NEM TUDO À SEPULTURA!
O Estado do Espírito Santo vem se destacando como referência em práticas, dados e estruturas relativas às soluções aplicadas aos resíduos sólidos, em relação a outros estados brasileiros. Muito se fala em tecnologias e sistemas inovadores nas atividades relativas ao tema, em relação ao tratamento dos mesmos, produzindo inclusive este Plano para a neutralização dos GEE, um plano muito bem elaborado, até que...
Apresentou uma estrutura bem monitorada, e alimentada quanto aos seus sistemas de informação, definindo diretrizes de governança, organização, logística, etc. Fez um grande trabalho contextual, porém ao final prega a disposição final em aterros, conforme o trecho extraído na figura abaixo, que também faz parte do conjunto de ações previstas para o Plano Estadual de Mudanças Climáticas, feito a partir de um extenso trabalho de pesquisa de alternativas tecnológicas para a mitigação das emissões de GEE e confecção de instrumentos para diagnóstico e subsídio para os processos de tomadas de decisão, algo que considero que se destoa do contexto de sustentabilidade, inovação e economia circular, inerentes ao que se pretende alcançar, no caso, o “Race to Zero”.
Até algum tempo atrás os aterros sanitários representavam a evolução digna do “lixão”, onde eram e ainda são apontados como a alternativa sustentável para a destinação dos resíduos sólidos urbanos. Atualmente eles continuam sendo sustentáveis, porém não se trata da única possível e nem tão sustentável quanto às opções mais inovadoras e realmente disruptivas, capazes de ressignificar resíduos de modo a transformar em ativos econômicos os passivos ambientais.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos adota como postura buscar pelo conceito de Lixo Zero, que significa reduzir ao máximo ou até mesmo eliminá-los antes de chegarem aos aterros, tendo em vista que eles podem ser reutilizados, reciclados, compostados, bio digeridos, coprocessados, peletizados, incinerados, etc; ou seja, podem ser transformados em outros materiais, como insumos e energia, seja na forma de CDR, biogás, biochar e eletricidade.
Antes de pensar em aterros, além da quantidade, devemos analisar a qualidade do resíduo descartado. No caso dos resíduos de classe II A, os aterros podem ser a solução, caso tais resíduos não possam ser reutilizados, servindo como composição do solo, devido às suas características inertes, como o nome justifica. Aqueles cujas composições químicas impedem a sua manipulação e transformação, devido aos riscos de contaminação, deverão ser encaminhados para os aterros tradicionais, que deverão realizar os protocolos adequados de disposição final.
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Quanto aos demais materiais, o reciclável deverá voltar para a esfera produtiva e ser utilizado em novos produtos. Já os demais, rejeitos e orgânicos podem e devem receber destinação diversa aos aterros. No caso dos orgânicos, cabe a compostagem, biodigestão anaeróbica, pirólise, ou blendagem; produzindo composto orgânico, biogás ou gás de síntese, energia térmica, que pode ser convertido em eletricidade, além de material fertilizante, após a finalização dos processos de gaseificação.
No caso dos orgânicos de alto índice de celulose ou lignina, de difícil digestão, como podas de árvores e resíduos de coco, por exemplo, podem ser utilizados como compostagem ou misturados aos rejeitos para serem usados como CDR ou peletizados para incineração. Ou ainda passarem por procedimentos termoquímicos, como pirólise, gaseificação, etc, transformando esses materiais em energia térmica e elétrica, além de gás de síntese, também fonte de energia para conversão em eletricidade.
Resíduos de ETE, agro-industriais e agrossilvopastoris são materiais orgânicos indicados para a biodigestão anaeróbica, ideais para produzir biogás e fertilizantes. O Brasil importa 75% dos fertilizantes que usa atualmente, mas podemos reduzir ou talvez zerar essa conta se trabalharmos a partir da mudança da mentalidade “aterrista de lixo” para a mentalidade “lixo zero”.
Lembrando que contrariamente ao que se pretende com a proposta chamada W2E - Waste to Energy, que defende a incineração de resíduos para a geração de energia, como rota para se chegar na proposta “lixo Zero”, venho defender outra proposta conceitual, de autoria própria, em relação à ressignificação que pretendemos praticar, a W4E - Waste For Enjoy - que trata da melhor maneira de aproveitar cada resíduo, integralmente e de forma organizada, podendo gerar insumos, fertilizantes ou energia renovável, haja vista que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, como decretou Lavoisier em sua teoria.
Sendo assim, venho propor a inovação de mentalidade e de procedimentos relativos às práticas de descarte dos nossos resíduos sólidos de cada dia, trocando a sepultura pela inovação através da reciclagem, ressignificação e regeneração dos resíduos/insumos, restando aos aterros apenas o que lhes realmente cabem, os inertes, os perigosos e as massas residuais provenientes dos tratamentos supracitados, que serão enviadas em volumes bem menores, reduzindo impactos e custos.