Tolerância
Hoje na mesa do lado tinha um grupo de garotas do colégio do Lorenzo almoçando. barulhentas, falavam pelos cotovelos. Não que eu me importe, apesar de sempre reclamar de almoçar em silêncio. Até porque o Lorenzo almoçava comigo, e a algazarra da mesa ao lado fazia ele ficar todo ereto e não puxar assunto comigo.
Mas, isso sim, porque na mesa do outro lado tinha uma mulher, solitária, e ela o tempo todo se voltava para a mesa das garotas e olhava insistente. Vocês devem se perguntar que seu falo disso, observava tudo á volta, mas, calma. Os olhos humanos tem um ângulo de visão razoável, e era nítida a indisposição dela com a barulheira das garotas.
Fiquei pensando, quieto, sobre isso tudo, e sobre ser pai há quase 12 anos e ter me acostumado a ignorar o caos infantil e adolescente na minha volta. A verdade é que sempre gostei desse caos. Mesmo solteiro ou sem nem imaginar que seria pai, eu já me misturava ao caos. Eu era o adulto que ia lá dar atenção pra piazada nas festas e fazer bagunça.
Isso não mudou com o tempo. Na pracinha, enquanto os pais se acomodavam nos bancos a tomar chimarrão, fumar ou fofoquear, eu me misturava com a piazada e até corria e jogava bola junto. Nas festas infantis, mesmo que tivesse um chopinho, eu ia pro lado das crianças, porque, na boa, a conversa dos outros pais geralmente era sobre trabalho ou futebol (porque os pais assim se separavam) e eu considero mais divertido falar merda com a gurizada.
Aquela mulher, ali, indisposta, talvez pensasse "aonde estão os pais nessas horas?" Conheço muitos que pensam igual. Muitos amigos, inclusive. daqueles que até já postaram sobre o assunto, resmungando sobre ter um "restaurante sem crianças, "hotel sem crianças", "mundo sem crianças", e cagando regras sobre aquilo que nunca exerceram, a paternidade (a maternidade, esse termo que em português não existe, mas enfim, ISSO).
Sim, outro dia almoce com o Lorenzo e dois colegas dele. Seus amigos Léo e Léo (são dois Leonardos) e só quem já teve um trio de amigos no colégio sabe o caos que pode ser criado por um trio de guris de 12 anos almoçando juntos. Mas, mesmo cuidando pro caos não extrapolar, me divertia. Não só por ter me acostumado, mas, também por ter adquirido essa EMPATIA, pela idade, pelo momento da vida, pela similaridade e recordações de minhas próprias experiência infantis e juvenis. Ou seja, tolerância.
Tolerância que muitos adultos, que consideram as crianças insuportáveis, não tem. Empatia que não querem ter. E que com a idade, infelizmente, tende a piorar. Resmungões. Muito mais chatos que a chatice que apregoam ser das crianças e dos adolescentes, mas espirrando arrogância e um não-saber com ar de superioridade moral. Eu prefiro o mundo com crianças. Inclusive, sou uma delas.