MUNI #8 - Ambientes tóxicos, excesso de trabalho e os pecados necessários das mulheres
Oi, tudo bem? Seja bem-vinda e bem-vindo à oitava edição da MUNI: mais uma newsletter imperdível. Estamos encerrando o Mês da Mulher e não poderíamos deixar este assunto de fora da nossa news de março.
Você já deve ter lido e ouvido por aí que nós ganhamos 20% a menos que eles desempenhando a mesma função e que só em 2047 haverá equidade salarial entre gêneros no mercado de trabalho.
Mas o que você talvez não tenha ficado sabendo é que esse desequilíbrio está presente nos mais variados nichos, não importa o recorte que façamos: desde protagonismo de filmes de grandes estúdios de cinema até volume de trabalho no corpo docente de universidades.
(Em tempo: apenas 10 filmes dos maiores lançamentos de 2022 tinham uma mulher de 45 anos ou mais como protagonistas, contra 35 filmes com um homem dessa faixa etária. E professoras universitárias têm 50% mais probabilidade de receber atividades extras para fazer do que seus pares homens.)
Por que mulheres em posições seniores se demitem mais? 🙅♀️
Quando olhamos para o mercado de trabalho, nós mulheres nos demitimos de posições seniores com uma frequência muito maior que os homens: para cada mulher promovida ao cargo de diretora, outras duas do mesmo nível pedem demissão.
E por que isso acontece? Shalini Lal, da think tank indiana Unqbe, propõe uma reflexão interessante:
“Alguns dizem que é porque as mulheres saem para buscar outros interesses na vida. Outros dizem que é porque as mulheres se preocupam com a comunidade e a família e, em algum momento, optam por trabalhar para eles. E outros ainda podem apontar para o fato de que as mulheres em posições seniores estão simplesmente se tornando mais confiantes e optam por sair para fazer algo por conta própria. No entanto, o gatilho pode ser diferente.”
Shalini Lal, da Unqbe.
Ela cita uma pesquisa que analisou 600 mil comentários no site Glassdoor e mostrou como homens e mulheres têm experiências bem diferentes do mercado de trabalho. A maior diferença aparece quando olhamos para o tópico "considero tóxica a organização onde eu trabalho": as mulheres apresentam 41% mais chances de ter essa opinião em comparação com os homens.
“Isso também mostra quão pouco as organizações realmente entendem sobre o que é necessário para criar uma cultura que não (mesmo inconscientemente) subestime ou menospreze as contribuições das mulheres”, completa Shalini.
O cenário no ambiente acadêmico não é muito diferente 👩🏫
Lembra quando eu citei o excesso de volume de trabalho das professoras e pesquisadoras do ensino superior no Brasil? Pois é, se nós não nos sentimos tão confortáveis no ambiente de trabalho, o cenário não é muito melhor nas universidades - e isso acontece no mundo inteiro.
Nós, mulheres, já somos maioria nos programas de pós-graduação do país: segundo a Capes, 54,2% dos matriculados no stricto sensu são do gênero feminino. E correspondemos a 58% dos beneficiários de bolsas. No entanto, quando o assunto é caso de estudo em MBAs, a gente pouco aparece.
Um levantamento recente divulgado pelo Financial Times descobriu que dos 35 casos usados pelos tutores de MBA da Universidade de Cambridge, Reino Unido, metade não cita uma executiva sequer. Além disso, dos casos que mencionavam líderes femininas, 43% traziam mulheres líderes de empresas em setores “cor-de-rosa”, como moda, alimentação e utensílios domésticos. Em outra análise semelhante, apenas 7 dos 53 casos estudados contavam com protagonistas femininas, e os sete envolviam mulheres em setores “rosa”.
“Quando o arquétipo do líder é definido de forma muito restrita, ele não apenas dificulta a capacidade dos alunos que não compartilham essas características de se identificarem com o protagonista, mas também reforça os estereótipos sobre quem são os ‘verdadeiros líderes’.”
Colleen Ammerman, do Grupo de Iniciativa de Gênero da Harvard Business School.
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Ainda existe um longo caminho a ser percorrido 🚶♀️
Não é meu objetivo jogar diversas estatísticas e “sair correndo”. Mas acho importante trazer esses números que de certa forma corroboram aquilo que todas nós já sabemos e vivenciamos em nosso dia a dia.
Se ainda nos deparamos com dados e situações que podem nos desanimar e nos colocar lá para baixo, por outro lado percebemos o quanto ainda precisamos batalhar para conquistar nosso espaço e o reconhecimento que merecemos. E estamos no caminho certo!
Deixo aqui o link para o mais recente Relatório Global de Diferença de Gênero caso você deseje se aprofundar ainda mais em estatísticas e projeções super válidas sobre o tema.
Dica de leitura: The Seven Necessary Sins for Women and Girls, de Mona Eltahawy 📖
Fechando com chave de ouro essa primeira parte da nossa news, trago uma sugestão de leitura que tem tudo a ver com o que falamos até agora.
Você conhece a jornalista egípcio-americana Mona Eltahawy? É dela o livro "The Seven Necessary Sins for Women and Girls" ("Os Sete Pecados Necessários para Mulheres e Meninas", em tradução livre; infelizmente ainda sem edição brasileira).
Mona defende uma batalha firme e direta contra o patriarcado ao recomendar que nós, mulheres e meninas, aproveitemos nosso poder por meio do que ela chama de "sete pecados necessários": raiva, atenção, profanidade, ambição, poder, violência e luxúria. Todos esses são "pecados" que nós, segundo a sociedade, não devemos cometer, mas que são essenciais para que sigamos na luta contra esse sistema que nos oprime, nos limita e ainda nos paga mal.
Bate bola, jogo rápido:
Vagas incríveis:
E assim encerramos nossa #MUNI de março. Espero que você tenha gostado! 🤩
Obrigada a quem tem nos acompanhado aqui nos últimos meses e bem-vindo(a) para você que está chegando agora! Nos vemos novamente em abril. Até lá! 🙋♀️
Abraço,
Carol Hannud.