METAMORFOSES ORGANIZACIONAIS OU INTELIGÊNCIA ADAPTATIVA?

METAMORFOSES ORGANIZACIONAIS OU INTELIGÊNCIA ADAPTATIVA?

Há alguns anos, a atriz Bibi Ferreira estava iniciando os ensaios para a peça Gota D'Água, de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes. Era uma trama intensa, na qual ela representava um personagem baseado na trágica Medeia. Bibi acabara de sair de um trabalho com características totalmente diferentes, o musical My Fair Lady, ambientado na Inglaterra vitoriana, com direito ao hábito do chá das cinco. Depois de algumas semanas ensaiando a nova peça, a mudança lhe cobrou um preço. Extenuada, após mais um embate no palco, Bibi não teve dúvida em indagar, num rasgo de gracejo e bom humor: “Mas, afinal, quando é que servem chá nessa peça?”. A historinha é um pano de fundo válido para fazermos alguns comentários sobre hábitos e mudanças.

O ser humano é um exímio formador de hábitos. Isso acontece porque os hábitos nos dão uma sensação de segurança. Seria muito dispendioso inventarmos todos os dias um jeito completamente diferente para fazermos as mesmas coisas. Colocamos, então, alguns comportamentos numa espécie de “piloto automático”. Na maioria das vezes, gostamos de fazer o mesmo caminho para o trabalho, de sentar-se na mesma cadeira, de vestir o casaco começando sempre pelo mesmo braço etc. Assim, experimentamos uma sensação reconfortante de segurança e estabilidade. 

Contudo, há momentos em que precisamos enfrentar mudanças. Elas são dos mais variados tipos: mudança de casa, mudança de empresa, mudança no local de trabalho, mudança de hábitos financeiros, mudança de estado civil, mudança de comportamento etc. Nas empresas, as mudanças também ocorrem, desafiando-nos verdadeiramente. Alguns mudam de cargo, enquanto outros precisam mudar repentinamente procedimentos já cristalizados. As empresas mudam, redirecionam-se, transformam-se, recriam-se; e os profissionais também precisam mudar, arrancados assim, muitas vezes, de uma zona de conforto.

 As situações de mercado mudam. Mudam as demandas, as necessidades, as formas de consumo, os meios e os métodos de produção. Ao longo do tempo, são mudados por vezes os acionistas, os objetivos da organização, os sistemas internos, as posições estratégicas. Mudanças desejadas, inesperadas, repentinas, programadas, obscuras: há muitos estilos, dependendo de cada caso. Trata-se quase sempre de uma busca pelos melhores processos, por novos produtos e serviços, busca de sobrevivência, de uma busca pelos modos mais eficientes e produtivos, visando sempre conquistar resultados melhores e outros clientes.

Não raramente as empresas fazem escolhas cujos desdobramentos afetam a todos, por mais que o objetivo seja o de fazer transições sem grandes ruídos ou desmoronamentos. As mudanças ligam botões de alerta, deixam os profissionais como animais à espreita, orelhas levantadas, atentos aos seus territórios, áreas, status e espaços de poder. São verdadeiras metamorfoses. Cada pessoa precisa encontrar o seu papel, tentar assim se reencontrar como profissional. Nesses períodos desafiadores, como pensar a trajetória profissional numa lógica evolução?

Para compreender e se adequar às mudanças organizacionais, é necessário, antes de qualquer coisa, perceber que elas são hoje exigências imperativas, traços de uma época. Primeiro, porque a competição entre as empresas é cada vez maior, com os ciclos de produtos e serviços se diluindo numa velocidade incrível, precisando ser frequentemente renovados. Segundo, porque há sempre a necessidade de fazermos mais e melhor, procurando aperfeiçoar a nossa posição no mercado, desenvolvendo produtos e serviços mais competitivos. Essa lógica rege todas as instâncias produtivas e comerciais.

 Numa outra perspectiva, é preciso considerar que as mudanças trazem muitas oportunidades aos profissionais. Há perdas, mas também ganhos. Sem grande esforço, você pode concordar que períodos de mudança nas empresas proporcionam aos profissionais um aprendizado muito rico e um desenvolvimento pessoal imenso. Pense, por exemplo, nas novas habilidades, realizações e experiências que entram em cena. Pense nas oportunidades que podem surgir. Aqueles que ajudarem a desenhar o futuro terão mais chances nele.

Depois, é necessário adotar uma agenda positiva, caracterizada pela concentração no trabalho e pela confiança em si mesmo, movida por um desejo ardente de vencer os desafios. Essa agenda deve se constituir por uma conduta afirmativa, um comportamento que implique certa indiferença às fofocas, aos boatos e às teorias de conspiração. As pessoas que realmente fazem a diferença nos dias de hoje são aquelas que se dedicam objetivamente ao trabalho; na adversidade, conseguem encontrar caminhos equilibrados, sem pesar a mão. Como diz Mario Sergio Cortella, no livro Qual é a tua obra?, no capítulo “A tensão da mudança”, “a busca da excelência exige ação, mas sem cautela imobilizadora nem ímpeto inconsequente”.

Sobre a autora:

Meu nome é Roselí Parrella, sou coach profissional e especialista em desenvolvimento de carreiras. Possuo mestrado em Psicologia Social e especialização em Estratégia de Recursos Humanos, concluída em Stanford. Fiz também o curso de Coaching pela Universidade de Columbia e participei de diversos Programas de Desenvolvimento de Líderes no Brasil e no exterior. Minha trajetória profissional envolve uma sólida vivência em RH em grandes corporações, ocupando as posições de Vice-Presidente e Diretora de RH em empresas como SKY/DIRECTV, METLIFE, AOL, TVA dentre outras. Atualmente exerço o papel CEO na startup, YOU UP, atendendo a executivos e RHs de diferentes empresas para desenvolvimento e gestão de carreira.

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