Malditas trotinetes. Benditas sejam se nos abrirem os olhos para o óbvio!
A nova pirâmide da mobilidade. Qualquer relação com o que vê em Portugal e mera coincidência. Fonte Share North

Malditas trotinetes. Benditas sejam se nos abrirem os olhos para o óbvio!

O país que tolera infrações ao código da estrada, em cujos cafés se vê o excesso de velocidade como um feito (só ao alcance dos melhores) e onde estacionar um automóvel no passeio é um direito a que poucos se opõem descobriu que tem um problema com as trotinetes.

Provavelmente devido à minha deficiência física, até nem gosto, pessoalmente, de trotinetes, que vejo serem usadas por gente de todas as idades. Uso o automóvel com a parcimónia possível e prefiro a clássica bicicleta, convencional ou electrificada (ajuda a pessoas que, como eu, têm limitações, a carregar pesos, por exemplo). Mas o facto é que na minha cidade (ou cidades, pois vivo entre a Póvoa de Varzim e Vila do Conde), o seu uso tornou-se comum.

Quando vejo um ou uma adolescente a circular num destes veículos, no passeio, não gosto. Mas antes de apontar o dedo ao transgressor, tento perceber porque transgride. Faço o mesmo, sempre que vejo um velho a usar o passeio para circular em bicicleta, ou um peão a usar o asfalto nivelado de uma ciclovia. É um exercício que técnicos municipais e decisores políticos deveriam fazer, pois há vida para lá do código da estrada, e o chão que pisamos também fala a cada um de nós, sugerindo-nos comportamentos.

Há dias moderei uma mesa numa iniciativa da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária sobre a segurança da Mobilidade Activa. Nos painéis em que apenas intervieram agentes ligados à saude/segurança, fiquei com a impressão de que vivia num país onde andamos apenas a pé e que foi invadido por estas perigosas máquinas de duas rodas. Esta ausência de uma visão integrada e integradora faz-me temer que a imensa atenção que estamos a dar ao fenómeno das trotinetes – é sempre assim, quando o problema se concentra em Lisboa – disfarce, apenas, uma distração enorme para com os grandes problemas da mobilidade, da acessibilidade pedonal e da insegurança "rodoviária" das nossas cidades. É sobre isso que reflito nesta análise publicada esta terça-feira, no PÚBLICO.

Para ler mais:

Portugal, o país onde se morre mais na rua do que na estrada.

Sustentável e saudável, a mobilidade activa precisa do “S” de segurança para vingar.

Seis décadas depois de Jane Jacobs nos ter escrito um livro com alertas sobre o impacto do automóvel na cidade, ainda andamos a tentar salvar a rua.

Abrandar, um verbo novo para fazer cidade

Uma entrevista com o alcalde de Pontevedra, que entregou a sua cidade às pessoas.

Quão importante é a mobilidade activa, o andar a pé e de bicicleta, para o nosso futuro?

Bela publicação. Sou diariamente atingida por trotinetes no passeio, já quase fui atropelada por motociclos na passeio e vejo inúmeros idosos em risco com isto. Chamamos atenção, mas os condutores agem com descaso e deboche. Não vejo uma autoridade, sequer, lnas ruas a colocar ordem nisto. Os condutores sabem que para eles não há ninguém tipo de consequência.

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