Liderança feminina: soft skills das mulheres são diferencial competitivo
No entanto, elas ainda têm um longo caminho para percorrer: Fórum Econômico Mundial projeta que serão necessários 267 anos para acabar com a diferença de gênero nas empresas
Até pouco tempo, as noções de lideranças remetem às características do perfil masculino, hierárquico e militarista. No entanto, esse modelo gerador de resultados também culminou em degradação ambiental, quebra social, estresse, depressão, entre outras questões problemáticas.
Mudanças no perfil do líder já estavam em curso e com a pandemia, as chefias perceberam que adotar um novo comportamento para engajar a equipe havia se tornado uma urgência.
Era necessário adotar um perfil de líder voltado para desenvolver a consciência de cuidar da vida integral das equipes, estimular a criatividade e promover as relações de trabalho de forma mais humanizada, visando a sustentabilidade das corporações, bem como a saúde emocional de cada um.
Num momento em que a própria humanidade está em processo de transformação, as lideranças precisam abrir espaço ao diálogo e conscientização para que as competências masculinas e femininas sejam complementares, na construção de empresa produtiva e com ambiente flexíveis e mais saudáveis, equilibrando lucro e felicidade no trabalho.
As necessidades do mundo moderno alteraram o perfil da liderança, na visão de Sonia Rossi, gerente de desenvolvimento humano e organizacional da Coroaves, empresa sediada em Maringá. “Hoje procuramos líderes com mais autoconhecimento, revendo suas crenças e modelos de gestão, se colocando não mais como “comandante”, mas como alguém que entende o poder, o saber e que é capaz de compreender a capacidade da equipe em participar da jornada do crescimento e inovação da empresa. Não aquele líder que só está preocupado em entregar metas e sem estar a serviço do mundo. A liderança se tornou mais empática e sem deixar de ser orientada por resultados reinventou-se, com base em características e habilidades, normalmente, inerentes às mulheres”, afirma.
Para Clodoaldo Oliveira, diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, a liderança feminina é um tema central de debate nas grandes companhias. “A diversidade e a inclusão fazem parte da pauta dos Conselhos de Administração e esses temas estão no centro da discussão sobre o futuro, sobre a contribuição das organizações na construção de um mundo melhor, mais justo, com menos desigualdade. E esse fenômeno reflete no crescimento das mulheres na liderança”, opina.
Como podemos definir a liderança feminina
A liderança feminina é um termo que designa o papel da mulher em posições de comando não apenas nas empresas, mas também em entidades públicas e em funções governamentais. E é importante falar sobre o assunto num momento em que as mulheres respondem por 27% do total de cargos de liderança no mundo todo, conforme dados do relatório Global Gender Gap Report 2021, do Fórum Econômico Mundial.
A participação das mulheres no mercado de trabalho está crescendo de forma exponencial e pode ser explicada por algumas razões, como aumento da escolaridade, informatização da economia e a luta por direitos iguais entre os gêneros.
No entanto, apesar das conquistas femininas nos últimos anos, a caminhada ainda é longa para que elas estejam em pé de igualdade com os homens na tomada das decisões corporativas. Nos Estados Unidos, numa lista apresentada pela Fortune, apenas 4% das mulheres aparecem em cargos de liderança.
Além disso, segundo projeção do Fórum Econômico Mundial, serão necessários 267 anos para acabar com a diferença de gênero no que diz respeito à participação econômica e de oportunidades.
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Pesquisas demonstram importância da liderança feminina
Na contramão do que assistimos no mercado de trabalho, estatísticas comprovam os benefícios da liderança feminina para as empresas. Na América Latina, o relatório Diversidade Importa - conduzido pela consultoria norte-americana McKinsey em 2020 - aponta que organizações com diversidade de gênero têm 14% mais chance de melhor performance financeira em relação às concorrentes.
E não é apenas no balanço e no caixa que a diversidade de gêneros contribui com as empresas. “A presença das mulheres em posições de tomada de decisões, sejam como CEOs ou Conselheiras, é fundamental para companhias mais sólidas e saudáveis, além de contribuírem com a inovação, motivação e retenção de talentos”, comenta Clodoaldo Oliveira.
Especialistas acreditam ainda que as características das mulheres fazem a diferença na alta gestão corporativa. “É uma mescla interessante e que traz muitas vantagens em comparação à visão de mundo predominantemente masculina. As lideranças femininas têm outra perspectiva em relação à orientação das pessoas, cooperação, inteligência emocional, empatia, criatividade e liderança horizontal”, avalia o diretor executivo da JValério.
Os desafios das lideranças femininas
Soni Rossi acredita que existe ainda um estigma sobre a qualificação das mulheres para alguns cargos. “As mulheres costumam ter mais oportunidades na empresa familiar, em programas de sucessão, quando são observadas como pessoas e não sob a perspectiva do gênero. Já em grandes empresas, notamos que, os modelos de governança corporativa, ainda não estão oportunizando trilhas de desenvolvimento para que as mulheres ascendam a cargos da alta Gestão e Presidência. No entanto, mulheres têm softs skills mais adequadas ao modelo de gestão do mundo atual e futuro. São mais antenadas com o cuidado humano, empatia, com os detalhes e o capricho que o Cortella fala. Muitos homens, por sua vez, ainda se caracterizam por baixa escuta e autoritarismo”, avalia Sonia.
Ela acrescenta que, principalmente em países em desenvolvimento, com modelos machistas, muitas contradições sociais e baixo nível intelectual, isso se torna pior. “Em países com muitas desigualdades, o posicionamento da mulher no mercado de trabalho é ainda mais difícil”.
Como se tornar uma líder inspiradora?
Sonia Rossi acredita que as mulheres precisam ser mais ousadas e mostrar que estão preparadas para os cargos. “Elas devem mostrar que são atualizadas, trabalhar com dados analíticos, demonstrar embasamento teórico, respaldo científico, tomar como referência o melhor autor do universo acadêmico para ter comunicação clara, negociadora e consistente. Dessa forma elas estarão abastecidas com argumentos e conseguem influenciar e validar sua opinião e soluções necessárias, em todos os campos, sugere a gerente de desenvolvimento humano e organizacional.
A formação continuada é mais um caminho que deve ser uma prioridade para o público feminino que deseja seguir a carreira executiva. “Elas devem estudar os modelos de negócios, preocupar-se com a experiência do cliente e conhecer muita gente. Gostar de gente e ter liderança inspiradora orientada por propósito. Por meio de uma gestão competente aumenta o sentimento de pertencimento das equipes. Enfim, ser um eterno aprendiz, arquiteto da realização, produtividade e felicidade humana. Esse caminho, que por vezes é fácil de falar, exige muita sabedoria para aplicar e isso, invariavelmente, passa pela educação”, pontua Sonia.