Minha história do 08 de Abril
"O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Solidão, desigualdade social, salários baixos, falta de segurança pública, estresse no trabalho, relações tóxicas e história de vida são alguns fatores que aumentam o nível de estresse, podendo desencadear um transtorno de ansiedade. Estados de ansiedades frequentes e intensos desencadeiam sofrimento psicoemocional, aumentam também as chances do indivíduo desenvolver diabetes, pressão alta, câncer, infarto e Acidente Vascular Cerebral( AVC)." Sara Gomes
Você conhece alguém que passou por momentos de dificuldade com os problemas de saúde mais falados da atualidade?
Se não, vou apresentar a minha.
08 de Abril.
Este dia marcou e parece que foi a muitos anos, mas não.
Foi a apenas 2 anos que tudo mudou e aconteceu.
Não sei ao certo o que é o tudo, pois nem tudo ficou explicado de uma forma completa, mas foi nessa data.
Foi neste dia que pela 1ª vez em muitos anos na empresa que me apaixonei por trabalhar que saí cedo (cedo mesmo) da loja.
Não para alguma reunião, encontro com Clientes, negociações ou algo do trabalho (rotinas)...
Saí cedo, pois foi o dia que caí!
O dia que fui derrotado por algo que eu não sabia que tinha. Por algo que pensava (creio que muitos da minha geração também pensam) fosse uma coisa de "rico" ou de “gente fraca”.
Foi neste dia a apenas 2 anos que as síndromes tão faladas hoje no mercado de trabalho me atingiram em cheio e todas de uma vez.
Quem me conhece sabe o quanto fui apaixonado pelo trabalho e pelo desenvolvimento da antiga companhia e em meu pensamento (e ações) sempre busquei fazer o que era necessário para alavancar e desenvolver as competências necessárias, pois além de grato pelo que havia conquistado, sentia um orgulho imenso por ter apoiado na construção de algo maravilhoso.
Um sentimento de dever cumprido por tantos planos e estratégias bem sucedidos nos eixos Clientes, Equipe, Profissionalismo e Resultados.
Mas ao atingir aquele momento de carreira (o alto) eu sofri a queda que infelizmente me fez sair do lugar que tanto amava.
Naquele fatídico 08 de abril por volta das 15h, saí da loja, vi ainda alguns colaboradores, cumprimentei-os, pedi para cuidarem da loja, entrei no carro e saí de lá para não mais voltar!
Aquele dia considero que foi meu último dia naquela companhia.
Entrei no carro com uma falta de ar terrível (crise de ansiedade), dores no peito (angústia e pânico), pensamentos e emoções negativas (princípio de depressão), esgotamento físico e mental (burnout), ao vibrar o telefone eu tremia, chorava (estresse) e ao pensar que tinha que voltar àquela loja a cabeça girava e apenas desconexão da realidade (síndrome do pânico).
Sim!
Naquele 08 de abril eu saí cedo, pela primeira vez, sem saber o que fazer.
Sentia que tinha muito a fazer e nada ao mesmo tempo.
Pensava ter feito tudo certo, mas diziam que era tudo errado e eu caí com isso.
Acelerei o carro na rodovia Raposo Tavares (assim que saí da loja) lembro do número no velocímetro 170 km, haviam caminhões à frente, fechei os olhos, soltei o volante, pois a cabeça pensava apenas que eu era culpado por tudo, que eu não era bom o suficiente, que nunca fazia nada certo e que eu não era querido.
Sim. Só queria tirar aquela dor, aquela angústia, recuperar o ar, qlq coisa... até mesmo voar pra outro lugar.
Soltei o volante para tirar a dor e o sofrimento, mas algo aconteceu.
Acredito que Deus, Nossa Senhora e minha Mãe que está no céu me fizeram abrir os olhos, ver que o volante virou para a esquerda e Ele colocou minhas mãos para segurar novamente.
Naquele momento comecei a chorar, chorar sem entender porque estava chorando.
Ainda sem entender cheguei em casa chorando e apenas sussurrei para minha esposa: "Preciso de ajuda", após isso apaguei cansado, chorando e não voltei mais ao lugar que pensava ser o único que valia a pena, pois tinha sido minha maior busca em tantos anos.
Passei 20 dias sem conseguir emitir uma palavra de carinho para minha família, 20 noites sem dormir completamente, 20 longos dias afundado entre o canto esquerdo do sofá e o quarto de casa, sem conseguir comer, sem ação e com todos os pensamentos negativos que alguém pode ter.
Não pensava em falar com ninguém na empresa, não conseguia pensar e ali depois de tanto tempo (sem saber o tempo) apenas alguns amigos (verdadeiros) e meu líder direto procuraram saber como eu estava, mas não era eu quem conseguia falar, dar notícias e/ou quebrar a barreira interna em que estava. Minha esposa foi minha companhia e interlocutora naquele período.
Tive apoio dela, do meu filho e da minha gatinha que ficaram comigo o tempo todo daquele sofrimento terrível.
Consegui buscar ajuda!
Passei a fazer as seções de terapia inicialmente para recuperar os sentidos e a ajuda de profissionais me trouxeram novamente o entendimento de que eu tinha errado, mas que não era culpado por tudo como pensava.
Passei então por um processo de autoconhecimento e aceitação constante e diário (não parei mais) e depois de quase 30 dias consegui sair de casa pela primeira vez.
Sentia muito medo, mas o respeito e carinho pelo meu líder naquele momento me ajudaram a superar.
Saí para almoçar com ele, naquele momento sabia que eu importava (pelo menos para ele). Naquele mesmo dia descobri que ele iria embora do país e passei a sentir que mesmo voltando ao trabalho as coisas não seriam mais as mesmas.
No carro com ele indo ao restaurante ouvi a conversa quieto e quando ele ao terminar me perguntou se havia entendido a conversa (foi em Espanhol) e eu disse: Sim, tudo.
A cabeça já passou a pensar que eu deveria me preparar, pois meu sentimento era de que ele confiava em mim, não mais a companhia.
Houve uma coisa boa em parar aquele tempo.
Tive a possibilidade de me conhecer e saber que eu também deveria reconhecer meus limites. Quem eram verdadeiros, que nem tudo é feito só de paixão e que as expectativas baseados em história construída e alavancada, devem ser constantemente acompanhadas de evolução, mas também quebrar os modelos mentais tão impostos pela sociedade.
Sempre achei que era besteira algumas coisas como: curtir o tempo de folga, desacelerar (mesmo com tantas coisas boas aparecendo), descansar, sair de férias realmente (desligando o celular corporativo), mas somente depois de quase perder a vida (sem exagero) reconheci que o mundo tem mais para curtir do que apenas o trabalho.
Sempre me desafiei a conquistar (não diminui isso), mas entendi após aquela situação que o planejamento ajuda mais do que ações sem planos definidos e discutidos entre o todo (grupo) e que eu não devo provar para ninguém que eu sou merecedor, apenas para mim.
Consegui neste período ver as coisas por outra perspectiva, ligar frases ditas por pessoas que não queriam o bem de todos e que apenas faziam coisas que não eram corretas para as Equipes, apenas se preocupavam consigo (tenho excelente memória).
Aproximadamente 55 dias retornei à minha psicóloga e meu psiquiatra, dizendo que gostaria de retornar ao trabalho, naquele momento surpreendidos e felizes por ouvir o que eu havia dito, contaram-me que infelizmente ambos atendem pessoas que passam muitos meses e até vários anos, mas não conseguem ver que podem voltar a ter uma vida normal novamente.
Normal? Sim, normal!
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Da mesma forma? Não. Certamente não.
Mas Reginaldo, por que está contando isso?
Simples... reconheço que errei por querer demais ajudar no desenvolvimento das lojas e principalmente da que assumi a direção.
Tentava mostrar que a velocidade necessária para compensar o tempo passado, deveria ser maior e isso chocou.
Sim, recebi a demanda e como guerreiro entusiasta do trabalho, acreditei que era o melhor para as pessoas.
Que uma falsa zona de conforto criada por alguns na filial, uma "síndrome de Gabriela" estava instalada (eu nasci assim, cresci assim e vou morrer assim), ouvi várias vezes de parte da liderança lá instalada:
"isso não dá certo".
"Já tentaram antes".
"O Diretor antigo estudou em outro país".
Duvidavam da competência que tinha, da história de vida de um carreirista como eu naquela companhia e trabalhavam de forma combinada para “provar” que alguém de "fora" não deveria permanecer, pois julgavam que aquilo que viviam era o melhor e o limite da filial.
Infelizmente naquele momento pessoas que julgavam a capacidade de trazer inovações pois comparavam currículos (o meu e de outros que passaram por lá) isso me dava ainda mais força e pensava poder ajudar mostrando proximidade com o negócio, com as equipes de loja, mas errei por não entender as diferenças culturais, não ter tido o período de conhecimento dos meus gatilhos emocionais e controle dos mesmos, por não ter exigido por exemplo que decisões anteriores (já decididas em fóruns), fossem aplicadas antes de assumir a cadeira que passei a ocupar.
Sei que de várias formas, contribui com o desenvolvimento de uma das maiores companhias do varejo de construção do Brasil.
Apoiei no desenvolvimento de planos, pessoas, estratégias, ações táticas (ousadas e inovadoras na maioria das vezes).
Tive a felicidade de ser escolhido para representar essa empresa em pelo menos 2 países (México e França) a falar com CEO's, Diretores, Gerentes e Equipes de outros países.
Conheci todos os estados onde a companhia tem lojas, a fim de aplicar o que fazíamos no grupo para desenvolver os setores.
Meu nome foi acompanhado durante todos os anos na companhia (e ainda é) pelo principal setor que ajudei no desenvolvimento (sou Reginaldo, Régis, Reg de Jardim).
Dediquei muito (e não me arrependo) para desenvolver meus times e apresentar a outras pessoas durante anos a cultura da empresa e seus Valores (Coordenadores, Trainees, Gerentes, Diretores de várias áreas), mas após sofrer isso que contei, fui classificado como um líder ruim e julgado culpado na companhia.
Infelizmente não tive forças ou possibilidade de me defender (não sei se seria viável).
Conto isso, pois a 2 anos eu escutei uma frase me tirou o chão e após aquilo não consegui mais agir (um dos gatilhos emocionais).
Quando estava sendo "investigado", perguntei se eu poderia falar ou só ouvir?
E a resposta:
"Você só vai ouvir" ativou o gatilho e minha voz sumiu.
Por isso após ter passado por isso, falo para as pessoas que me perguntam:
"Cuide de sua saúde, de sua mente, do seu espírito e mantenha o equilíbrio".
Trabalhei muito, amei muito a companhia, sei da história que ajudei a desenvolver por quase 19 anos, mesmo assim tudo foi abaixo em apenas 32 segundos (foi este tempo que demorei para ser demitido).
Acredito hoje que Deus me preparou, que Nossa Senhora me tirou em abril para este "retiro mental", pois se eu tivesse permanecido, naquele momento seria demitido e talvez hoje, não tivesse como lhes contar (a quem está lendo) como me conheci.
Deixo aqui uma frase que ouvi e aprendi nas seções de terapia:
"Viva um dia de cada vez."
Sei que temos um dos países que mais sofre com ansiedade no mundo.
Que nossas crianças e jovens estão sendo bombardeados com informações rápidas e quanto mais temos, mais queremos.
Constantemente não terminam sequer de ler e acham que já sabem de tudo.
Desta forma estamos criando ainda mais ansiosos, pessoas que não compreendem a vida, suas emoções e que são movidas apenas pelo trabalho ou pelo mercado.
"Viver um dia de cada vez", ajuda a não me julgar pelo passado (aprendi muito), não pensar apenas no futuro (vai acontecer) e aproveitar o momento presente. Este sim, a dádiva de estar aqui, agora.
Às minhas equipes, sou muito grato a vocês.
Aos meus verdadeiros amigos (grupo dos 10) obrigado por não terem me julgado e estarem comigo naquele momento e agora também.
Às empresas por onde passei, sou grato pelo aprendizado e histórias que ouvi e vivi.
À minha família (incluindo minhas gatas), sou apaixonado por vocês e sei o quanto estamos aprendendo com tantas provações.
E a mim, agradeço por estar vivendo um dia de cada vez, reconhecendo meus limites, me preparando melhor, reconhecendo que não tenho obrigação de saber tudo, mas também disposto a aprender um pouco a cada dia.
Ao dia 08 de abril de 2022, sou grato, pois se não fosse este dia, não estaria melhor do que era e ainda abaixo do que serei.
Reginaldo Cordeiro.
08/04/2024.
Créditos:
Franquias | Gestão | Vendas | Implantação | Comercial | Treinamento | Metas | Gerente de vendas
8 mReginaldo Cordeiro a grandeza de um homem de alto valor é justamente a capacidade de se fazer uma reforma íntima onde o árduo caminho de reconstrução é doloroso e solitário. Destaco sua generosidade em mesmo tendo passado por algo traumático tem a hombridade de compartilhar e ajudar outras pessoas. Trabalhamos juntos e sua competência e comprometimento sempre foi notório ao seu perfil profissional. Hoje claramente após todas essas agruras o Reginaldo é um ser humano melhor. Parabéns Homem de Alto Valor 👏🏻👏🏻👏🏻
Administrativo / Financeiro
9 mShow!! Que linda msg, mesmo que seja para nos mostrar (compartilhar), esse momento nunca esperado. Fico feliz com sua superação, e principalmente por contribuir de forma clara este ensinamento. Me vi nessa história narrada, onde contribui com o meu profissionalismo por 20 anos, em uma companhia incrível. Na qual fui desligada sem entender o que realmente estava acontecendo. Grata por ter compartilhado sua história. E te desejo sucesso, onde quer que esteja.
Especialista em Performance na Leroy Merlin | Data Science and Analytics
9 mRequer muita coragem para ser vulnerável e imperfeito Régis, parabéns por isso. Que você continue na procura de ser sua melhor versão! Obrigada pelos ensinamentos e por confiar no meu trabalho nas oportunidades que tivemos de trabalhar juntos.
Tive o prazer de aprender muito com o Régis em um tempo curtinho , num PLM para minha missão atual ,aprendizados para a vida . Obrigada Régis e devo agradecer também a Wesley Mendonça, que era meu líder a época por me proporcionar essa jornada .
Pack Operative
9 mTrabalhamos juntos por pouco tempo, foi o suficiente pra ver a diferença de sua gestão com as anteriores. Você havia transformado o ambiente pra melhor, estava tudo fluindo bem, infelizmente no Brasil os bons profissionais sempre vão embora. A falta de reconhecimento é um dos maiores motivos. Sua garra, sua vontade de querer fazer a coisa acontecer era gigante, você trabalhava como se fosse seu primeiro dia na empresa. Posso dizer que tenho orgulho de ter tido trabalho com você 🤙👊. Continue com seus princípios e valores, Deus lhe abençoe ! Grande abraço !