As lições que não queremos são as mais importantes
Desde muito jovem sentia que tinha obrigação de ser uma versão melhor de mim mesma e que para isso deveria aprender e me desafiar sempre que possível.
Mas também nunca fui o tipo de pessoa que sentava para estudar horas e horas a fio ou fazia coisas muito arrojadas.
Eu sou uma pessoa prática e as explicações muito teóricas me deixam confusa e sem muita paciência para entender. E tenho bom senso para manter os pés no chão.
Também percebi que entender as questões da vida, como as relações interpessoais e os aspectos de minha psiquê eram desafiadores pela dificuldade que tinha de torná-los palpáveis. Essa foi a faísca da minha paixão assunto e desejasse me aprofundar sempre.
Quando entendi que poderia aprender com a experiência das outras pessoas e minha experiência poderia servir para ensinar alguém, percebi que havia encontrado a minha trilha e propósito. E é por esse motivo que divido com você um dos momentos mais difíceis da minha vida.
Mas, antes, porém, uma pequena introdução sobre meu aprendizado na prática.
Depois de anos de autoavaliação independente, decidi fazer aulas de yoga. Já havia praticado diversa atividades físicas e achava que o yoga era parado e aborrecido, mas sentia que deveria pelo menos experimentar.
E essa decisão foi divisor de águas da minha vida pessoal e profissional. Questões de ordem “filosófica”, tal como “o seu ego vai te atrapalhar”, ganharam vida e exemplos práticos, que me permitiram entender como isso funcionava.
Enquanto eu estivesse tentando alcançar uma postura apenas para satisfazer minhas necessidades competitivas, eu não conseguiria fazê-la de jeito nenhum. Ela somente fluiria quando eu tivesse me entregado totalmente, sem vaidade e sem competição. E eu entendi que essa regra igualmente se aplica para a vida fora do mat (tapete de yoga).
Porém, a lição que mais faz sentindo para mim, principalmente em épocas tão desafiadoras como estamos vivendo no Brasil é que as posturas que você tem mais dificuldade são aquelas que você precisa praticar mais. Parece óbvio? Dificuldade não quer dizer aquelas posições acrobáticas do Cirque Du Soleil, mas sim, aquelas que lhe causam desconforto, como no meu caso, uma simples permanência.
Evitava as aulas nas quais havia muita permanência (cerca de 1 a 2 minutos imóvel) assim como evitava ter conversas difíceis com meus chefes ou tomar uma decisão importante, mas que me causava incômodo.
Fazemos isso o tempo todo, não? Porém, a grande lição que meu professor de Yoga me passou é que eu deveria insistir até que essa postura se tornasse mais confortável. E isso realmente acontecia.
É de nossa natureza tentaremos evitar as potenciais situações que nos causam dor. E mesmo quando não há jeito e precisamos enfrentá-las, entramos em um processo de negação, frustração e raiva. Mas são dessas situações que extraímos as lições mais valiosas.
Neste mês de setembro, comemoro o meu aniversário. Uma data incrivelmente feliz para mim, porém desta vez foi muito triste. Perdi o meu pai há poucos meses. Você pode imaginar o que foi celebrar sem ele. Era o dedo em uma ferida aberta, uma batalha que travo todos os dias silenciosamente, mas que em determinadas datas lateja mais forte.
Meu pai era um cara incrível! Era meu herói, meu exemplo e meu porto-seguro. Não escondo a admiração que tinha por ele.
De verdade, nunca experimentei uma dor tão insuportável e não estava nem de longe pronta para isso. Aliás, quem está, não é?
Mas o baile segue. E você tem que seguir também. Ninguém vai te esperar por muito tempo. Cobranças, obrigações e a vida te cobra uma reação.
O luto é um processo natural do ser humano já que temos consciência da morte e porque estabelecemos laços profundos com aqueles que amamos.
Passamos por um tipo de luto cada vez que perdemos algo/alguém muito importante.
Posso dizer sem medo de errar que para aqueles que perderam seus empregos, o período é de luto. Eles precisarão fazer as pazes consigo mesmos, aceitar a frustração, a perda e encontrar uma forma de continuar.
Eu tenho sorte de ter uma formação, conhecimentos e pessoas que me ajudaram a trabalhar essa questão em mim. Eu e todos que enfrentam uma perda temos dois caminhos: desistir ou enfrentar.
Desistir é sucumbir a dor e tornar-se uma sombra de quem sou. E eu não vou fazer isso. Enfrentar um revés desse naipe significa assumir a minha responsabilidade na situação toda.
E você me pergunta: qual a responsabilidade de uma pessoa quando outra morre? Ou quando é demitida , ou acontece um acidente, outras tantas situações que parecem obra de um destino caprichoso e impiedoso.
Responsabilidade nesse contexto quer dizer o que você tem que fazer a partir desse momento, depois que o fato ocorreu.
Existe a responsabilidade antes do ocorrido, que é outra coisa. Se você fez todo o seu possível e nada adiantou, não significa que sua tarefa acabou. É sua função se perguntar: o que a vida está tentando te ensinar? O que você pode aprender com tudo isso? Como você pode usar esse aprendizado a seu favor?
Eu fiz e faço isso. E se esse texto é para te trazer algum aprendizado, eu te recomendo que faça isso também.
Isole-se um pouco do mundo, separe uns minutinhos para essa reflexão. Tente colocar os sentimentos de lado e faça as perguntas acima. Espere em silêncio pela resposta. Reze, se você achar que precisa. Repita as perguntas algumas vezes, a resposta virá. Acredite em sua mente, acredite na sua espiritualidade.
O universo está te dando uma chance de ser um pouco melhor do que foi ontem.
Meu pais me ensinou muita coisa, moldou o meu caráter, me ajudou a conquistar muitas coisas desde os desafios mínimos como aprender a nadar como outros objetivos maiores.
E definitivamente, essa sua última lição é a mais dolorosa e a mais valiosa. Ao ressurgir desse revés espero ter aprendido o que preciso aprender.
Celebro todo o seu legado e sua vida, mantenho dois pensamentos fortalecedores que estão me ajudando nesse momento: que um dia vamos nos encontrar em outro plano e que por enquanto eu quero que ele se orgulhe de mim assim como eu sempre me orgulhei dele.
Para você, que me lê com o coração apertado, cerque-se de pensamentos fortalecedores, mesmo que nas situações mais desfavoráveis e você verá o poder que tem dentro de si.
Seja mais!