Lifelong learning, a eterna busca pelo saber
Por muito tempo, o mundo apostou em um modelo de ensino simples e previsível: a pessoa passava 10 anos no ensino básico, depois escolhia uma profissão, migrava para uma faculdade, ingressava no mercado de trabalho e ficava por lá até se aposentar.
Esse mundo, porém, não existe mais. Tal qual tudo que acontece na vida, o mundo também se movimenta: ele muda, ele passa, ele se transforma, ele caminha muito mais rápido do que há cinco ou dez anos. Tudo o que a gente sabe sobre as coisas, qualquer coisa, logo se perde e o que era importante ontem, hoje já não é mais. Um segundo se passou e a gente percebeu que os avanços tecnológicos caminham muito mais rápido que a habilidade humana.
Então, como acompanhar uma mudança assim tão perene e veloz?
A resposta é incerta, mas passa por um verbo de ação: o ato de aprender. É preciso aprender para entender o mundo e para crescer com ele. Aprender novas habilidades, novas competências, novas visões de mundo. Aprender novas formas de trabalhar, de se comunicar, de se comportar, de se relacionar com os outros. Aprender com os erros, com os acertos; aprender no trabalho, na rua, em uma conversa despretensiosa. Aprender coisas novas, em todos os lugares, o tempo todo. Aprender com a vida.
Essa busca constante pelo aprender fez surgir um conceito que está ganhando força no mundo nos últimos anos: o lifelong learning.
O lifelong learning tem uma pronúncia bonita e um propósito tão garboso quanto. O conceito prega o aprendizado como um processo contínuo na vida, que ultrapassa os limites das instituições, dos níveis sociais, de idades e de raças. Em português, o termo significa exatamente isso: algo como ‘educação para toda a vida’ ou ‘aprendizado ao longo da vida’.
Há uma questão curiosa, porém. A ideia de lifelong learning também questiona tudo o que se acredita hoje sobre educação e o ato de aprender. Ela coloca em xeque a crença de que a aprendizagem só é efetiva quando está associada à uma educação formal. E diz que o modelo de ensino tradicional que conhecemos, perpetuado ao longo do século 20, não é mais suficiente para preparar o cidadão para o mundo.
E não é mesmo. Os empreendedores de maior sucesso no mundo hoje, como Mark Zuckerberg, Bill Gates, Steve Jobs e outros visionários da tecnologia, por exemplo, compartilham uma curiosa característica em comum: não possuem nenhum diploma universitário. Eles buscaram conhecimentos e habilidades em outros lugares, tão importantes quanto os próprios bancos acadêmicos.
Assim, uma vida lifelong learning supõe um aprendizado que não está preso só a cursos de graduação, pós-graduação ou atualização profissional, nem que os coloca num patamar de importância maior que os outros. O conceito vai além disso tudo. Todo lugar é lugar para aprender e a educação formal é apenas um deles.
Na prática, é quase como deixar para trás algumas reações comuns que as pessoas têm ainda hoje, como usar a expressão “terminar os estudos” para dizer que uma faculdade chegou ao fim. Para o lifelong learning, o aprendizado não está terminando ali. Ele está começando.
O lifelong learning nada mais é, portanto, do que um reflexo do dinamismo do mundo contemporâneo. Se o mundo muda rápido demais, aquilo que você aprendeu no início de um curso, há dois anos, poderá facilmente ficar para trás caso você não consiga acompanhar e corresponder ao ritmo intenso das transformações do mundo, do mercado e da sociedade.
Os avanços tecnológicos, aliás, colaboraram muito para popularizar essa ideia e torná-la mais acessível. A internet, por exemplo, elevou a aprendizagem a outro nível, tirando o ensino formal do foco principal. Além disso, aproximou todo e qualquer assunto de qualquer pessoa que se interesse por absorvê-los. Está por todo lugar, em todas as partes. E a um clique de distância.
Tudo isso é aprender.
No mundo corporativo, que precisa lidar com tecnologia e assuntos inovadores a todo momento, um conceito como o lifelong learning cai como uma luva. Para os profissionais, ele se torna um valioso diferencial competitivo. Para as empresas, representa uma mudança consistente no perfil de seus funcionários, que se mostram naturalmente mais versáteis, flexíveis e adaptáveis na hora de desempenhar funções e de enfrentar situações inesperadas.
Ainda assim, é importante que a própria empresa também dê esse passo, estimulando esse interesse nos demais colaboradores - o que pode acontecer de diversas formas, até mesmo por meio de recompensas ou projetos que envolvam plano de carreira, por exemplo.
Mas se o lifelong learning traz benefícios para todo mundo, talvez ele não se limite a ser só um verbo de ação. Talvez ele seja, na verdade, uma reação. Afinal, quem busca o aprendizado também procura por outra necessidade humana: alimentar a alma. Porque o crescimento intelectual é isso. O aprender é um verbo que caminha de mãos dadas com outro verbo, aquele que faz descobrir. Quem aprende, descobre. Descobre um novo assunto, uma nova competência, uma nova forma de fazer as coisas e pode descobrir também paixões tão escondidas que nunca teriam despertado se não fossem cutucadas pela busca avassaladora por mais conhecimento.
Presidente, Projeto Resgate
3 a"Quem busca o aprendizado também procura por outra necessidade humana: alimentar a alma." -- Luana Siewert Pretto Excelente artigo. Parabéns! Um grave erro de vários sistemas de educação é condicionar aprender a ser intencionalmente ensinado.
Logistics/ Manufacturing/ Leadership development
3 aParabéns Luana Siewert Pretto, texto delicioso de ler, de aprender.
Engenheiro Civil
3 aCom certeza, sempre considero que aprendemos muito mais em uma hora de estudos do que em muitas horas de aulas desde que nos dediquemos a realmente estudar.
Engenheiro Sanitarista e Ambiental | Sabesp | Saneamento
3 aMuito boa a reflexão, Luana Siewert Pretto! Estamos aprendendo em todas as situações que a vida nos oferece, até aquelas que podem parecer desagradáveis em uma análise imediatista. Ter o olhar positivo, buscando sempre o aprendizado, certamente nos faz evoluir.
Gerente de Processos na Aegea Saneamento e Participações S.A.
3 aParabéns pelo artigo, nos impulsiona a querer mais a cada dia!