Multiletramento
É inquestionável a importância da alfabetização, ela é a inserção no mundo da comunicação de uma maneira totalmente diferente, ao manejar a língua escrita o processo de construção da linguagem muda completamente. Não há como negar que ao conhecer os processos e sistemas da construção de textos o pensamento se transforma alcançando novas possibilidades como afirma Magda Soares:
Tornar-se letrado traz, também, consequências linguísticas: alguns estudos têm mostrado que o letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto; por exemplo: pesquisas que caracterizaram a língua oral de adultos antes de serem alfabetizados, e a compararam com a língua oral que usavam depois de alfabetizados, concluíram que, após aprender a ler e a escrever, esses adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convívio com a língua escrita teve como consequências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas linguísticas e no vocabulário (SOARES, 1998).
O verdadeiro objetivo não é só fazer com que a pessoa conheça a língua escrita, mas que ela além de saber o significado e a constituição das letras, palavras e frases possa também alcançar a capacidade de construir o entendimento de como fazer-se entender plenamente pelos outros pela arte de usar a língua:
Nesse sentido, cabe dizer que há uma diferença em ser alfabetizado e ser letrado… Ser alfabetizado corresponde ao saber ler e escrever, ao fato de ter aprendido o funcionamento do sistema da escrita. Desse modo, a pessoa alfabetizada, grosso modo, consegue registrar graficamente, com a combinação de letras, os sons. Já a pessoa letrada vive a condição ou estado de quem, além de saber ler e escrever faz uso da leitura e da escrita (SILVA e GOULART, 2015, p. 23).
Entendendo isso passamos a falar da verdadeira função do educador. Sabemos que quando a criança chega à escola a expectativa da sociedade é que ela aprenda a “ler o mundo”, isto é, ao entrar no processo de instrução o educador busca introduzir os signos e significados ao educando com o objetivo de dar a ele acesso à cultura da sociedade. Isto se dá no início ao fazê-lo conhecer a língua.
Já no processo de letramento o que se busca é fazer o educando manejar o conhecimento da língua de forma textual, mas agora, em um mundo em constante transformação e com a revolução tecnológica esse processo deve se adaptar ao que podemos definir como multiletramento, que nada mais é do que apresentar as diversas formas de comunicação que se estabeleceram nos últimos anos e que tem revolucionado a maneira da humanidade se comunicar como Magda Soares diz:
na cibercultura, o confronto entre tecnologias tipográficas e digitais de escrita e seus diferenciados efeitos sobre o estado ou condição de quem as utiliza, sugere que se pluralize a palavra letramento e se reconheça que diferentes tecnologias de escrita criam diferentes letramentos. Na verdade, essa necessidade de pluralização da palavra letramento e, portanto, do fenômeno que ela designa já vem sendo reconhecida internacionalmente, para designar diferentes efeitos cognitivos, culturais e sociais em função ora dos contextos de interação com a palavra escrita, ora em função de variadas e múltiplas formas de interação com o mundo – não só a palavra escrita, mas também a comunicação visual, auditiva, espacial (SOARES, 2002).
Letramentos no texto acima citado é exatamente o mesmo que Roxane Rojo apresenta como multiletramento:
Multiletramentos são as práticas de trato com os textos multimodais ou multissemióticos contemporâneos – majoritariamente digitais, mas também impressos - que incluem procedimentos (como gestos para ler, por exemplo) e capacidades de leitura e produção que vão muito além da compreensão e produção de textos escritos, pois incorporam a leitura e (re) produção de imagens e fotos, diagramas, gráficos e infográficos, vídeos, áudio etc (ROJO, 2013, p. 21).
Podemos entender assim que as novas configurações de comunicação da sociedade contemporânea exigem do educador uma visão mais abrangente do que é a alfabetização e letramento hoje. Não há mais espaço para uma educação que não contemple as novas tecnologias e suas características, pois as mesmas estão mudando a forma das pessoas pensarem e consequentemente a maneira delas se comunicarem. Se o educador não se atualizar sua prática não ajudará seu aluno a compreender o mundo em que está inserido.
REFERÊNCIAS:
ROJO, Roxane. Cenários futuros na escola. In: Educação no Século XXI: multiletramentos. Volume 3. São Paulo: Fundação Telefônica, 2013. Disponível em: <http://www.ead.unb.br/arquivos/livros/multiletramentos.pdf>. Acesso em: 24 Ago. 2015.
SILVA, Luciana Soares da. GOULART, Ilsa do Carmo Vieira. Linguagem e pensamento II: guia de estudos. Lavras: UFLA, 2015.
SOARES, Magda. O que é letramento e alfabetização. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, v. 23, n. 81, p. 143-160, 2002.