Montagem de times e equipes de Design: sobre produtos ou sobre pessoas?
Hoje eu venho com a complexa e muito difícil tarefa que é falar sobre modelos de equipes, times e perfis de personalidade do designer contemporâneo. É um tema que eu considero bastante polêmico, um terreno em que não podemos sermos reducionistas mas também não devemos incorrer no erro de fórmulas fechadas e pré-estabelecidas como modelos “mais corretos”.
Eu como designer, apesar de muito criativa, em meus anos de profissão e também reflexo de um traço de personalidade pessoal, sou uma pessoa muito prática, uma dicotomia, mas em minha humilde opinião, uma dicotomia que é o traço mais marcante do design contemporâneo, o perfil criativo aliado ao analítico. Eu tenho uma frase que pode soar simplista mas eu me arrisco a utilizá-la sempre que necessário em um projeto ou quando sou indagada sobre opinião pessoal: “O modelo mais correto é o que funciona”.
Não adianta eu propor, falar de metodologias, processos, perfis de personalidades e skills que um designer deve possuir se o designer está deslocado dentro do time, se a equipe está mal entrosada, se o trabalho muitas vezes requer um processo burocrático, etc. Então, antes de mais nada, eu sempre digo em workshops, temos que analisar cada empresa, cada cenário, e o papel de cada pessoa no processo em que a área é responsável, fórmulas prontas, sistemas de hierarquia, guias de comportamento, se a área é nova, ou a área de design da empresa é apenas um designer.
“ Uma provocação às empresas: menos propaganda e mais conversação; menos marketing e mais relacionamento.” Victor Falasca Megido em A Revolução do Design
Então seguem algumas reflexões que não se propõe serem guias de carreira, mas sim uma análise baseada no mercado atual e no caráter da atuação e das responsabilidades que cada designer, em uma perspectiva macro, geralmente deve desenvolver para melhorar seu processo de trabalho e ser capaz de criar uma cultura de design por onde quer que passe. Acredito que esse seja o maior desafio de qualquer que seja a especialidade, nível ou posição do designer: ser standart da “cultura do design.”
“ Design é inteligência criativa para criar futuros possíveis. A nossa provocação é pensar como designers. Esta é a revolução. Sim, somos/seremos todos, de certa forma, designers.” Victor Falasca Megido em A Revolução do Design
E o que implica uma cultura do design?
Em primeiro lugar, e mais importante de tudo é o designer deve ter livre trânsito entre pessoas, áreas e fases do projeto. Geralmente, o designer atua apenas ou na parte de produção, ou na parte de pesquisa principalmente, é necessário que o designer esteja presente na estratégia, na pesquisa, na validação, no desenvolvimento, na entrega e no acompanhamento. Isso, não necessariamente implica que tenha que ser uma pessoa com o cargo de estrategista, ux, lead, etc, isso implica que é necessário pessoas que tenham uma visão dos processos de design em toda a cadeia de trabalho.
“Não mais o design que atua no final do ciclo da cadeia do valor, e sim um design sistêmico.” Victor Falasca Megido em A Revolução do Design
“A natureza do trabalho, em geral, está mudando. (…) Design se torna, então, um caminho para reduzir atritos, dissonâncias cognitivas, e, reitero, aplica-se a indústrias, agronegócios, arranjos produtivos, cidades, marcas, serviços, espaços, sistemas de mobilidade, objetos.(…) Possibilita novos empreendimentos, facilita a inserção de novas ideias na sociedade, viabiliza futuros captando recursos de formas diferentes, mais horizontais, com transparência.” Victor Falasca Megido em A Revolução do Design
Eu, particurlarmente, prefiro destacar o perfil do principal designer com as skills de um típico designer thinker mas com um viés de facilitador. Não importa se você seja lead, coordenador, gerente ou até mesmo diretor. A figura do designer facilitador é conduzir pessoas através de processos, ter uma visão macro, mas saber o papel micro de cada membro do time.
“Sou formado em Desenho Industrial e, desde o início da faculdade, ensinaram-me que a pergunta pode ser a ferramenta mais poderosa de um designer. Jaakko Tammela em A Revolução do Design
Tarefa essa que implica em várias responsabilidades, como extrair o melhor de cada membro, levantar o máximo de possibilidades possíveis e guiar o time através delas, fomentar um ambiente rico em criatividade, livre de amarras corporativas, em que a comunicação flua e todos os membros se sintam dividindo a mesma responsabilidade com um objetivo em comum mas exercendo papéis diferentes, de acordo com suas especialidades.
“Designer é uma profissão imaginativa e produtiva. Ou seja, trabalha entre o mundo das ideias e a produção do concreto. Tem a preocupação de trazer valor e qualidade de vida para as pessoas e, por isso, precisa estar conectado com o ser humano e sua evolução.” Jaakko Tammela em A Revolução do Design
Um líder não se preocupa em ser reconhecido ou ser chamado por líder, ele se preocupa em atingir os objetivos de maneira colaborativa com suas habilidades pessoais, intra pessoais e expertise. Sendo assim, em cada projeto, todos no time não pensamos e agimos como líderes em nossa própria expertise?
Temos que passar de uma hierarquia verticalizada de responsabilidades, para compartilhamento de conhecimentos e responsabilidade, uma estrutura verticalizada em que todos temos papéis distintos, com o mesmo peso mas que cada pessoa seja a responsável por conduzir o time em momentos diferentes de acordo com o que é mais necessário em cada etapa/momento do projeto.
Então eu convido cada um, a se questionar não sobre responsabilidades atreladas a títulos, mas como vem atuando, qual seu impacto nas empresas em que você atuou ou atua, o quanto e com que qualidade você entrega? Qual seu nível de percepção sobre um projeto? Quais relações você é capaz de abstrair que os outros não? Como você se definiria em termos de uma peça dentro de uma equipe? Qual seu nível de comprometimento com o Design que está sendo construído?
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