No meio do caminho, uma pedra: o inglês (ou a falta dele)
Créditos: Foto do acervo pessoal e imagem extraída do livro "Roube como um artista", Austin Kleon

No meio do caminho, uma pedra: o inglês (ou a falta dele)

Desde o ano passado comecei a vislumbrar um mestrado em escrita criativa no exterior. Todavia, existe uma pedra no meio do meu caminho: o inglês. Ou melhor, a falta dele.

De acordo com dados do British Council e do Instituto de Pesquisa Data Popular, apenas 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês e, destes, somente 1% é fluente. Vou aproveitar o gancho para fazer aqui uma confissão pública: tentar aprender esse idioma sempre instalou em mim um profundo sentimento de inferioridade e, obviamente, isso está diretamente relacionado à minha cor, classe social, localidade regional e nacionalidade.

Em 2016, por meio de uma bolsa de estudos, tive a chance de fazer um intercâmbio acadêmico em Coimbra (Portugal). Partindo de lá, aproveitei para juntar uma grana e fui para Londres (Inglaterra) fazer um curso de inglês. Essa experiência de um ano vivendo em dois países europeus me colocou em diversas situações desanimadoras. Muitas vezes, inconscientemente, me flagrei sendo a única.

A única negra, a única brasileira, a única garota latino-americana... a única que, "por acaso", era também a que não sabia falar inglês numa roda de amigos.

O fato é o seguinte: aprender esse idioma é um investimento extremamente caro. Mesmo hoje, com a popularização de cursos, aplicativos e conteúdos um pouco mais acessíveis ou mesmo gratuitos, nos flagramos, na maior parte das vezes, diante de promessas enganosas que nos levam a acreditar que vamos ser fluentes em 90 dias.

Qualquer pessoa que leve a sério a educação sabe que um processo de aprendizado e formação demanda bem mais tempo do que isso e inclui não só o contato com o conteúdo/assunto que desejamos aprender, mas também metodologia, didática e uma porção de outras coisas.

O abismo aqui, novamente, é de perspectiva. Qual horizonte de possibilidades nos apresentam? Existem chances reais de um brasileiro médio, ou seja, que ganha um ou dois salários mínimos, aprender esse idioma? Na real, por muitos anos duvidei de mim mesma, da minha capacidade de um dia, quem sabe, falar inglês.

Sei que o X da questão não é a capacidade, mas sim o contexto de oportunidades. Ainda assim, tentar, tentar e não conseguir injeta em nós uma dose esmagadora de insegurança.

Hoje, seis anos depois, me reúno com um grupo de empreendedores negros e indígenas todas as segundas, terças e quintas para praticar inglês. O projeto é uma iniciativa da Embaixada e dos Consulados dos EUA no Brasil em parceria com o Grupo +Unidos.

Na aula inaugural, quando me perguntaram por qual motivo desejava me aprimorar nesse idioma, a resposta já estava na ponta da língua:

Because my dream is to pursue an international postgraduate degree in creative writing | Porque meu sonho é fazer uma pós-graduação em escrita criativa no exterior

Para lidar com a insegurança que surge todo santo dia, tenho feito uma transposição das técnicas e rituais que utilizo na escrita. Tudo aquilo que apresento para minhas alunas como estímulos e facilitadores para destravar na prática criativa, tenho testado no meu dia a dia ouvindo, falando, lendo e escrevendo em inglês.

Por exemplo: sempre recomendo para minhas alunas que iniciem sua prática textual partindo de temas com os quais estejam familiarizadas. Da mesma forma, todas as manhãs ouço entrevistas em inglês sobre escrita, livros, criatividade e outros assuntos que adoro.

Encaro esse momento como uma preparação para voos internacionais, tanto turísticos quanto profissionais, rs. Encaro também como uma ruptura com toda a insegurança que o sistema injetou em mim.

Talvez, seis anos atrás, os contextos e situações me convenceram de que era incapaz. Mas hoje... hoje encaro a insegurança como um lugar hostil e enganoso, uma neblina que entorpece nossos sentidos e nos faz perder de vista todo o nosso potencial e capacidade de avançar.

Aprender é uma habilidade humana. Eu sei, as oportunidades não são distribuídas de modo justo. Ainda assim, se você tem um sonho, não deixe que as estruturas desiguais roubem isso de você. Pelo contrário. Que sejamos nós a saquear todo o empilhamento de expectativas negativas que eles projetam sobre nós.

A expectativa do fracasso, da inércia, da frustração. Da miséria, da subalternidade, da incapacidade. Subverta cada uma dessas projeções.

Como? Estando entre os seus e suas. Mulheres, pessoas negras, nordestinas e nortistas (...) É com essas pessoas que hoje, toda segunda, terça e quinta, me reúno para praticar inglês.

Os meus. Nos quais me reconheço, me fortaleço e me coloco num movimento de cura, afeto, resgate e crescimento, tanto individual quanto coletivo. Boa semana para gente!

#AssuntoDaSemana #CarreiraInternacional #Ingles

Hilton Tavares

Soluções em tecnologia para reduzir custos e aumentar produtividade nas empresas.

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Sandra Klinger Rocha

Diretora Novos Negócios e Instrutora Heartfulness

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Obrigada por compartilhar! Encorajador....

Eduardo Carlos Krueger

Engenheiro Civil, Obras de Infra Estrutura e Industriais;

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Flay Meus parabéns pelas suas palavras de incentivo. É isso mesmo. A pessoa aprende, se forma, pratica, adquire experiência e a vida começa a se modificar para melhor. Eu ralei muitos anos. Hoje tenho uma vida mais confortavel, Não me arrempendo Abraço

Dináurea Cheffins

Especialista e Consultora em Gestão de Pessoas e Cultura Empresarial/Orientação de Carreira/V.P de Recursos Humanos/ Diretora de R.H/ Psicóloga

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Flay Alves , todos somos capazes. Hoje moro no Canadá, em Victoria. Se você quiser vir passar uma temporada aqui para aperfeiçoar o seu inglês, minha casa está à sua disposição. Não é por sermos nordestinas que não vamos crescer e aprender. Pelo contrário, o mundo é para nos conectarmos.

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