Metaverso e torradas
Muito provavelmente você deve ter olhado a capa desse artigo e se confundido com algum jogo da série Pokémon ou até mesmo com aquela comunidade virtual que ficou bem popular nos anos 2000 (Habbo). Mas isso é muito além do que apenas um joguinho... É um Metaverso.
Você já deve ter se deparado com esse nome estranho nos últimos tempos. Principalmente depois da divulgação de Mark Zuckerberg sobre a empresa Meta, que revolucionaria as redes sociais (inicialmente Facebook e Instagram) para criar um conglomerado de mídia e redes sociais com a finalidade de fomentar uma experiência imersiva chamada de Metaverso. Por mais que o gênio das redes sociais explique bem esse termo, em sua realidade, Metaverso é muito mais um conceito genérico de simulação de realidade do que um produto exclusivo da empresa. Em seu vídeo, Mark cita como as tecnologias vêm evoluindo ao longo dos anos e como, em decorrência dessa evolução, estamos mudando nosso jeito de consumir o conteúdo digital nos levando para um futuro imerso em Realidades Virtuais ou Aumentadas.
Começando por códigos binários, passando para caracteres agrupados (texto legível), imagens coloridas, animações e atualmente plataformas de stream, as tecnologias ao nosso redor foram evoluindo e se adaptando cada vez mais ao nosso estilo de vida, ao estilo humano. E tudo isso não é a toa, o design centrado no humano sempre se destacou entre empresas que competem no mercado. Caso vocês não se lembrem, os computadores mais antigos não possuíam mouse e suas telas verdes e azuis muitas vezes causavam enxaqueca em seus usuários. Foi só em 1983 em que a Apple se apoderou da invenção de Douglas Engelbart para colocar o primeiro mouse em seu computador Apple Lisa. Façanha essa que acabou revolucionando o mercado e a história da usabilidade dos computadores. Dando também, um poder gigantesco a empresa que junto do famoso Don Norman, em 1993, deram início ao primeiro cargo com o nome de User Experience Architect (o famoso Designer UX/UI), estopim para uma nova era de User Centered Design (design centrado no usuário) que tem como foco principal a criação de valor para o usuário, seja através da sua experiência ou sua usabilidade.
Se estamos falando de usabilidade, estamos falando também do ser humano. Diferente do que Zuckerberg explica em seu vídeo, não foram só as evoluções tecnológicas aceleradas que mudaram nossa realidade nos últimos anos. Seria, até, uma falta de respeito com a humanidade ignorar a pandemia que vivemos nos últimos 2 anos. Sim, nossa tecnóloga digital superou as expectativas de vários futuristas quando nos deparamos com os dois primeiros meses desse inferno. Muitas pessoas foram obrigadas a se manter isoladas em suas casas, criando novas barreiras em nosso mundo real, não só para pessoas, mas também para organizações e empresas. Com isso houve um boom da digitalização da comunicação e alternativas pouco utilizadas como educação EAD e Home Office se tornaram lei.
Graças de novo a tecnologia e a pessoas de bem, o mundo conseguiu enfrentar essa pandemia e hoje caminhamos para um "novo normal". Novo porque nunca será igual ao que tivemos anteriormente. Muitas empresas que tiveram que se adaptar a esse período de pandemia e enxergaram nessa digitalização uma maneira de economizar e, ao mesmo tempo expandir com seus colaboradores. Economizar, pois perceberam que muitas delas não precisavam mais de um ambiente físico onde seus funcionários se reunissem, de modo a trocar aluguéis de escritórios por assinaturas de ferramentas de comunicação via vídeo chamada. Expandir, pois perceberam que do mesmo modo que não haviam mais barreiras presenciais, eles poderiam contratar pessoas de diversas localidades do país ou até mesmo do mundo. Dando assim uma nova perspectiva de empresas multinacionais.
É nesse contexto de adaptação de novas barreiras da realidade que a ferramenta Gather Town explode. Diferente do metaverso apresentado por Zuckerberg que implica em um Big Data de redes sociais e algoritmos que "controlam" o conteúdo que aparecerá para você, podendo causar problemas inimagináveis como explica Sérgio Sacani (Space Today) nesse pequeno corte do Podcast Podpah, o Gather Town surge num contexto educacional e como um software de código aberto. Se apoderando de sua própria comunidade como fomentadores da ferramenta. Além disso, como você mesmo deve ter percebido, ele traz um visual 32bits muito semelhante a jogos eletrônicos dos anos 90, mas que também são muito amistosos e de fácil compreensão para o entendimento e usabilidade de crianças.
Pensando bem... essas crianças e jovens dos anos 90 já estão meio adultas né? Exatamente! Em sua realidade, o Gather surgiu antes mesmo da pandemia do COVID-19, mas foi durante esse período que teve seu maior crescimento de usuários, pois muitas empresas "jovens" como startups se apoderaram da ferramenta como escritório virtual. Isso mesmo, para você que acreditava que metaverso é ficção científica ou uma ideia maluca do Zuckerberg após a ingestão de substâncias com psilocibina, eu tenho uma má notícia para você, o metaverso já é realidade. E é nesse contexto de Millennials (Geração Y) no mercado de trabalho que diversas empresas e organizações no mundo estão usando essa ferramenta como uma alternativa para contornar barreiras desse novo mundo que estamos vivendo.
Ta, mas o que isso tem a ver com torradas? Tem a ver que o Gather town ainda não possui torradas dentro dele, portanto é um péssimo metaverso (risos). Brincadeiras a parte, para você que me conhece e sabe que sou maníaco por dinâmicas, não pude perder a oportunidade de tentar aplicar uma dinâmica para validar se de fato a ferramenta era um bom metaverso. E foi nesse contexto que eu decidi aplicar a tal da Dinâmica da torrada nesse universo.
Essa dinâmica que é bem divertida, muito útil e também muito simples, permitindo que sua aplicação seja fácil em diversas ferramentas digitais. Eu que já tinha utilizado tanto do Miro, quanto do próprio FigJam (Alternativa de Board do Figma) para aplicar essa dinâmica com propriedade, me surpreendi com os resultados obtidos no Gather town. No início tive algumas dificuldades para preparar o material, mesmo porque, diferente do Miro ou Figjam, eu não possuía um único quadro para aportar todos os participantes, mas sim 6 mini salas, que era o que o mapa me proporcionava. Me forçando assim a dividir os 13 participantes em duplas e um trio.
É claro que eu poderia ter criado um mapa do zero com toda a estrutura que eu precisava, mas como eu mesmo também estava nos primeiros contatos com a ferramenta, tive receio de demandar certo esforço para criar do zero e acabar não conseguindo aplicar de forma assertiva a dinâmica. Outra dificuldade que encontrei foi para ter feedback dos participantes, enquanto no Miro ou Figjam eu me utilizava de uma outra ferramenta para as vídeo chamadas, no Gather, ele mesmo permite isso, porém de forma sistemática, onde só pessoas que estão na mesma sala se escutam. Dessa forma, toda vez que eu precisava de um feedback dos participantes, ou eu tinha que me mover até a salinha onde estavam em duplas e trios, ou eu tinha que pedir a eles que se movessem até a sala maior a direita. Só nessas dificuldades iniciais da ferramenta eu já validei que sim, ela simula muito bem algumas barreiras da nossa realidade, como o fato do seu personagem ter que se movimentar até diferentes locais e o próprio "isolamento acústico" que as salas e as suas funcionalidades fornecem.
Até o momento eu estava um tanto incomodado com os resultados, visto que na semana anterior eu havia aplicado com 3 colegas de trabalho no Figjam, não tive dificuldades e ainda tive ótimos feedbacks. Pensando nisso resolvi ir atrás de uma dessas colegas que, por sinal, havia participado tanto da edição no Figjam quanto do Gather town, para pegar uma real perspectiva do que os usuários acharam da dinâmica em diferentes ferramentas. Para minha surpresa, ela só trouxe elogios. Explicou que o fato de terem se dividido em duplas ou trios aumentou a comunicação e colaboração entre os participantes, tanto para entendimento do que deveria ser feito em cada etapa, quanto para descobrimento e aprendizado dessa nova ferramenta que é o Gather town. Além disso, outros colegas de trabalho que participaram da edição no metaverso, comentaram como o contato com outras pessoas, de forma amistosa e lúdica, auxiliaram na hora de botar em prática o trabalho em equipe.
Não são os melhores gráficos que trazem as melhores experiências. Muitos vão ficar bravos com o que vou escrever agora, mas quem é que nunca jogou Tibia? Sim, aquele joguinho feio em que os personagens pareciam andar deitados. Um dos piores gráficos de jogos online dos anos 90 (tudo bem que na época gráficos não era o forte dos jogos), mas que criou uma geração inteira que jogava incessantemente o jogo. Se você já ouviu falar do Lord'Paulistinha, com certeza sabe muito bem do que estou falando. Sendo um dos primeiros jogos de MMORPG (Massive Multiplayer Online Role Playing Game) da história, o Tibia foi um dos jogos mais jogados simultaneamente no mundo da época, batendo seu record de 64.028 jogadores online no ano de 2007.
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Esse jogo feio teve um impacto gigantesco na internet na época por 3 principais motivos:
"Realidade ou Virtual, qual será mais interessante acompanhar?"
Essa questão dita por Sérgio Sacani, ainda no mesmo trecho citado acima, diz respeito aos demais multiversos que surgirão no mesmo intuito do Meta. Metaversos que com a ajuda de algoritmos, em tese, irão viciar a humanidade a ponte de questionar se a vivência no mundo real é menos valiosa que no mundo virtual. Isso sim, para mim se aproxima de um filme de ficção científica, até porque acredito firmemente que nada pode superar a emoção do contato humano, nem a melhor simulação de experiência baseada em conceitos de design voltado pro humano. Assim como o Tibia deixou de ser um jogo popular, naturalmente outras tecnologias que um dia foram revolucionárias vão entrar em desuso (Kodak que o diga). Em relação às torradas, existe sim, ainda um jeito que eu ainda não realizei a dinâmica, o presencial. Por mais que os feedbacks de todos os métodos que eu tenha realizado foram bons, em nenhum deles eu consegui sentir a sensibilidade de estar junto com alguém, observando seus gestos e expressões durante a dinâmica. Se tratando de humanidade, eu acredito que seja simples a resposta para a reflexão de Sérgio, mas deixo aqui esse artigo para que reflita. Qual realidade tem mais valor para você?
Por fim, gostaria de agradecer a Avita e todos seus colaboradores que aceitaram participar comigo dessas dinâmicas, a individualidade de cada um de vocês foi essencial para que desse certo. Deixarei aqui alguns prints das dinâmicas realizadas:
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2 aParabéns, Andrés!!! Muito bom esse texto!!!👏👏👏👏
Proprietário, TMTA Brasil
2 aTexto instigante e muito bem escrito, Andrés. Parabéns, meu querido!👏👏👏
Desenvolvedor Power Apps | Power Automate | Engenharia de Dados
2 aBelo texto, meu amigo
Help Desk Analyst | Cloud Analyst | Az 900
2 aÉ um prazer enorme participar das suas dinâmicas Andrés, sempre um aprendizado.
Product Designer at Ativa Gerenciamento de Recursos
2 aMuito bom, Andrés! 👏 👏