‘LIVE’ COM OPINIÃO NÃO É PARA AMADORES

Falar sem pensar, definitivamente, pode ser um desastre. Até para profissionais.

Estamos em meados de março de 2.020, em plena crise causada pelo vírus Corona ou Covid-19 e fiquei de queixo caído com o que ouvi nos últimos dias em três vídeos de homens de sucesso: Luciano Hang da Havan, Junior Durski da Madero e Roberto Justus, publicitário. Nenhum deles falou algo ilógico ou contrário à realidade. Apenas manifestaram suas opiniões como empresários e mostraram seu ponto de vista. O mesmo estão fazendo médicos, políticos, padres, pastores, consultores, autoridades... cada um manifestando seu ponto de vista e protegendo seus interesses.

Opa! Protegendo interesses?

Exatamente. Somos assim. É do ser humano proteger-se e proteger os seus.

Agora falo como consultor da área de marketing: tenho visto muitos vídeos de pessoas, na maior boa vontade, emitindo opiniões e querendo marcar posição nesse momento. Algo elogiável, mas os resultados não serão os esperados. Receberão críticas, serão vistos com desconfiança e até como aproveitadores.

Por falar em aproveitadores, deixe-me fazer um parênteses: quanta coisa grátis você já viu por aí? TV a cabo, livros, consultorias, cursos, aplicativos de todo tipo... Fala sério. Você acha que isso é pura bondade? Pode acreditar que não. Talvez nem todos sejam oportunistas, mas pode contar que, após essa crise, você vai receber milhares de propostas querendo dizer mais ou menos isso: agora que você experimentou nosso produto, gostou e viu como somos bonzinhos, faça sua assinatura por X,99 (nos três primeiros meses).

Essa é apenas uma das técnicas publicitárias para promover um produto ou serviço. Há tantas outras! Mas vamos deixar esse assunto para outro momento. Fecho parênteses.

Gostaria apenas que você considerasse porque algumas pessoas estão se queimando com seus vídeos e lives. Observe seus erros e NÃO faça como eles.

Em todos os 3 casos citados mais acima no início do texto, não houve erro formal ou má-fé em suas falas e opiniões. Houve o uso de um argumento mal entendido. Não quero me demorar em detalhes porque pretendo apenas levantar a questão e alertar quem gosta de dar suas opiniões. Mas, qualquer texto publicitário, por mais básico que seja, jamais levanta hipóteses negativas. Para ficar próximo do tema: quem vende caixão fala do paraíso e evita citar o caminho do cemitério. Aliás, a fala do Justus foi a que mais me surpreendeu. É um dos profissionais mais respeitados da área. Capaz, idôneo e competente, mas, no calor da emoção, mesmo parecendo estar tranquilo na sua fala, ele cometeu um erro que jamais cometeria em um texto publicitário: colocou razão onde só cabe emoção.

Quando se trata de vida e morte, a razão é para médicos e demais autoridades competentes que olham para as estatísticas e tomam decisões pensando em causar o menor mal possível. Qualquer outro discurso só é aceito se falar ao coração. E tem mais: mesmo que intimamente as pessoas concordem com o argumento, ficam constrangidas em tornar público o que pensam.  

Quando se trata de políticos, a questão fica ainda mais exacerbada. Todos querem se mostrar magnânimos, mostrar que estão preocupados com ‘o ser humano acima de tudo’, fazer mais que o político adversário; prometem o que não podem entregar. No entanto, tem que agir com a razão, autorizar decretos impopulares, desagradar uns e outros e tentar mascarar seus feitos.

Agora mesmo, soube de um estado que correu atrás de recursos para a saúde e reservou alguns milhões para... PUBLICIDADE!!! Não concordo, mas entendo a lógica.

A título de mero exemplo, veja-se a diferença entre a imagem de Lula e a de Bolsonaro. Lula contratou os melhores publicitários que pode na época em que era presidente. Percebeu a importância disso após eleições e mais eleições perdidas. Quando ganhou, comprovou o quanto vale a Comunicação Social e passou a usá-la adequadamente. Mesmo hoje, nitidamente, algumas de suas falas são escritas por excelentes redatores, munidos de informações obtidas por meio de pesquisas. Suas falas soam como slogans: curtos, fortes, significativos, persuasivos. Podem não refletir a verdade, mas convencem quem está propenso a acreditar nele. Em contraposição, temos um Presidente intempestivo, franco, honesto que fala o que muitos gostariam de falar, mas... – sempre tem um mas – às vezes fica difícil admitir publicamente que se concorda com ele. Usa palavras inapropriadas, argumentos herméticos e afastam até quem está propenso a acreditar nele e apoiar seu trabalho.

O assunto é extenso e poderia se estender longamente, mas fiquemos com o básico: se você for gravar um vídeo ou fazer uma ‘live’, pense muito bem nas palavras e nos argumentos que vai usar. Fale ao coração das pessoas, não apele à sua razão nesse momento – exceto quando se tratar de algo eminentemente técnico como finanças ou investimentos por exemplo. Deixe a argumentação lógica para um outro momento. As pessoas estão muito sensíveis a certos temas, assustadas com o que não entendem. Use argumentos claros, concisos e fáceis de serem entendidos. Pense na imagem que você vai deixar para quando essa crise passar: um aproveitador, um oportunista, um insensível à dor alheia, um incompetente e despreparado ou alguém genuinamente preocupado com as pessoas ao seu lado?


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