Não sei nada disso, mas opino a respeito


“Sou da época do LP. Acredito que quem não ouviu os dois lados, não ouviu tudo”


Antes de mais nada devo esclarecer que a frase acima não é de minha autoria. A ouvi por aí, adorei e tem tudo a ver com esse texto.

É difícil iniciar um artigo com o título acima e com uma opinião, mas penso que a maior pandemia que vivemos hoje não seja a do COVID, mas a do excesso de opiniões. Não importa qual seja o assunto, sempre há quem, mesmo que jamais tenha se dedicado a estudar sobre o que opina, publique, por escrito ou por vídeos, opiniões eloquentes defendendo posições claras. O que importa é apenas que seja sobre o que esteja em pauta no momento. Essas pessoas apresentam argumentação convincente, mas que quase sempre é parcial, direcionada e quase nunca baseada em fatos reais. Busca-se apenas os “likes”, que o leitor (ou espectador) apoie suas conclusões e, de preferência, compartilhe em sua rede e gere audiência.

Isso, por si só teria maior relevância, se o motor de tudo não estivesse ancorado sobre a discórdia e a criação de polêmica e, com ela, vem inevitavelmente o conflito. Pode soar absurdo, mas preste atenção nas mensagens que recebemos, quase todos os dias (para não falar quase todos os minutos) em nossas mídias sociais. Raríssimas são como o precioso depoimento de Gabriel Pensador (esse sim sobre a pandemia de COVID), que prega apenas a paciência e a compreensão entre todos, não importa o que cada um pense. A maior parte dos “opinadores” quer trazer o leitor para um dos lados, mostrando os “erros absurdos” do lado oposto, mas poucos, de um lado ou de outro, resistiriam a uma investigação mais rigorosa do que pregam como verdades. Basta checar.

Par ou ímpar, certo ou errado, escuro ou claro ou quaisquer termos opostos que se possa eleger, não buscam o consenso, raramente trazem inteligência para a discussão e compreensão dos fatos e, vai aqui mais uma opinião minha, não podem nos levar a encontrar a melhor saída para nada, pois pouco provavelmente, algum dos lados estará completamente certo ou errado.

E, o que isso tem a ver com nossas empresas? Simples, as mesmas coisas, os mesmos boatos perturbadores, acontecem dentro delas, em proporções distintas, mas tão danosas quanto.

Se a sua empresa não é assim parabéns, mas antes de ter certeza, faça-se algumas perguntas, como por exemplo:

- Alguma vez o faxineiro (ou qualquer outra pessoa que ocupe um cargo com pouca qualificação) teve a oportunidade de dizer o que pensa sobre algum assunto, que não diga respeito apenas à área em que lida?

- Sua carta de valores e o propósito de sua empresa foram escritos por quem? Pelo grupo que deverá fazer com que valha na prática?

- Seu planejamento estratégico e resultados são amplamente compartilhados com a equipe, independente do cargo que cada um ocupa?

- E o cliente, em algum momento foi instigado a compartilhar o que pensa e deseja na relação com sua empresa?

Poderíamos escrever aqui dezenas, talvez centenas de perguntas afins, mas esse não é o meu objetivo. Quero apenas alertar que, na era das informações transitando com tanta facilidade e em tanta velocidade, a empresa deve ser transparente, os fatos devem sempre ser claros, deve-se saber a opinião de todos (até mesmo para confrontá-las). Quem não conta a sua história a tem contada pelos outros e daí.... está aberta a porta para os opinadores.


Teodoro Gauzzi

Geólogo de exploração, gemólogo, técnico em microscopia (óptica e eletrônica) e consultor de QA/QC. | Exploration geologist, gemologist, microscopy technician (optical and electron microscopy) and QA/QC consultant.

3 a

Um dos posts mais provocam a nossa capacidade de reflexão e introspecção. Parabéns, Sidney!

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