“NA COVA DA IRIA...” FÁTIMA
Sendo Inaciano, isto é, tendo estudado no Colégio Santo Inácio no Rio de Janeiro recordo-me que o mês de Maio era dedicado à Maria e como tal a Nossa Senhora de Fátima. Neste mês diariamente (repito, diariamente) antes do inicio das aulas todos os alunos de pé rezam um Terço e às 6as. feiras o Rosário inteiro (três Terços). Alem disto tínhamos as missas todos os domingos na igreja do colégio,onde cantávamos o hino de N.S. de Fátima .
Dele me recordo muito bem (foram muitos anos) e tinha a 1ª. estrofe assim :
“A 13 de Maio, na Cova da Iria
Do céu aparece a Virgem Maria,
Ave, Ave, Ave Maria ,
Ave, Ave, Ave Maria”
Portanto, tendo vindo morar em Portugal não havia como deixar de ir conhecer a cidade de Fátima, cujo centenário foi comemorado em 2017 e distante apenas pouco mais de 1 hora de Lisboa por uma excelente rodovia (não há comboios – trens – para lá).
Lá chegando imediatamente fiquei surpreso com a graça que é a cidade. Por não ser tão antiga como as demais cidades de Portugal, suas construções são modernas, porem simples e de bom gosto seguindo a característica daqui de Portugal, raramente ultrapassando 4 ou 5 andares de altura. Alias é difícil identificar onde acaba a cidade e onde começa o Santuário de Fátima , pois há quase uma fusão entre as duas partes.
O que eu imaginava como Fátima (ou Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima) está localizada no lugar denominado como Cova da Iria, como bem diz o hino. Este Santuário é composto principalmente pela Capelinha das Aparições, o Recinto de Oração (exterior), a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a respectiva Colunata, a vasta Basílica da Santíssima Trindade, as casas de retiros de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora das Dores, uma Via Sacra nos Valinhos e o Centro Pastoral Paulo VI. Com exceção da Via Sacra que não visitei (anda-se muito...) todo o resto está esparramado num gigantesco espaço aberto, uma esplanada toda imaculadamente branca. As pedras de mármore branco são uma característica de quase tudo aqui em Portugal, desde o piso das calçadas - daí o nome de “pedras portuguesas” às calçadas do Rio de Janeiro - até os monumentos, fachadas, etc.
Como se pode imaginar, a cidade é repleta de lojas de souvenirs e venda de apetrechos sacros, incluindo vestimentas sacerdotais, utensilios para missas, igrejas e tudo o mais para um católico devoto levar para casa.
No dia em que estive lá não havia praticamente ninguém, pois era um dia comum, sem nenhum apelo religioso especial. Portanto pude visitar todos os lugares calmamente.
Fiquei mesmo impressionado com o descampado onde são rezadas as missas e cerimônias especiais. As fotos que vi mostrando a imensa multidão que lá se reúne nestas ocasiões me fez pensar em como as pessoas devotas realmente sofrem para prestar culto religioso.
Vi construções bonitas e outras nem tanto. A nova Basílica da Santíssima Trindade parece ter sido retirada de Brasília, pois é um imenso queijo redondo liso e desprovido de qualquer beleza. Por dentro, apesar do tamanho , também não me emocionou, poderia uma ampliação da Catedral de Brasília, espartana, sem praticamente nenhuma decoração interna ou adorno, com bancos modernos e lisos. Fez-me recordar o que chamo de “sacrifício da Missa” que é ficar sentado horas em bancos de madeira totalmente desconfortáveis. Já a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a respectiva Colunata são muito bonitas, a mim lembraram como deveria ser um prédio de culto católico. É nesta Basílica que estão enterrados os 2 pastorzinhos irmãos Francisco e Jacinta (ambos precocemente falecidos) e está pronta uma terceira sepultura aguardando o levantamento de fundos necessário para o translado do corpo da freira Irmã Lucia recentemente falecida.
Procurei e quase não achei o local exato das aparições. Explica-se: O local era um prado, como minha imaginação recordava e agora , como já disse , é totalmente coberto pelo chão de mármore branco. Depois a tal arvorezinha desapareceu já naquela época e um humilde lavrador ali construiu uma igrejinha para marcar o local, que não é maior do que uma Fiat Van atual. Fica fechada, pois não daria mesmo para entrar ninguém e ficava a céu aberto. Agora fizeram um tejadilho para cobri-la, então fica praticamente escondida, mais ou menos no centro da esplanada, porem encostada aos locais dos banheiros e onde se vendem velas. Como a meu ver deveria ser um local de veneração, acho que o fato de se privilegiar a esplanada e as duas basílicas diminuiu a importância desta micro Capelinha das Aparições.
Diferentemente do Santuário de N.S. Aparecida no Brasil, onde se cultua uma imagem encontrada num rio, em Fatima não há a obrigação de se ter apenas uma imagem de N.S.de Fátima, portanto ela é vista em quase todos os sítios. Branca e alva é muito bonita e singela.
É uma vista obrigatória que se deve fazer em Portugal. No dia em que fui, os poucos visitantes que vi eram todos brasileiros.
E a Cova da Iria, onde fica ?
Bem, eu pensava que “cova” era algo como uma gruta ou coisa parecida. Mas “cova” aqui em Portugal quer dizer algo como uma ligeira depressão no terreno. Como o espaço é gigantesco, “Cova da Iria” é uma suave depressão entre planos mais altos do terreno. E a Capelinha das Aparições fica justamente no que seria a parte mais funda do prado.