Mudar sem mudar...
Quadra de basquete dentro do escritório atual da TBWA/CHIAT/DAY em Los Angeles.

Mudar sem mudar...

Jay Chiat. Quem?? Jay Chiat?? Nunca tinha ouvido falar neste nome até a tarde de hoje...

Lendo o excelente livro Cubiculados: uma história secreta do local de trabalho de Nickel Saval, me deparei com esse personagem dono de uma famosa agência de publicidade americana na década de 80 - a Chiat/Day, conhecido pelas suas frases "de impacto" (Correr riscos me dá energia / O dinheiro não me mudou. Sempre fui um imbecil.) e pelo comercial do primeiro Macintosh da Apple em 1984.

Mas, não é propriamente sobre o trabalho da sua agência de publicidade que quero comentar e sim sobre uma "mudança organizacional" realizada por ele no início dos anos 90.

Conta a lenda que Jay Chiat estava, nas suas férias, esquiando pelas montanhas de neve de Telluride, um famoso destino de esqui no Colorado/EUA, quando teve um insight. Seu escritório precisaria passar para uma mudança radical e isso iria impactar de maneira decisiva a forma de conduzir os negócios da sua empresa.

Era chegada a época de inventar o Escritório do Futuro.

Na experiência radical de layout, paredes, mesas e cubículos desapareceram. Computadores (desktops) e telefones fixos também foram "banidos". Aos profissionais, foi solicitado que os objetos pessoais (fotos da família, desenhos dos filhos, etc.) ficassem guardados nos armários. E, por fim, cada profissional recebeu um telefone celular e um laptop para trabalhar onde quisessem. Para completar essa mudança radical, foi instalada uma pista coberta de carrinhos "bate-bate" (retirada de um parque de diversões desativado) para as reuniões privadas entre duas pessoas.

Não preciso dizer que o "Escritório do Futuro", virou O assunto de todo o mundo de negócios na época. A revista WIRED publicou dois artigos - OFFICE OF THE FUTURE e outro com o título sugestivo de VIRTUAL CHIAT. A revista TIME, por sua vez, publicou um artigo definitivo: THE AGE OF THE "ROAD WARRIOR" - In the "virtual" office, paper has disappeared - and so have most employess, onde dizia que "os teletrabalhadores da Chiat/Day estão entre os precursores do emprego na era da informação".

Contudo, em menos de um ano após essa inovação radical na Chiat/Day, tudo que podia dar errado, deu errado...As pessoas ficavam perdidas no novo ambiente. Não havia lugares para todos. As pessoas começaram a guardar as coisas do dia-a-dia no porta-mala dos carros. O dinheiro acabou e não haviam recursos para os laptops e celulares necessários. Os gerentes não encontravam as equipes...O trabalho travou!! Em 1998, o Escritório do Futuro virou um (desastre!) do passado.

A mesma revista Wired publicou, em 1999, um artigo com o provocativo título LOST IN SPACE e o mais ainda debochado subtítulo "Foi uma experiência ousada na criação do escritório do futuro. Não havia escritórios, nem mesas, nem equipamento pessoal. E não há sobreviventes".

Mas, qual a principal causa do fracasso do Chrysalis (code-name do Escritório do Futuro)?

Muitos afirmaram, na época, que não se pode ter um escritório igualitário porque as pessoas não estão preparadas para este arranjo. Algumas pessoas são feitas para mandar, e outras são feitas para serem mandadas: a hierarquia é natural. Garanto que essa mesma explicação poderia ser dada nos dias de hoje....

NADA MAIS EQUIVOCADO!!!

Pelo contrário, o próprio Nickel Saval, no mesmo Cubiculados, fornece uma ótima explicação:

"Em nome da extinção da hierarquia, Chiat instituiu, hierarquicamente, um sistema igualitário cuja verdade fundamental só ele estava em posição de reconhecer. Num clássico estudo de caso de consequências não intencionais, o experimento fracassou e os sujeitos da experiência levaram a culpa."

Apesar do clima revolucionário do fim dos anos 90, os sujeitos da experiência (as pessoas que trabalhavam por lá!) em nenhum momento foram consultados, se tinham alguma opinião sobre como deveria ser o local de trabalho e, muito menos, como deveria ser um modelo de gestão deste trabalho.

É sabido, que nos dias de hoje, os escritórios "abertos, hospitaleiros e divertidos" à la Google, estão na moda. Muitas organizações apostam nesse layout como um "turning point" para um novo modelo organizacional, mais "flat", menos hierarquizado.

Porém, de nada adianta só a adoção de layouts mais "friendly interactive". É um equívoco querer orientar e controlar onde e como as interações entre as pessoas ocorrem dentro das organizações. De fato, até hoje não se tem uma prova concreta que a esses tipos de layout favorecem a interação e, portanto, um modelo de gestão mais "democrático".

No fundo, enquanto mantivermos estruturas hierarquizadas, de comando-e-controle, de baixa autonomia, as organizações estarão fadadas a mudar sem mudar....

Hebson Nery

Health & Safety Director

7 a

muito bom meu Camarada!

Paulo Peres

Design Manager | Líder Sr. Negócios Digitais | Design Leadership | Innovation Consultant | Professor | Mentor

7 a

Excelente artigo

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