Lockdown funciona?

Lockdown funciona?

A resposta curta é sim, funciona.

Mas há vários "dependes", iniciando pela definição do que é "lockdown" e do que é "funciona".

FUNCIONA?

Primeiro vamos definir "funciona". 

Se "funcionar" significa "acabar com a pandemia", a resposta é não. A única coisa que é capaz de acabar com a pandemia é a imunidade coletiva (ou imunidade de rebanho), seja ela por cobertura vacinal, seja ela por infecção natural, ou pela combinação de ambas. 

No início da pandemia, eu cheguei a acreditar que a imunidade coletiva poderia ser atingida por infecção natural a partir de 400 MM (mortes por milhão). Doce ilusão, estamos com quase 1000 MM e não há sinais disso. Na Gripe Espanhola a pandemia recuou após atingir a imunidade coletiva por infecção natural, já que não havia vacinas naquela época, mas a um custo de 50 milhões de óbitos. Para fins de comparação, até o momento a Covid matou 2 milhões de pessoas no mundo. Considerando a população da época, a letalidade da Gripe Espanhola foi 100 vezes maior que a Covid. Então, não dá para esperar que a Covid mate 200 milhões de pessoas para ser atingida a imunidade coletiva. 

Assim, o único caminho para o controle da pandemia é a imunidade coletiva vacinal, já que não há tratamento específico para a doença (ver abaixo).

Então, se "funcionar" significa "reduzir a circulação viral", a resposta é sim, o lockdown é capaz de reduzir a circulação viral e é a única explicação razoável que justifica a queda nas infecções da primeira onda. Ora, se a tese da imunidade coletiva por infecção natural foi derrubada com a segunda onda, a queda da primeira onda só pode ser explicada pelas medidas restritivas de circulação e uso de máscaras.

LOCKDOWN?

Então chegamos ao segundo ponto: o que é "lockdown"?

Ness caso, talvez o mais correto seja usar a expressão "medidas restritivas de circulação", como empreguei acima, já que há um gradiente que vai desde ao fechamento geral de tudo até o simples distanciamento das pessoas, conforme ilustrado na figura abaixo.

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Todas essas medidas reduzem a circulação viral por uma questão simples: quanto menos circulam as pessoas, menos circula o vírus, já que é limitada sua sobrevivência no meio ambiente. E, obviamente, quanto mais draconiana a medida restritiva, mais intensa é a redução da circulação viral.

A questão que se coloca é quando e em que intensidade adotar. Como foi afirmado, medidas restritivas não eliminam o vírus, apenas reduzem a sua circulação. Portando, a adoção de tais medidas depende essencialmente de dois fatores:

1. Velocidade de propagação do vírus, expressa pelo "número de reprodução" ou "ritmo de contágio" (r)

2. Demanda hospitalar, expressa pelos atendimentos e internações, tanto ambulatoriais como UTI

Quanto maior o valor desses dois fatores, mais necessárias e mais rigorosas devem ser as medidas restritivas, as quais devem durar até que esses números baixem. É claro que há uma enorme discussão sobre a partir de quanto os valores desses fatores são considerados como críticos e quão rigorosas devem ser as medidas restritivas.

Mas é importante salientar que as medidas restritivas são de efeito volátil, ou seja, quando suspensas, os vírus volta a circular e começa tudo de novo.

CONCLUSÃO

Ainda temos um bom caminho pela frente até que as vacinas sejam aplicadas em massa e seja atingida a imunidade coletiva. Enquanto isso, não temos muitas opções além das medidas restritivas de circulação. Novamente, elas não são a solução final, são apenas uma solução paliativa. Então, se as pessoas se conscientizarem, usando máscaras e mantendo o distanciamento social, medidas mais rígidas não precisarão ser tomadas. Por outro lado, se continuarem a fazer festas e toda sorte de aglomeração, não restará alternativas além de lockdowns mais rigorosos, como os que estão sendo novamente adotados na Europa.

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SOBRE O "TRATAMENTO PRECOCE"

Ainda que alguns afirmem existir um tratamento para a doença, baseado em hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, entre outros, para mim esse assunto é uma questão reputacional, já que não me sinto suficientemente qualificado e com tempo disponível para analisar minuciosamente as dezenas, talvez centenas, de artigos científicos pró e contra. 

Eu prefiro confiar em médicos com experiência nessa área, como os da Sociedade Brasileira de Infectologia, do que em médicos com limitada ou nenhuma produção científica no assunto. Eu tenho mais segurança na posição adotada pela American Medical Association do que em associações que ninguém nunca ouviu falar. Eu prefiro acreditar que os assessores médicos e científicos de governos de países como Alemanha, Portugal e Reino Unido estão mais qualificados do que, com todo o respeito, os assessores da Prefeitura de Porto Feliz. Eu me sinto mais confortável com a opinião de hospitais como Albert Einstein, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e Moinhos de Vento do que de outros que prefiro não citar. 

E, por fim, não consigo acreditar que todos esses médicos, associações, governos e hospitais não estejam vendo as vantagens do tratamento precoce por que estão sendo manipulados por uma conspiração planetária de pedófilos controlados por forças demoníacas. Puxa, me desculpem, mas não consigo acreditar nisso.



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