Mundo e Economia. Ano III nº 43.

Mundo e Economia. Ano III nº 43.

ACONTECIMENTOS ECONÔMICOS DA SEMANA              

Otto Nogami

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi de 0,54% em outubro e ficou 0,41 ponto percentual (p.p.) acima do resultado de setembro (0,13%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,71% e, nos últimos 12 meses, de 4,47%. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta no mês de outubro. A maior variação e o maior impacto positivo vieram de Habitação (1,72% e 0,26 p.p.). Alimentação e bebidas (0,87% e 0,18 p.p.), grupo de maior peso no índice, registrou aumento de preços pelo segundo mês consecutivo. As demais variações ficaram entre o recuo de 0,33% de Transportes e o aumento de 0,49% em Saúde e Cuidados Pessoais. Estes resultados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira (24).

No mesmo dia, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou os resultados da pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) que recuou 0,6% em outubro, descontados os efeitos sazonais, o quarto resultado negativo consecutivo e o mais intenso no período. A principal causa foi a visão negativa sobre o momento para adquirir bens duráveis, com queda de 1,8%, além da percepção do nível de consumo atual, que caiu 1,2%. Apesar disso, o índice se mantém acima do nível de satisfação, com 103,2 pontos, o menor valor desde março, quando alcançou 104,1 pontos. A desaceleração econômica, o aumento da Selic e o encarecimento do crédito têm enfraquecido o consumo, especialmente entre as famílias de maior renda. Quase todos os componentes da ICF apresentaram queda, exceto a perspectiva profissional, que permaneceu inalterada. A percepção sobre a renda atual, embora tenha tido uma leve queda de 0,6% no mês, ainda registra crescimento anual de 3,7%. Os consumidores estão cada vez mais cautelosos em relação ao futuro.

Na sexta-feira (25) o FGV IBRE divulgou o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que recuou 0,7 ponto em outubro, para 93,0 pontos, após quatro altas consecutivas. Segundo a Instituição, o recuo é um movimento de acomodação das expectativas para os próximos meses. A queda da confiança foi influenciada exclusivamente pela piora das expectativas em relação aos próximos meses, enquanto o indicador que mede as avaliações sobre o momento atual registrou alta. O Índice de Expectativas (IE) recuou 2,5 pontos, para 99,7 pontos, após quatro resultados positivos consecutivos. No sentido oposto, o Índice da Situação Atual (ISA) avançou 2,0 pontos, para 83,7 pontos, alcançando o maior nível desde dezembro de 2014 (86,8 pontos).

Nos EUA

A S&P Global reportou em 24 de outubro que o PMI de Manufatura dos EUA subiu ligeiramente para 47,8, sinalizando ainda uma contração no setor, enquanto o PMI de Serviços aumentou levemente para 55,3, indicando resiliência na demanda de serviços. A continuidade dessa discrepância entre setores reforça que o crescimento econômico está mais concentrado nos serviços, enquanto a manufatura continua pressionada por altos custos e condições de crédito restritas.

Segundo o The Conference Board, o PIB dos EUA tem mostrado resiliência, levando a uma revisão da previsão de crescimento para 2,6% em 2024, em meio à queda gradual da inflação e um mercado de trabalho robusto. As projeções apontam para um crescimento mais moderado em 2025, com previsão de que o Federal Reserve possa reduzir as taxas de juros gradualmente no próximo ano

As vendas de casas existentes, divulgadas em 23 de outubro, e os pedidos de bens duráveis em 25 de outubro trouxeram insights sobre o comportamento dos consumidores. Esses indicadores são monitorados como termômetros do consumo e da confiança dos consumidores, especialmente à medida que o mercado imobiliário lida com altas taxas de juros.


O MUNDO

Gunther Rudzit

No domingo (20), a Moldávia teve eleições gerais com grande importância, já que não estava em jogo somente o cargo da presidência, mas também sua relação com a União Europeia. A presidente Maia Sandu concorreu à reeleição, e obteve 42% dos votos, e o ex-procurador geral, Alexandr Stoianoglo, ficou com 26%, fazendo com que seja necessário um segundo turno a ser realizado no dia 03 de novembro. Mas o segundo tema em votação era o mais importante, se a população aprovava a inclusão na Constituição do país a adesão à União Europeia, com o sim recebendo 50,46%, no limite da aprovação. Tanto esta proposta, quanto à reeleição da presidente Sandu são importantes já que a Moldávia está na encruzilhada geopolítica entre Ocidente e Rússia. Por isto mesmo, houve acusações muito fortes por parte da presidente que havia interferência estrangeira contra a mudança constitucional, mas sem afirmar diretamente por parte de quem.

Na segunda-feira (21), o chanceler da Índia, Vikram Misri, deu entrevista nas vésperas do início da Cúpula dos BRICS na Rússia, e afirmou que seu país e a China haviam concordado desescalar a tensão na fronteira. Segundo Misri, os dois lados haviam concordado em retirar tropas da região do Vale Galwan, e começarem patrulhas conjuntas. Esta medida é importante já que foi justamente nesta região que em 2020 soldados chineses e indianos entraram em confronto desarmado, mas que resultou em várias mortes. Este é o primeiro avanço na cooperação entre os dois gigantes nucleares asiáticos nos últimos quatro anos, que têm uma fronteira de 3.440 km não definida.

Na terça-feira (22), o governo da Coréia do Sul declarou que pode vir a considerar fornecer armas à Ucrânia.  A mudança de postura se deve ao fato da Coréia do Norte ter enviado tropas para a Rússia na sua guerra contra as forças ucranianas, e que, segundo o governo de Seoul, receberia em troca tecnologias dos setores nuclear e de mísseis. Este desenvolvimento gera muita preocupação pois começa a criar uma ligação direta entre dois conflitos distantes geograficamente, mas contrapondo alianças militares, o que cria uma dinâmica de instabilidade preocupante.

Na quarta-feira (23), uma empresa do setor aeroespacial da Turquia sofreu um atentado terrorista. Segundo o ministro do interior, Ali Yerlikaya, cinco pessoas foram mortas e 22 feridas pelos dois terroristas, como o governo turco os denominou. Sem comprovação, o ministro disse que os dois não tinham sido identificados, e por isto, não sabia se eles seriam militantes curdos, extremistas de esquerda ou do Estado Islâmico. A empresa alvo foi as Indústrias Aeroespaciais da Turquia (TUSAS, em turco), uma estatal responsável pela produção de vários equipamentos militares, importante fornecedor de armas para muitos países, como a Ucrânia.

Na quinta-feira (24), houve o encerramento da 16ª cúpula dos BRICS em Kazan, Rússia. Esta foi a primeira com o grupo já ampliado, mas sem as lideranças políticas importantes, como o príncipe Mohammad bin Salman da Arábia Saudita. Dois fatos foram importantes. O primeiro, que o presidente Vladmir Putin conseguiu a foto final com representantes de 35 países, o que indica que ele não está isolado diplomaticamente com o Ocidente tenta parecer. O segundo, que efetivamente China e Rússia são os dois líderes do grupo, com Xi Jinping e Putin liderando as discussões e reuniões bilaterais. O máximo que o Brasil conseguiu, foi barrar a entrada de novos membros, e a criação de uma nova categoria, o de membros associados. Para Pequim e Moscou, os resultados foram excelentes, já que estão no caminho para conseguir consolidar um grupo contrário ao Ocidente.

No sábado (26), Israel finalmente retaliou o Irã. Segundo o governo israelense, os alvos atingidos foram 20 alvos, incluindo instalações de fabricação de mísseis, bases de defesa antiaérea e outros alvos militares. Já o governo iraniano afirma que a maior parte dos mísseis foram abatidos. Contudo, imagens tiradas de Teerã já circulavam as redes sociais mostrando densas colunas de fumaça. Ainda levará algum tempo para se ter real noção do que foi destruído. Agora outros governos começaram a pressionar o governo iraniano para não contra-atacar, mas este já se pronunciou dizendo que tem o direito de autodefesa. A possibilidade de escalada existe, mas a pressão para que não ocorra é muito grande.


ARTIGO DA SEMANA

O Novo Papel dos BRICS e o                                      Brasil em um Mundo de Conflito Geopolítico

Gunther Rudzit e Otto Nogami

Nos últimos anos, o BRICS — originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — passou por uma ampliação significativa, refletindo mudanças em sua configuração política e estratégica. O bloco, que foi inicialmente formado com o objetivo de reunir as principais economias emergentes, focando no potencial econômico e no desenvolvimento comum, vem sendo cada vez mais influenciado por motivações políticas, especialmente com a inclusão de novos membros com fortes conotações políticas e ideológicas.

A entrada de países como o Irã e a Etiópia, e a recente proposta de admissão de Venezuela e Nicarágua, indica uma transformação no caráter do BRICS, que agora reflete um posicionamento mais confrontador frente ao Ocidente. Embora a África do Sul tenha sido admitida no grupo para representar o continente africano, sem possuir um peso econômico comparável aos membros originais, os novos membros trazem à tona questões geopolíticas que transcendem a economia.

O BRICS ampliado parece cada vez mais inclinado a uma postura de contestação à hegemonia ocidental, especialmente aos Estados Unidos e à União Europeia, desafiando a ordem liberal estabelecida no pós-guerra. A inclusão de nações conhecidas por práticas autocráticas e regimes autoritários, como o Irã, marcado por tensões com o Ocidente devido à sua política nuclear, e a possível entrada da Venezuela, com seu histórico de isolamento econômico e político, sugere uma mudança de foco, colocando o bloco em uma rota de colisão com os valores ocidentais de democracia e governança.

Assim, o BRICS deixa de ser um simples bloco econômico de países em desenvolvimento e passa a se constituir como uma frente política que questiona os valores do Ocidente. A ascensão de regimes com características radicais e autoritárias dentro do grupo reforça a percepção de que o BRICS está, em parte, consolidando uma plataforma de poder alternativa ao modelo democrático ocidental. A tensão que surge é clara: o bloco deixa de se concentrar exclusivamente em questões de crescimento econômico para adotar uma postura que privilegia regimes não alinhados às democracias ocidentais.

O Brasil, como membro fundador do BRICS, encontra-se em uma posição delicada diante dessa transformação do bloco. Historicamente, o Brasil tem adotado uma postura de neutralidade e moderação em questões internacionais, optando por uma política externa pautada pela diplomacia e pelo multilateralismo. Contudo, o alinhamento crescente do BRICS com países que confrontam diretamente o Ocidente coloca o país em uma encruzilhada. Como um dos maiores representantes das economias emergentes, o Brasil precisa navegar cuidadosamente pelas tensões globais, evitando um posicionamento que o alinhe de forma irreversível a regimes autoritários.

A entrada de novos membros com fortes agendas políticas coloca o Brasil em uma posição desafiadora, pois o país pode ser pressionado a tomar posições mais assertivas em temas que tradicionalmente evitou. No cenário internacional, o Brasil sempre foi reconhecido por sua capacidade de diálogo e de construção de pontes entre diferentes blocos, uma habilidade que pode ser prejudicada à medida que o BRICS assume um caráter mais polarizador.

Do ponto de vista econômico, a ampliação do BRICS com países como Venezuela e Nicarágua também gera dúvidas sobre os benefícios reais para o Brasil e para o bloco como um todo. A inclusão de países com economias instáveis e em recessão prolongada pode diluir o foco econômico do grupo, trazendo mais desafios que oportunidades de crescimento conjunto. No entanto, China e Rússia, que desempenham papéis centrais no BRICS, parecem mais interessadas em expandir o bloco como uma frente geopolítica do que em consolidá-lo como uma aliança econômica eficiente.

O Brasil, por sua vez, precisa equilibrar suas relações com o BRICS com suas parcerias tradicionais no Ocidente. O país mantém laços comerciais importantes com os Estados Unidos e a União Europeia, ambos mercados relevantes para exportações brasileiras, especialmente no agronegócio, além de serem fontes de tecnologias cruciais para a economia brasileira. Um alinhamento excessivo ao lado mais radical do BRICS pode prejudicar os interesses econômicos do Brasil com seus parceiros ocidentais, além de comprometer sua imagem de país moderado e democrático no cenário global.

Outro fator relevante para o Brasil é sua política externa independente. Em governos anteriores, o país buscou reforçar seu papel de liderança entre os países do sul global, sem necessariamente se alinhar a qualquer bloco de poder. No entanto, a recente transformação do BRICS levanta dúvidas sobre a capacidade do Brasil de manter essa independência em meio às crescentes tensões. A questão que se coloca é: até que ponto o Brasil pode continuar a equilibrar suas relações, mantendo vínculos tanto com o Ocidente quanto com os membros do BRICS que representam regimes autoritários?

Essa nova configuração do BRICS também coloca o Brasil diante de um dilema estratégico. De um lado, o país se beneficia de sua participação no bloco, que permite acessar mercados alternativos e diversificar suas parcerias comerciais. Por outro lado, o peso geopolítico crescente do BRICS, aliado à inclusão de países com uma postura confrontacionista frente ao Ocidente, pode isolar o Brasil de importantes fóruns multilaterais que são essenciais para seu crescimento econômico e relevância diplomática.

O bloqueio à entrada de Venezuela e Nicarágua pode ser uma vitória de Pirro. Por um lado, Brasília conseguiu fazer com que a cláusula de unanimidade fosse respeitada, impedindo a entrada dos dois governos considerados aliados do presidente Lula, mas que elevavam críticas ao Brasil. Por outro lado, o presidente Vladimir Putin manifestou que não vê motivos para a rejeição, especialmente da Venezuela, sob o argumento de que Maduro venceu a eleição legitimamente, o que mostra o real peso dado ao nosso vizinho. Assim, é provável que seja apenas uma questão de tempo até que esses países sejam admitidos no grupo.

O futuro do Brasil dentro dos BRICS dependerá de sua habilidade em gerenciar essas contradições. O país precisará reforçar sua diplomacia e buscar um papel de moderação no bloco, promovendo uma agenda que priorize o desenvolvimento econômico e o diálogo, sem ceder totalmente às pressões políticas que buscam transformar o grupo em uma frente de confronto ao Ocidente. Nesse cenário complexo, a habilidade do Brasil de atuar como mediador entre as grandes potências, mantendo sua autonomia e defendendo seus interesses econômicos, será crucial.

Em suma, o Brasil enfrenta o desafio de participar de um BRICS em transformação, marcado pela inclusão de novos membros com forte viés autoritário. A capacidade de equilibrar suas relações dentro do bloco, sem comprometer suas alianças com o Ocidente, será determinante para seu futuro econômico e diplomático. Ao mesmo tempo, o BRICS como um todo parece caminhar para uma reconfiguração geopolítica que coloca em xeque a ordem internacional vigente e levanta questões sobre seu papel na promoção de um mundo mais equilibrado e justo.


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A ECONOMIA

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