Muita gente... Muito carro... Pouco tempo... Pouca paciência...

Muita gente... Muito carro... Pouco tempo... Pouca paciência...

Penso que nem São Cristóvão conseguiria dar jeito no caos que se transformou o trânsito nas grandes cidades. Dizem ser culpa de um governo populista, que possibilitou às grandes massas a aquisição de veículos. Dizem também que faltam projetos de mobilidade urbana, omissão da administração pública... Alguém precisa ser responsabilizado por isso...

Frequentemente o semáforo ficava verde – seis vezes – e eu mal conseguia andar alguns metros para atravessar a esquina com o meu carro. Ouvir música, aulas de inglês... nada resolvia. A ansiedade ficava cutucando a minha racionalidade. Dava dor de estômago, vontade de xingar, comer o pão todo sobre o banco do lado (era para o café da manhã da família). Aí me vinha uma dúvida: o que estou fazendo aqui? Minha vida não pode ficar empatada por conta do caos no trânsito.

Resolvi fazer umas mudanças: vendi a casa e fui morar em um apartamento que ficasse próximo de tudo: do trabalho, da escola das crianças, da empresa do meu esposo. Vendi o meu carro também e comecei a andar a pé (ou de carros compartilhados, eventualmente). Comprei um calçado bem confortável (que levo sempre em minha bolsa) e fico num troca-troca de sapatos toda a vez que preciso me deslocar.

O que eu ganhei com isso? Dinheiro, claro, porque não preciso mais pagar pelo carro, combustível, impostos, multas, seguros, manutenção, estacionamento; também economizo com academias (ando a pé, em média, dez quilômetros por dia). Contribuo com o meio ambiente, pois meu carro não está rodando e, consequentemente, não está jogando gases tóxicos no ar. Sorrio mais, porque enquanto caminho, meu corpo libera endorfinas (muito menos estresse). Cumprimento as pessoas, tomo sol nos braços (vitamina D), admiro flores, percebo ninhos de passarinho – sim, existe isso também nas cidades grandes. Ensino, pelo exemplo, meus filhos, colegas e amigos, que o conforto egocêntrico do carro pode ser substituído por outros tipos de prazeres, com ganho social.

Ás vezes, o tempo que eu gasto caminhando é maior (comparando se fosse com carro)... Mas nem sempre, considerando que com frequência eu pegava engarrafamento, precisava esperar para estacionar...

Essa história já acontece há cinco anos. Jamais me arrependi. E penso que, caso mais pessoas conseguissem tomar uma atitude (e não só esperarem que os governantes o façam), é possível um trânsito mais humanizado.

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