Networking na transição de carreira

Networking na transição de carreira

Networking é um mal necessário: máxima que se repete frequentemente em reuniões de aconselhamento e, embora muitas vezes não externada, está presente na crença e nas atitudes de muitos profissionais e surge, invariavelmente, no momento da busca de trabalho.

Tendo esse sentimento instalado, é quase certo que a maneira de fazer networking será fortemente afetada por ele.

Faço profundas restrições quanto a utilizar receitas prontas de como fazer um bom networking, pois, por melhores que sejam, nem sempre funcionam para todos da mesma forma, especialmente quando se trata de falar para alguém sobre a busca de uma oportunidade de trabalho, o que pode causar um enorme desconforto.

Buscar receitas mágicas, “prêt-à-porter”, para realizar networking é como aprender a pilotar uma aeronave, escalar montanhas ou fazer saltos ornamentais, apenas lendo ótimos manuais e vendo bons filmes a respeito, ou como vestir um manequim 38 num corpo tamanho 46 ou o contrário.

É recomendável buscar conhecimentos sobre o tema para apresentar-se de modo adequado ao mercado e, para isso, há vasta literatura e bons profissionais da área para auxiliá-lo, mas antes de tudo é preciso ter a convicção de que será a sua forma autêntica de fazer  e a melhor estratégia para o seu objetivo.

É preciso exercitá-la de modo original e espontâneo. Scripts bem elaborados estão a serviço de atores que fazem boas interpretações. Não os utilize, a menos que representar seja o seu caso! Receitas prontas podem ser um bom guia, mas não podem enrijecer a conduta e tornar esse momento ainda mais difícil, artificial e sem nenhuma dose de espontaneidade.

Algumas situações mais comuns que desconfortam, colhidas de depoimentos:

  1.  “Não ter mais um sobrenome corporativo causa a sensação de estar à margem, sem identidade organizacional, uma moeda sem valor.”

2. “Procurar as pessoas no momento de busca de emprego pode parecer utilitarista e interesseiro.“

Assim como não existe o modo de fazer networking igual para todos, também não existem respostas iguais para as situações acima, mesmo que sejam frequentes para a maioria das pessoas. O que as leva a sentir e pensar dessa forma, está assentado em diferentes históricos pessoais, crenças e valores que foram construídos ao longo da vida e que influenciam comportamentos e juízos de valor.

Gostaria de examinar, de modo breve, algumas causas antecedentes mais prováveis e recorrentes, que são importantes para entender as situações acima e, quem sabe, ajudar a mudar o curso para corrigi-las.

Sabemos que a vida corporativa exige uma dedicação profissional muito grande na busca constante por resultados e dificilmente encontramos espaço para dedicar parte desse tempo à construção de relacionamentos fora do âmbito da empresa em que trabalhamos, muito menos de cultivá-los.

No entanto, é sabido e estatisticamente comprovado que a fonte de identificação de um novo trabalho surge por meio das pessoas que conhecemos e endossam nossas competências.  

Construir relacionamentos, cultivá-los e manter vivas essas conexões, não podem mais ser ações realizadas apenas quando necessitamos de um novo emprego, pois, obviamente, estará demonstrado um interesse meramente circunstancial e utilitarista.

Cultivar e expandir relacionamentos devem ser práticas de quem deseja construir vínculos pessoais cooperativos e produtivos genuínos; devem ser prioridades na agenda de quem almeja constituir um patrimônio pessoal formado por relações autênticas e sustentáveis. Quanto maior e mais valioso esse patrimônio, maiores serão os benefícios ao nosso alcance, inclusive os que poderão ser obtidos na transição de carreira, com o apoio e indicação das pessoas. Ter um milhão de ‘amigos’ que você desconhece, nas redes sociais, está longe de ser um patrimônio sustentável. Aposte na qualidade dos vínculos autênticos que construiu ou ainda poderá construir.

Emprestamos nosso conhecimento e grande parte de nossas vidas às empresas e, por isso, nossa identidade pessoal se confunde com elas. Uma relação simbiótica temporária da qual só nos damos conta quando nos desvinculamos e o sobrenome corporativo é retirado. Quando do desligamento, sentimos que parte de nossa identidade também foi retirada e perdemos um referencial importante de valor e significado existencial.  

Nesse momento, também constatamos que o nosso grupo de relacionamento ficou circunscrito, por todo tempo, às pessoas que nela trabalhavam e, assim, no conforto da segurança e da estabilidade temporária, descuidamos do futuro e da necessidade de ampliar nossos horizontes, para além das fronteiras do último empregador. 

Em tempos de escassez crescente de empregos, aumento da competição profissional e da expectativa de vida, a disputa do mercado de trabalho será cada vez mais acirrada. O nosso desafio pessoal é construir uma identidade profissional que faça com que o sobrenome corporativo seja parte e não o todo; seja meio e não um fim em si mesmo, entendendo a transição como um intervalo de ciclos profissionais e de vínculos empregatícios cada vez mais curtos e intermitentes.

Não, não é fácil, mas é necessário e urgente dedicar tempo para construir vínculos e relacionamentos interpessoais significativos, pois eles têm sido e serão, cada dia mais, as fontes de novas oportunidades profissionais.

O momento de transição pode ser oportuno para redescobertas, redefinição de rotas e resgate de valores essenciais para nossa vida. Reconectar-se com as pessoas que nos são importantes na vida também pode ser a oportunidade de dar novos rumos e sentido a ela. Aposte nos bons vínculos que você criou, pois eles resistem muito mais ao tempo e à distância.

  Sucesso!!





 


Tatiana Furlan

Profissional de Comunicação e Marketing, com 18 anos de experiência no segmento b2b. Experiencia em gestão de pequenos negocios.

7 a

Vinicius Furlan, bom texto.

Rosa Chofakian

Consultora Sênior | Coach Executiva | Coach de Carreira | Escolha e re-escolha | Desenvolvimento de Liderança | Career Design | Pós Carreira | Psicóloga|

7 a

Muito bom texto.

Christine Gautier

Consultora de Carreira & Outplacement ★ Assessoria Currículo & LinkedIn ★ Suporte de Carreira p/ Estrangeiros no Brasil

7 a
Fabio Santos

Tradutor e localizador independente na Coral Edições

8 a

Obrigado pelas dicas, Vera. Algumas das lições que aprendi com você nos idos de 2003 me servem até hoje como um guia, principalmente em fases de transição. E a importância de manter uma rede de contatos ativa certamente foi uma dessas lições para a vida!

Donizetti Moretti

Gestão Interina | Facilitador de Soluções na Administração Empresarial | Gestor de Pessoas e Equipes | Mentor | Sempre Aprendiz

8 a

Estimada Vera, Obrigado por compartilhar. Assunto que parece simples; você agrega recomendações de valor.

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