A arte de viver
Nascemos neste mundo, mas não somos deste mundo: somos habitantes temporários e o tempo que nos foi dado para aqui estar e usufruir é muito menor do que gostaríamos.
Se nossa vida é única e tão passageira não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar dias com emoções negativas e preocupações estéreis, que não irão contribuir em nada para nosso bem-estar.
Como dizia George Bernard Shaw a vida é para ser vivida em função de um propósito que você mesmo declarou como relevante e do qual você assumiu ser protagonista em vez de ser, como muitos, vítimas cheias de justificativas, mágoas, acusações e queixando-se de que o mundo não cuida de fazer você feliz.
Sêneca, na época do Império Romano, já dizia que não é porque você nasceu que, automaticamente, sabe viver.
“Enquanto estiver vivo, dedique-se à arte de aprender a viver” - Sêneca
Este talvez seja o grande desafio da vida: aprender a viver!
Quando nascemos, somos essencialmente um potencial, uma esperança.
Nascemos sem lenço e sem documento, diria Caetano Veloso.
Mas neste mundo todos precisam de uma identidade e nossos pais nos providenciam uma, com um efeito colateral: ela vem acompanhada de um manual do proprietário, cheio de regras e procedimentos que os pais cuidam com imensa dedicação de inculcar na mente, no coração e na vida dos filhos.
Crescemos ouvindo isto pode, aquilo não, disto você deve gostar, daquilo não, você tem que acreditar nisto, mas não naquilo, se fizer assim ganha um prêmio, se fizer de outro jeito será punido, e assim é.
Tudo necessário, indispensável.
Os pais tem, até por volta da idade de 12 anos dos filhos, o desafio de formar e consolidar as bases do caráter e da personalidade de cada um e, nesta fase, a criança tem quase zero opção de escolhas e, como consequência prática, a maioria acaba aceitando e se adaptando, outros se resignando e alguns mais rebeldes começam a arquitetar planos para começar a romper as armaduras impostas, a partir dos 13 anos.
Quem somos hoje tem muito a ver com o que aconteceu conosco nos nossos 12 primeiros anos de vida.
Faz parte da lógica da natureza humana.
Em todos os lugares do planeta é assim e o que muda é a cultura na qual a pessoa nasceu, os hábitos, costumes e crenças de quem a educou, ou seja, o modelo é o mesmo, o que muda são os conteúdos.
Jesus Cristo é um Mestre com quem podemos aprender.
Aos 12 anos “liberta-se” da sua identidade terrestre e “assume” sua Identidade Divina.
E dos 12 aos 30 anos, segundo relatos “não oficiais”, dedicou-se a conhecer profundamente a natureza humana, saiu pelo mundo e foi em busca das melhores Escolas, dos maiores sábios, não importando onde eles estivessem.
E a partir dos 30 concretiza sua Missão.
E nós, o que fizemos a partir dos 12 anos?
Quais foram nossas escolhas?
Como nos preparamos para nosso propósito?
Em que estágio estamos no nosso projeto de vida?
O que falta?
Dedicar a conhecer-se a si mesmo é condição sine qua non para sua autorrealização pessoal e profissional. Isto demanda a vida inteira.
Conhecer sua natureza humana assim como as grandes leis do mundo onde concretizamos nosso destino é fator chave para quem busca ser produtivo enquanto pessoa e para quem busca ter um mínimo de autonomia existencial.
Segundo Martin Buber liberdade e destino estão profundamente correlacionados.
Nós temos em nós o núcleo central da liberdade para encontrarmos ou definirmos que destino queremos ter ou viver.
A nossa capacidade de construir nossa liberdade e a maneira como a utilizarmos determinará a qualidade da nossa vida e o quanto seremos felizes ou não.
A construção da nossa liberdade passa pelo nosso desenvolvimento contínuo.
Tudo isto faz parte do processo da autoconsciência existencial e situacional.
Quem a vida e tudo ao meu redor é que, em algum nível, faz que eu seja quem sou?
Quem sou que, de uma forma ou de outra, influencia tudo ao meu redor a ser como é?
As pessoas, principalmente aquelas em posição de poder, tendem a se julgar invulneráveis às influencias ambientais e julgam que o que fazem é tão relevante que nem sequer prestam atenção ao quanto impactam o sentimento das pessoas.
A realidade de cada pessoa é o feedback da vida ao que fizeram e continuam fazendo.
Por outro lado, podemos moldar nosso futuro, pois o mesmo depende do que fizermos de hoje em diante e não do que fizemos no passado.
Temos a possibilidade de atuar como criadores do nosso destino!
Pela expansão e desenvolvimento da autoconsciência qualquer pessoa, dedicando-se a desenvolver seu pensar, educando ativamente sua vontade e disciplinando suas atitudes e ações, pode mudar sua vida, seu futuro.
Não é trivial, mas perfeitamente possível.
Está disponível para todos, mas somente 30 em cada 30.000 serão capazes, segundo as Tradições.
Qual é o “abracadabra”?
Começa por trazer para dentro de si parte do foco que hoje está quase que totalmente voltado para fora.
Se o foco das pessoas está todo voltado para o mundo o seu bem-estar passa a depender do que acontece fora delas e aí a vida será esta montanha russa, cheia de altos e baixos, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas, sonhos e frustrações.
Nada que não possa ser superado, mas será com dor e muito suor.
Quando colocamos o foco para dentro aprendemos não a controlar as tempestades, mas a acessar os princípios da maestria pessoal e, a partir daí, os segredos de como passar pelas turbulências da vida sem ser por elas dominado.
O desenvolvimento real se dá no interior das pessoas, cada uma consigo mesmo no processo ativo-reflexivo do dia-a-dia.
O lugar paradisíaco da nossa existência está escondido no nosso interior, não está no mundo.
O acesso a um viver mais harmonioso, com menor dependência das variáveis externas, requer desenvolver um novo olhar, aprender a ver a si e ao mundo com os olhos do Observador.
Jung já dizia que nosso estado de atenção determina nosso destino.
O estado de atenção determina escolhas, decisões, atitudes, comportamentos, ações.
Segundo o ensinamento de Don Juan Matus, nos livros de Carlos Castaneda, todos nós temos um centímetro cúbico de chances de mudar nosso destino, que se disponibiliza para nós algumas vezes na vida.
Quando estes momentos acontecem ter discernimento para identificá-los e atuar com impecabilidade é mandatório, o que irá demandar desapego de crenças, convicções e hábitos antigos que hoje pouco ou nada agregam às nossas vidas.
Num mundo que muda continuamente o apego, de forma geral, tende a se tornar no maior obstáculo ao nosso desenvolvimento e bem-estar sustentável.
Desapego não é um conceito ou uma teoria.
Desapego é uma prática de vida, um estilo de vida.
É a prática diária do autoconhecer-se pela observação de si em ação, que emerge na análise das suas estratégias para obter o que se quer, na observação do impacto das suas palavras, atitudes e ações nos outros, na análise do seu nível de flexibilidade para se adequar continuamente às demandas do contexto, assim como o quanto é capaz de não reagir e sim de fazer novas e melhores escolhas para alcançar o que quer.
Mas sair da zona de conforto e aprender o novo, requer coragem e vontade.
As pessoas até têm coragem, o que usualmente falta é realmente querer.
Vontade é muito mais que um desejo e exige atitude, ação.
É ir para o campo das mudanças, do fazer diferente.
As pessoas tendem a achar que elas sempre terão o tempo necessário e então vivem adiando.
Elas não se dão conta que o tempo que elas julgam que terão, na vida real não existe.
Como sabemos, o amanhã não passa de uma esperança e o passado nada mais é que uma lembrança.
O tempo que cada pessoa tem é hoje, aqui e agora.
Chega de adiamentos!
Não importa qual seja o começo, comece!
Vivemos num mundo onde tudo é transitório, efêmero.
O tempo que não aproveitamos com as pessoas que amamos, os momentos não desfrutados devido à pressa, o bem-estar não curtido porque havia coisas a fazer, tudo isto é passar pela vida sem tê-la vivido.
Tudo tem seu tempo e distinguir o tempo de cada coisa é a sabedora almejada.
Dançar e fluir com a vida sem perder contato com sua coluna vertebral!
A semente contém em si o segredo da árvore, mas ela necessita da terra, da água e do sol para realizar seu pleno potencial.
Toda pessoa contém em si a semente da plenitude, o mapa codificado que leva ao Graal!
Se requer investir no autoconhecimento e no desenvolvimento consciente do pensar-sentir-agir para a concretização do seu propósito de vida, para “viver e cantar a alegria de ser um eterno aprendiz”, porque este é o jeito de viver neste mundo como se dele fossemos, mas sabendo que dele não somos.
Airam Corrêa e Mario Lucio Machado.
Consultoria em Desenvolvimeto Humano, Palestrante nas Áreas de Liderança e Gestão, Conselheira , Sócia -Executiva nas operações Franqueadas Mania de Churrasco- Spoleto- Gendai
4 aMario , você é exemplo de coerência entre o discurso e a prática ! Parabéns pelo artigo ! 👏🏼👏🏼👏🏼
Coach Ejecutiva - Consultora Organizacional
4 aMi querido amigo que bom que es sempre que te leio. Me vou deste texto com a curiosidade, a leveza e a capacidade de me sorprender mexidas, como ferramentas indispensáveis desse aprender a viver num mundo con menos apegos e mais liberdade. Para ser usadas para dentro e también para este mundo de pessoas e de natureza que não quero perder de vista. Espero desde allí preparar-me melhor para meu propósito e desenhar o projeto de vida que hoje sinta coherente comigo. Obrigada por sempre me fazer refletir.