AS FORÇAS ARMADAS E AS GUERRILHAS

Naquele ano as prontidões eram constantes nas unidades militares, afinal estávamos em 1969 e os esquerdistas, em todo o mundo, estavam alvoroçados, pois acreditavam piamente que, dentro em pouco, a revolução comunista estaria vitoriosa por toda parte.

Na América Latina, o foco irradiador era Cuba, de onde Fidel Castro exportava a guerrilha para diversos países.

No Brasil vivíamos a fase da guerrilha urbana. Os terroristas seguiam a “Cartilha do guerrilheiro urbano”, escrita por Carlos Marighela, e eram adeptos do “foquismo”, pregado pelos barbudos castristas.

No início, tentou-se empregar as polícias, civil e militar, no combate aos terroristas, que assaltavam bancos, sequestravam e matavam pessoas, na sua preparação para derrubar o governo.

Em duas ocasiões meu comandante determinou que eu acompanhasse ações dos policiais do DOPS e foi nestas ocasiões que pude perceber o amadorismo e despreparo de nossas polícias. Realmente não poderiam se opor aos guerrilheiros urbanos e terroristas, ou a qualquer opositor, que se mostrasse medianamente organizado.

Em uma das vezes, o comandante determinou que eu participasse de uma operação policial do tipo que, mais tarde, seria chamada “estouro de aparelho”.

Quando cheguei ao DOPS e me apresentei ao delegado que iria comandar a ação, havia um intenso burburinho nas proximidades da sala onde era o seu gabinete. Lá dentro, já estavam três outras pessoas que me foram apresentadas, sendo dito que também participariam da operação.

Daí a poucos minutos começaram a chegar outros policiais e a sala ficou cheia de gente. Desde o início, fiquei em dúvida se todos se conheciam. Eu nunca os tinha visto e não fui apresentado ao grupo, que teria cerca de vinte homens.

Todos estavam em trajes civis e não tinham nenhum sinal de identificação, fosse um lenço no pescoço ou um colete escrito “polícia”, como hoje se usa, enfim algo que pudesse evitar a troca de tiros entre a “tropa amiga”.

O armamento era diversificado, indo das espingardas calibre 12, passando por rifles “papo-amarelo” calibre 44, pistolas Luger e, em sua maioria, revólveres 38.

Em cinco minutos o chefe deu sumária orientação aos agentes e, em sequência, saímos pela porta da frente do DOPS, embarcando em viaturas de tipos variados, bem identificadas com emblemas da polícia civil e que aguardavam em fila.

Embarquei em uma delas com uns sujeitos que não conhecia.

O suposto “aparelho” ficava no bairro chamado Gameleira, na direção de Betim.

Para minha surpresa, além de estarmos em veículos identificados por emblemas da polícia, numa operação que exigia uma aproximação sigilosa, tão logo se iniciou o deslocamento, foram ligadas todas as sirenes e o comboio seguiu através dos principais logradouros de Belo Horizonte em inacreditável, tumultuada e desnecessária correria.

O “aparelho” era uma pequena casa de alvenaria no centro de um grande terreno, com algumas poucas árvores, circundado por um muro baixo e uma cerca de arame farpado de quatro fios.

A chegada da “patrulha” e a abordagem do objetivo foi, como não poderia deixar de ser, precipitada e perigosa, com os agentes entrando por todos os lados, sem segurança alguma e com alguns mais afoitos tentando chegar na frente e, de imediato, chutando a porta da casa, que foi derrubada com estrondo.

Não havia ninguém no aparelho. Ainda bem, pois se tivesse ocorrido um tiroteio, era bem provável que os agentes acabassem atirando uns nos outros, devido à falta de controle do chefe sobre a equipe e à improvisação das ações!

Depois desta experiência, não me admirei quando se passou a empregar militares das Forças Armadas no combate ao terrorismo e à guerrilha urbana, que existiam naquela época.

Quanto aos incipientes focos de guerrilha rural, que surgiram logo em seguida em nosso país, só o Exército poderia tê-los combatido e eliminado. Se não tivéssemos agido, com oportunidade e eficiência, hoje teríamos no Brasil, com toda certeza, uma situação semelhante àquela da Colômbia, Peru e tantos outros países da América Hispânica, onde as guerrilhas comunistas, inicialmente insufladas e apoiadas pela URSS, através de Cuba, aliaram-se aos narcotraficantes locais, quando este apoio começou a diminuir, e passaram a sobreviver à custa do tráfico internacional de drogas. Tais movimentos existem até hoje, dificultando ou impedindo a paz e o desenvolvimento dos povos vizinhos e disseminando pelo mundo inteiro a peste das drogas ilegais.

 

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