Não existe lado de fora
Respeitar os outros é um valor melhor compreendido por aqueles que respeitam e valorizam a si mesmos, seus estudos, o pensamento, a crença, a visão de mundo e a constituição familiar. Não é retrógrado aquele acolhe com carinho as ideias concebidas em ambientes que não frequenta.
Podemos falar de tudo: do céu, da terra, de coisas remotas e opostas, transmitindo respeito e compreensão, porque a tolerância é a virtude da moderna democracia pluralista. A tolerância, não é um valor decadente, tampouco um valor subversivo.
Hoje, mais do que nunca, interagimos com pessoas de diferentes etnias, religiões e culturas. Os espaços públicos estão cada vez mais diversificados, refletindo as comunidades que fazem parte do nosso patrimônio cultural. As diferenças vêm de pessoas de todo o mundo e enriquecem nossa cultura, trazem novas ideias e revigoram nossas relações.
Internamente somos também uma rica mistura de tradições culturais de todos os cantos do país. Não há, portanto, ponto de partida para descobrir semelhanças, para se conectar e construir relacionamentos plenamente realizados à luz da distinção e do respeito às opções particulares quanto a fé, cultura, política e tudo o mais que constitui o nosso complexo e desacomodado ser.
Diagnosticar uma doença não é o mesmo que curá-la. Estamos conscientes da confusão que as diferenças ideológicas, culturais e religiosas causam nas nossas mentes, porém, não podemos nos sentir hesitantes ao expressar insatisfação diante de certos posicionamentos carregados de cizânia, mas não podemos negar ao outro o direito de manifestar-se igualmente livre da tutela intelectual, que tem calado diálogos que poderiam enriquecer as discussões sobre esse mundo e os mais de 7,59 bilhões de seres únicos que aqui vivem.
Tolerar e acolher o fato de que vivemos em uma sociedade ricamente diversa e que este fato é imutável por desejo ou decreto, seria talvez o primeiro passo para enxergar a tolerância como um valor indissociável à vida moderna e importante no mundo interdependente no qual vivemos, onde não há mais lado de fora, tampouco, a opção de isolar-se.
Em tempos de rispidez, da política de ressentimentos, a adaptabilidade à mudanças exige continuada tolerância e compromisso de habilmente manter aberta a porta do diálogo, principalmente para não permitir a legitimização da intolerância.