Miguel.
Ele é um dos quatro de uma turma genial que chegou ao mercado publicitário paulista nos anos 1990, direto do Ricífe: ele, Dedé, Heitor e Silvino.
Conheci-o na AlmapBBDO em 1995, ele vindo da Salles e eu da DPZ.
Morávamos no mesmo bairro.
Ele, num apartamento que apelidei de cativeiro porque era o que me parecia, um cativeiro.
A coisa era tão feia que um colchão ficava em pé junto à parede de um dos quartos.
Um dia, sem entender a razão daquilo, perguntei e obtive como resposta a visão da maior infiltração numa parede que eu já havia visto na vida.
Afastou o colchão, me mostrou aquela quase-obra impressionista salpicada de roxo de cima em baixo, e deu o seu sorriso de sempre.
Nessa época, ele ainda não tinha carro.
Então, vínhamos sempre juntos para a firma, no meu carro.
Certa manhã, ele se sentou no meio-fio à minha espera quando uma motorista desavisada se aproximou para estacionar, justamente onde ele estava com seu jornalzinho dobrado.
Ouviu da mulher:
- moço, desculpa, tô sem trocado hoje.
Como sei disso?
Ele mesmo me contou durante a carona, com o seu sorriso de sempre.
Logo depois, porque a vida rapidamente melhorou, ele comprou seu carro.
Um Fiesta branco, caindo aos pedaços como a parede do seu quarto.
Chamou toda a turma da firma orgulhoso da sua primeira conquista. Fomos todos à garagem.
Lollo, e Lollo há de lembrar, esperou que ele entrasse no carro novo (novo porque ele nunca tinha tido um carro, claro) e espetou aquele luminoso de TÁXI no teto do Fiesta branco. Lollo estava fazendo uma campanha de varejo para frotistas e taxistas, por isso tínhamos o tal luminoso na agência.
E assim foi ele até em casa.
Só na garagem do cativeiro entendeu porque tanta gente esticava o braço para ele durante o caminho.
Como soubemos disso?
Ele mesmo nos contou, com seu sorriso de sempre.
Jogávamos tênis.
Ele ganhou de mim uma vez e acho que foi apenas uma única vez.
Isso tem mais de 20 anos e ele conta isso para os amigos até hoje, como se o jogo tivesse sido hoje, com o seu sorriso de sempre.
Quando o UOL abriu uma votação online para sósias de Barack Obama lá estava ele, classificado entre os dez primeiros.
Como soubemos disso?
Ele mesmo nos enviou o link para a votação. Fuça aê e ainda hoje você vai encontrar uma foto dele, com o mesmo sorriso de sempre.
Mas há outras histórias.
Como, por exemplo, seu primeiro leão em Cannes.
Um leão que ele caçou num job de um folheto. Cesar Finamori, outro gênio da raça, estava com ele nessa.
Um folheto que virou um pôster, que virou leão.
Num caso que eu conto sempre quando alguém reclama do serviço, porque vi isso acontecer na minha frente: o parto de um leão a partir de um job de um folheto.
Ele fez e tem uma carreira muito bonita.
Foi ganhando prêmios e propostas, prêmios e propostas.
Formou uma família verdadeiramente linda sem se esquecer dos seus pais e do monte de irmãos.
Comprou uma casa de design em Alto de Pinheiros, dessas que saem em livro capa grossa, quem sabe para se vingar das agruras do antigo cafofo de Pinheiros e bateu asas para o estrangeiro.
No meio disso tudo ainda fundou uma escola, que tem o mesmo nome da sua cachorrinha, para abrir o caminho para novos talentos.
Com seu sorriso de sempre, foi convidando os amigos para compor o corpo docente dessa escola e é provável que a melhor geração de criativos dos últimos 15 anos tenha passado por lá.
(Ana e Lucca, não esqueci de vocês não: eu sei que sem vocês o caminho seria muito, muito mais difícil e não seria esse)
Esse texto, puxado de memória e sem muita revisão, é um tanto injusto com o tanto que ele já fez.
São pequenas letrafotografias de coisas que me lembro dele.
Ontem, já alto da noite aqui e madrugada lá na França, toca o meu telefone.
É ele.
Ele me liga para dividir uma notícia, em primeira mão: essa que está na foto deste post.
Provavelmente, o auge de sua carreira.
Mas não era um telefonema diferente, apesar da raridade da notícia.
Como todas as vezes que nos falamos, a conversa começou com o som do seu sorriso de sempre.
Ele é um dos grandes amigos que esta profissão me deu, profissão que me deu amizades imensas.
Ele sabe bem o quanto sua amizade é importante.
Miguel Bemfica acaba de erguer um Grand Prix lá em Cannes.
Algo que acontece com cerca de 25 ideias entre mais de 40 mil trabalhos inscritos.
O momento sublime de uma trajetória bacana, de um sujeito ainda mais especial.
Mas não é porque agora tem um GP em Cannes que ele vai deixar de ser nosso eterno e verdadeiro palhação.
Parabéns, Miguel.
Que você siga colecionando admiradores, boas histórias e os sorrisos de sempre.
Creative Director at Droga 5/ Psychoanalyst/ 2023 One Show Jury/ 2023 Cannes Lions Jury/ PPA 2024/ Lisbon International Festival 2024/
7 aLindo!!!!!!!❤️
Consultor e professor em Gestão, Liderança e Melhoria de Resultados | Colab Results | Headhunter
7 aQue inspiração esse texto! Inspiração de construção degrau por degrau. Incrível!
Founder 8 Content
7 abaita história. Principalmente para muitos que estão começando na profissão, cheios de ego e teorias mal aprendidas na web.
Freelance Brand & Business Strategist (Africa, Disney, Natura, Starbucks, Almap, Le Pub, VML, IS, Gana, Talent, , GUT, Zup Tech,) Founder FaLaÊ Pesquisaria. Teacher at Miami Ad School, Diretor de Pluralidades do GP
7 aesse tipo de prosa , me faz acreditar, que num mercado movido por ego, é a generosidade que faz a diferença .