantes que aprendi na aula Conselhos de Alto Impacto e Visão de Futuro com o professor de Governança Corporativa no Programa de Formação e Certificação de Conselheiros da Board Academy, Eduardo Gomes sobre "Como Agir em Cenários Incertos".

1. MANTER-SE SEMPRE CURIOSO

Parábola do Navio e o Capitão - O capitão inicialmente não demonstrou curiosidade, preferindo confiar no mapa antigo. No entanto, o jovem marinheiro, ao observar as estrelas e sugerir uma nova rota, incorporou um mindset de curiosidade. Ele se questionou sobre novas formas de navegar e se manteve aberto a aprender com o ambiente.

Parábola do Riacho e o Pescador - O pescador relutante não demonstrou curiosidade, preferindo seguir sua rotina, enquanto o viajante (que podemos associar à figura do Conselheiro), trouxe a curiosidade ao perguntar: "Por que você continua aqui se os peixes não estão mais presentes?"

Lição: Em ambientes incertos, a curiosidade abre portas para novas soluções. Ou seja, a curiosidade é a chave para descobrir novas oportunidades e resolver problemas antigos.

 

2. NÃO SER PERFECCIONISTA E TER TOLERÂNCIA À AMBIGUIDADE

Parábola do Navio e o Capitão - O jovem marinheiro não esperou que o ambiente estivesse perfeito para sugerir uma solução. Ele sabia que a tempestade impunha uma tomada de decisão rápida, mesmo sem todas as garantias. A busca pela perfeição poderia ter levado o navio ao naufrágio.

Parábola do Riacho e o Pescador - O pescador que aceitou a sugestão do viajante sabia que o novo rio não era uma garantia perfeita de sucesso, mas agiu com base naquilo que podia controlar. A tentativa de manter tudo sob controle e perfeito teria resultado em uma situação de escassez.

Lição: Em tempos de incerteza, é importante agir sem esperar pela perfeição. Tomar decisões baseadas em informações incompletas é melhor do que não agir em ambientes de mudança.

 

3. TER VISÃO ABRANGENTE

Parábola do Navio e o Capitão - O capitão inicialmente tinha uma visão limitada, focando apenas no mapa que ele conhecia, enquanto o marinheiro possuía uma visão mais ampla, incorporando a leitura das estrelas e uma perspectiva maior do ambiente ao redor.

Parábola do Riacho e o Pescador - O pescador insistia em pescar em um ambiente familiar, enquanto o viajante enxergava o cenário mais amplo, considerando que havia outros rios e fontes de peixes disponíveis.

Lição: Uma visão sistêmica e ampla do ambiente permite que se vejam oportunidades que os outros, focados em um único ponto, podem perder.  Em cenários incertos, é essencial ver o "todo" e não apenas as partes que lhe são familiares.

4. ABERTURA À EXPERIMENTAÇÃO

Parábola do Navio e o Capitão - O capitão hesitou, mas ao confiar no marinheiro, permitiu-se experimentar uma nova abordagem de navegação. Esse teste, embora arriscado, foi necessário para encontrar uma solução em um cenário de incerteza.

Parábola do Riacho e o Pescador - O pescador que aceitou o desafio de ir ao rio maior precisou experimentar um novo método de pesca. Ele não tinha garantias, mas estava disposto a tentar algo diferente para ver o que funcionaria.

Lição: A disposição para experimentar novas estratégias é essencial, mesmo em cenários incertos deve ser constante.A experimentação é um meio de descobrir o que pode funcionar em um cenário volátil.

 

5. USO DA INTELIGÊNCIA COLETIVA E DIVERSA

Parábola do Navio e o Capitão - O capitão inicialmente ignorou a inteligência coletiva, confiando apenas em sua própria experiência e no mapa antigo. Foi o marinheiro, com uma perspectiva diferente, que contribuiu com uma solução valiosa, demonstrando o poder da diversidade de pensamento. A narrativa persuasiva do marinheiro foi crucial para que o capitão tomasse uma decisão difícil. Em cenários incertos, líderes precisam saber contar uma história convincente com base em dados para mobilizar a equipe.

Parábola do Riacho e o Pescador - O pescador só foi capaz de mudar sua situação quando aceitou o conselho do viajante. A perspectiva externa do viajante ofereceu uma visão que o pescador não tinha, levando-o à descoberta de uma nova fonte de sucesso.

Lição: Compreender que a colaboração e a escuta de pontos de vista diversos são essenciais para resolver problemas complexos é uma expertise das organizações que adotam um Conselho Consultivo para trazer essa diversidade de visões.

 

6. USAR NARRATIVAS DE LÓGICA E PERSUASÃO PARA OBTER AÇÃO

Parábola do Navio e o Capitão - O jovem marinheiro usou uma combinação de lógica e persuasão para convencer o capitão a mudar de estratégia. Ele apresentou fatos (a posição das estrelas e a situação do mar) e ofereceu uma solução prática, persuadindo o capitão a agir.

Parábola do Riacho e o Pescador - O viajante utilizou uma narrativa lógica e persuasiva para fazer o pescador refletir. Ele apontou os fatos: o rio maior tinha mais peixes, enquanto o riacho estava secando. O pescador só mudou de ideia após ser convencido pela clareza da argumentação. A persuasão do viajante, usando uma lógica clara e uma narrativa de ação, foi essencial para que o pescador decidisse tentar algo novo.

Lição: Em cenários incertos, líderes precisam saber contar uma história convincente com base em dados para mobilizar a equipe. Narrativas de lógica e persuasão são poderosas ferramentas para motivar a ação diante da incerteza.

 

Conclusão

As parábolas do “Navio e o Capitão” e do “Riacho e o Pescador” nos proporcionaram exemplos valiosos sobre como aplicar os seis mindsets em cenários de incerteza. A curiosidade, a experimentação, a visão abrangente, a abertura à imperfeição, o uso da inteligência coletiva e a narrativa persuasiva se revelam como habilidades essenciais para navegar por ambientes voláteis.

Para nós que participamos de Conselhos Consultivos atuando num mundo em constante transformação, a capacidade de adaptação e persuasão, fundamentada em fatos, se torna um diferencial. Abraçar a inovação e a colaboração, enquanto se mantém aberto a novas ideias e perspectivas, é a chave para o sucesso em tempos de mudança.


Referência:

Apresentação Eduardo Gomes sobre Conselhos de Alto Impacto e Visão de Futuro, PFCC, Board Academy Br

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