Minha melancolia sem fim
É comovente como se movem os atores e o desenrolar do filme Melancolia de Lars Von Trier, um final de mundo anunciado e apocalíptico e com um cometa chegando a olho nu, diferente do nosso Corona invisível, destrutivo, silencioso e, exatamente ou talvez por isso, ignorado por alguns dementes oficiais. Um final com cheiro de cerveja barata.
Neste lindo entardecer de outono com um céu azul digno de emoções labirínticas e (des)integradas ouso pensar que, apesar de não ter um asteróide à vista, temos algo destrutivo e insidioso alimentado por insondáveis interferências humanas (sempre nosotros) e muito eficaz.
Duas semanas em casa e não sei quando sairei e se (quem sabe?) sairei; não creio que chegamos na pior parte. Vou deixar minhas previsões lúgubres em silêncio pois nem eu mesma quero ser atordoada sobre o que vem tão próximo e invisível... mas sei que tentarei sobreviver apesar de temer por tantos.
Dói olhar abaixo do voo dos bem-te-vis, andorinhas, falcões e urubus ansiosoos, uma cidade inerte, sobrevivendo com os ônibus que passam junto com o caminhão da coleta de lixo ou os porteiros no seu passo rápido e mochila no ombro, buscando o refúgio do cansaço no banco do ônibus que evitamos a qualquer custo, menos deles.
Essa praga deve expulsar os vendilhões? No lo creo, pêro me gustaria mucho.
Ah, insensatez desse mundo tão carente de amor e cheio de belezas silenciosas e dramáticas. Como sobreviver sem esse vento geladinho é difícil mas nem sempre o final é apocalíptico, às vezes é um lindo entardecer com um horizonte, sem o mar da Bahia ou a visão de um rio Tapajós majestoso, é só o por do sol sob um desfilar de exibidos arranha-céus atônitos com o crepúsculo.