Lidere a sua vida: quem reclama perde

Lidere a sua vida: quem reclama perde

Vou contar uma história muito curiosa da época em que eu era nadador. E que me gerou um aprendizado para a vida.

Em 1992, quando eu tinha 19 anos, fui para a Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Quando comecei a me destacar, tive propostas de algumas instituições americanas, conheci algumas e optei por essa. Eu estava matriculado no curso de Economia, no qual, como se sabe, me formei.

Quando cheguei, claro, tive um período de adaptação. De conhecer as pessoas, como treinavam, como se relacionavam. Mas, assim que isso passou, aliado a bons resultados que eu tive, confesso, comecei a ficar mais à vontade e com as asinhas de fora.

Teve uma época em que eu vinha meio desconfortável com algumas coisas. Acho que eu andava muito reclamão. Nunca fui assim, sempre fui um cara discreto e dos mais quietos das turmas, mas acho que estava meio estressado.

Um dia, então, cheguei para treinar. Não estava nos meus melhores dias. O dia estava meio gelado, com a temperatura mais baixa. Eu entrei no parque aquático, coloquei o dedo na piscina, chamei meu técnico e disse:

"Não vou treinar hoje."

Ele não deu muita bola. Apenas virou para mim e perguntou: "Por quê?"

"A piscina está fria. Não vou treinar", eu enfatizei.

Depois de muitos anos de experiência, eu achava que o meu dedo era um verdadeiro termômetro. Parece que eu havia adquirido uma habilidade incrível de sentir a temperatura da água da piscina. Naquele dia, não deu outra. Fiz o teste e não estava quentinha, mesmo, como eu queria.

Pois bem. Para piorar essa situação, eu não estava sozinho na reclamação. Não que outros também tivessem feito a mesma coisa, no entanto. Eu os induzi a seguir a minha postura.

Quando resolvi que ia reclamar da temperatura da piscina, logo pensei que precisaria de apoio. Então, sorrateiramente, eu cheguei em um colega, em outro, em mais um e expliquei o que queria fazer. Eu, claro, queria que outras pessoas estivessem do meu lado. Criei um motim.

Nem assim o meu treinador se sentiu pressionado.

"Escuta, Gustavo...", ele disse. "Deixa eu te fazer uma pergunta: ontem, quando você treinou, a piscina estava fria?"

"Sim, estava."

"Muito bem", ele continou, com uma calma que estava me deixando ainda mais irritado. "E você treinou?"

"Sim."

"E o treino foi bom?"

"Sim, foi bom."

"Muito bem. E por que você está aqui, do lado de fora, reclamando disso? Sabia que, enquanto você perde tempo, tem algum adversário seu, em algum canto do mundo, treinando na água fria, sem reclamar? Um cara que, certamente, vai subir do seu lado na baliza, em alguma prova, e pode vencer você porque a postura dele nos treinos do dia a dia foi diferente? Um cara que não ficava reclamando, de conversinha nem fazendo turminha com os colegas para ficar de chororô? Já pensou nisso?", ele disse, enquanto olhava para a minha cara com uma indiferença assustadora.

Para mim, aquelas palavras caíram como uma bomba. Eu fiquei em choque, completamente sem resposta.

Olhei para a cara dele, fechei a boca, coloquei o rabo entre as pernas, peguei a minha touca, os meus óculos e caí na água. E fiz um dos melhores treinos da minha vida.

E, claro, não morri de hipotermia. É óbvio que a água não estava congelante. Claro que não. Muito longe disso. Estava em boas condições para uma sessão de treinos. Acho que, na verdade, acabei me dedicando ainda mais àquela sessão, pensando na provocação que ele havia me feito.

Enfim, quer saber qual é a lição que eu tirei desse episódio, não apenas para assuntos ligados à natação, mas para a vida?

Quem reclama, perde; quem agradece, ganha.

Marcio Antônio Latuf

Palestrante, autor do livro "O sucesso tem hora marcada", CEO da MLatuf

2 a

Com certeza Gustavão, o mais é quem vai subir no bloco e nadar é o atleta

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