LORENZO E O VENTO
Doze anos atrás, quase sete da noite, como nos romances de Érico Veríssimo e ao contrário de hoje, era uma noite fria e ventosa quando Lorenzo De Paris Benvenutti veio ao mundo.
Veio ao mundo assim, meio de susto. Algumas semanas antes ele tinha "descido". Quer dizer, foi assim que a obstetra nos explicou. Ou viagem ou muito sexo. Dizem que as grávidas nos últimos três meses devem evitar viajar ou brincar de cavalinho. Os dois ao mesmo tempo parece que é mais perigoso ainda.
Mas, polêmicas à parte, Lorenzo poderia ter nascido até a segunda quinzena de junho, e já nasceria beijando o inverno (que ainda existia quando ele nasceu). Só que nem era maio e ele queria sair de lá. Era pouca mãe pra tanta vontade. O líquido sumindo, na barriga só sobrava criança.
Naquela segunda-feira que começara com sol, o clima foi se alterando. O tempo reverberando a chegada do rebento de Betine. Primeiro um vendaval, depois o frio e, já à noite, uma chuvarava que rasgava Porto Alegre de raios e trovões.
Lorenzo veio como o tempo, brabo, as costas tomadas de pêlos. As sobrancelhas ainda não tinham crescido e as orelhas eram dobradas como as de um lutador de jiu-jitsu. Com os pulmões de um taurino a pleno, mais parecia um pequeno lobisomem, a uivar pela lua escondida acima das nuvens.
Mas a lua não veio. Nem o desejo de sangue das figuras mitológicas. Somente o abraço quente e o aconhego do colo da mãe. Esse é Lorenzo, que hoje completa doze anos, a fúria da adolescência a lhe puxar pelo braço, a doçura da infância a lhe iluminar a esperança, o sarcasmo adulto a lhe guiar a razão. Sol e nuvem. Inverno e verão. O tempo e o vento abrindo o seu caminho pelo mundo.
Vai, Lorenzo, ser dono do teu próprio tempo!