Militares patriotas e não militares nacionalistas!
Recentemente, foi divulgado um documento petista que, em síntese, contém uma espécie de autocrítica do partido, mencionando, entre outras coisas, ações que deveriam ter sido realizadas e que não o foram. Pareceu-nos que isto, conforme eles entenderam, teria causado graves prejuízos ao seu projeto de permanência no poder, que estaria em curso.
Entre os diversos aspectos comentados pela mídia, destacou-se a intenção petista de modificar os currículos das Escolas Militares e privilegiar a promoção de “oficiais nacionalistas e democratas” (sic), que, certamente, seriam identificados segundo critérios estabelecidos por eles.
Inicialmente é preciso explicar que as promoções na carreira militar, nas três Forças, são balizadas por uma legislação claríssima, que contempla o mérito e a antiguidade do indivíduo.
Na avaliação do mérito, uma série de aspectos são observados, entre eles determinadas características pessoais que se busca desenvolver no discente, durante sua formação, nas Escolas Militares de diversos níveis.
Nesses locais, são identificados para o indivíduo certos valores fundamentais, importantíssimos para a formação de seu caráter, como a honra, a honestidade, o senso de justiça, o respeito, a disciplina, a coragem, a autoconfiança e vários outros. O que se deseja é que o discente internalize os valores necessários para que, no futuro, seja um militar competente e um bom cidadão.
E não poderia ser diferente, pois, como bem sabemos, o oficial e o sargento são “administradores da violência”, uma vez que o Estado-nação põe em suas mãos os meios coercitivos mais fortes que possui, para que eles defendam os seus legítimos interesses, cumprindo a “missão constitucional” das Forças Armadas.
Conforme foi explicado, há uma boa e legítima preocupação em se formar “pessoas do bem”, preocupadas e dispostas a defender a PÁTRIA e a DEMOCRACIA. No entanto, contrariando o que alguns imaginam, esta disposição não se revela plenamente no militar nacionalista e sim no militar patriota.
Portanto, parece-nos que os autores do documento petista estão muito equivocados quando querem ter militares nacionalistas nas Forças Armadas.
No texto abaixo, pode-se ler o que se ensina sobre patriotismo e nacionalismo aos Cadetes de Caxias, formados na Academia Militar das Agulhas Negras. Essas linhas foram copiadas do Caderno de Instrução denominado Liderança Militar, usado pelos discentes para estudar esta fenomenologia.
Patriotismo
A Pátria é o país em que nascemos e ao qual estamos presos por profundas raízes pessoais e familiares. A ideia de Pátria carrega um forte potencial emocional porque enfatiza a continuidade histórica de um povo, isto é, a sucessão de gerações que construíram, com sacrifício, o patrimônio comum do território conquistado, das riquezas, das ideias, dos símbolos, da miscigenação das raças, da linguagem e dos valores culturais. Implica, ainda, no entendimento que este patrimônio, herdado dos antepassados, deve ser transmitido aos filhos, aos netos e bisnetos, numa infindável sucessão de gerações. A Pátria é um valor fundamental que só se aprecia devidamente quando dele se é privado.
Nas palavras do insigne Rui Barbosa: “A Pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são benignos e residem originariamente no amor”.
O patriotismo é o sentimento de amor incondicional à Pátria. Trata-se de um sentimento complexo, no qual podem ser identificadas quatro características:
- O desinteresse, isto é, o patriotismo não visa vantagem pessoal, mas, ao contrário, é capaz de sacrifícios, mesmo da própria vida. Toda Pátria constituiu-se devido ao holocausto de inúmeros cidadãos anônimos que, na paz e na guerra alicerçaram a sua grandeza com o seu suor e seu sangue.
- A realidade, ou seja, o amor patriótico é dedicado à Pátria real, com seus aspectos positivos e negativos, sem a necessidade de criar uma imagem fantástica que na verdade não existe.
- A permanência, que é a fidelidade constante, sem desânimo, tanto nas horas de glória, quanto nas de humilhação.
- O amor sem invejas, nem rivalidades, uma vez que o patriota sabe que existem outras pátrias maiores, mais ricas e mais poderosas, mas isto não lhe desperta inveja ou ressentimento, mas apenas o estimula a trabalhar mais para a grandeza da sua pátria.
O patriotismo se distingue do nacionalismo principalmente pelas duas últimas características. O nacionalismo é uma espécie de estado febril do patriotismo, que pode ser identificado em determinados períodos da história de um povo, principalmente por ocasião de lutas pela emancipação política ou econômica. O nacionalismo geralmente contém um viés de exagero e xenofobia.
Entretanto, o verdadeiro patriotismo não pode se reduzir a um simples sentimentalismo. Mais do que isto, ele se expressa através da atuação consciente e ativa do cidadão no cumprimento dos seus deveres, do seu esforço em contribuir para o progresso e engrandecimento de sua Pátria e da solidariedade com os compatriotas. Nestas circunstâncias ele se confunde com o civismo, entendido como a dedicação e fidelidade ao interesse público.
O militar, que empenha, em juramento, o sacrifício da própria vida em defesa da Pátria, não pode deixar de ser um patriota, senão irá faltar ao compromisso prestado diante da Bandeira e se tornará um indivíduo sem honra.
O patriotismo precisa ser ensinado à juventude militar. Para isso, os oficiais e graduados devem conhecer e constantemente apontar aos seus subordinados exemplos das potencialidades e capacidades do Brasil, buscando na Geografia e na História os elementos, os fatos e os heróis, fundamentais para estimular os mais jovens e convencê-los que sua Pátria é uma grande Pátria. Este trabalho é indispensável, porque patriotismo é amor e ninguém ama o que não conhece.
Pelo que expusemos, pode-se inferir que os militares brasileiros não precisam receber lições para formar seus substitutos. Fazemos isto há mais de duzentos anos e os processos de formação dos nossos oficiais e sargentos são constantemente revistos e aperfeiçoados, para que nossas Forças possam se adequar às situações e circunstâncias impostas por um mundo em permanente transformação e fazer o que precisa ser feito!
Parcerias em E.S.G. / LGPD / Educação de Segurança / Cliente Oculto / Transporte Sigiloso de Bens / Proteção de Pessoas Ameaçadas / Serviços Secretos Privados.
8 aExcelente. Nosso Echo é Bravo.
Gestor de Segurança e Inteligência Patrimonial
8 aSOMOS AGULHAS NEGRAS.
Especialista em Segurança da Informação e Prospecção Tecnológica.
8 aExcelente texto, republicá-lo-ei.
Oficial General (Reserva)
8 aCel Hecksher, excelente texto. Obrigado. Vamos em frente.
Chefe da Divisão de Engenharia e Manutenção na Exército Brasileiro, Engenharia Elétrica.
8 aMais uma vez, muito obrigado "Senhor" Mario Hecksher, pelas suas palavras que vibram em meu coração desde de 1988, como então, cadete do Turma General Airosa!