Negócios, mulheres e o cuidado
Qual a causa que te move?
A causa que nos move tende a ser aquela que nos incomoda ou incomodou, que dói ou já doeu, que nos tira da zona de conforto, mas que ao mesmo tempo reconhecemos que precisamos ampliar a nossa visão e a ação para a construção de soluções, não somente para as nossas vidas, mas também para a vida de outras pessoas.
Trabalhar com mulheres e empreendedoras é um propósito de vida e trabalho que me traz inquietação constante, mas também muita esperança.
Reconhecer o quanto a ausência de políticas e programas para a promoção da economia do cuidado, da justiça e da equidade de gênero e raça impacta de forma negativa a vida das mulheres no Brasil, traz um sentimento de limitação e angústia quando executamos projetos, mas também de movimento para a construção de soluções coletivas frente aos problemas vivenciados: sobrecarga do trabalho doméstico com filhos, família, dificuldade para a manutenção e ampliação da renda e dos negócios, violência doméstica, precariedade com relação ao autocuidado físico e mental...
Reconhecemos também que as soluções estão muito além das importantes políticas públicas e intervenções de organizações de apoio e fomento como a Universidade. Os problemas precisam ser discutidos e soluções aplicadas dentro das famílias (aqui independente das configurações e PRINCIPALMENTE com a participação efetiva dos homens), para que as tarefas e responsabilidades sejam reconhecidas e justamente compartilhadas.
As mulheres precisam de redes de apoio (não de julgamento e/ou condenação) para que possam estudar, trabalhar e se sentirem seguras com relação as demandas para o cuidado, que impactam diretamente o avanço profissional, a ocupação dos espaços de poder, de tomada de decisões, a capacidade para a gestão e crescimento dos negócios e principalmente a saúde física e mental.
Não tenho dúvida que sem uma rede de apoio da minha família não teria acessado e continuado a acessar estudos de pós graduação, desenvolvimento da carreira acadêmica, oportunidades para participação em eventos, projetos que demandam viagens nacionais, internacionais, cargas horárias elevadas de estudos e trabalhos...que possibilitam a participação efetiva em espaços de poder.
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Isso só é possível por que tenho um suporte familiar dos meus pais e do meu filho mais velho para as demandas do cuidado e para que possa ter o autocuidado.
Mas me pergunto também sobre quem cuida de quem cuida? Quando e o quanto muitas vezes invisibilizamos, menosprezamos, julgamos como falta de foco, fraqueza, o desgaste emocional, físico, de uma mulher, de um familiar, de amigos, amigas, das (os) colegas de trabalho...que às vezes são a nossa rede de apoio ou indiretamente são redes que sustentam pessoas próximas a nós...
Um exercício prático sobre isso é observar um dia do trabalho de uma pessoa que te apoia diretamente no cuidado com seu filho (a), família ou de alguma pessoa próxima que agrega de forma integral ou parcial essas funções. Anote todas as suas ações, atividades, decisões que essa pessoa precisa pensar, executar, avaliar em 24 horas...para cuidar de uma casa, de uma criança, de uma pessoa doente, uma pessoa idosa...
Será que replicamos a invisibilidade do trabalho doméstico e do cuidado nas nossas casas e no nosso dia dia também?
Por mais consciência de classe e autoconsciência que você "acredite ter" é bem provável que você, seja homem ou seja mulher, replique ou já tenha replicado, o olhar invisível com a maquiagem do discurso da visibilidade, do feminismo, da igualdade...entre outras maquiagens...
O que podemos fazer para a mudança? Pensar sobre isso, para reconhecer e PRINCIPALMENTE para agir e mudar essa realidade, para criar um Mundo de riqueza e plenitude na vida, no trabalho, de forma realista e acessível, para todas e todos.