Nossos ídolos, nossas referências, mas acima de tudo, nossos valores
Nos últimos dias fui surpreendido com a notícia sobre a prisão do executivo Carlos Ghosn. Confesso que o fato me abateu bastante, não por conhecê-lo ou ter algum vínculo mais próximo, mas pela confiança e expectativa que depositei em seu trabalho e forma de gestão.
Durante 10 anos, após conhecer seu trabalho por publicações, vídeos e artigos, em meus cursos de gerenciamento de projetos, Carlos Ghosn sempre foi citado a meus alunos como um exemplo, uma referência de práticas de gestão bem-sucedidas, afinal um profissional de origem ocidental ser reconhecido e admirado não só por uma empresa, mas por um país não é um feito para qualquer um.
Comecei a refletir sobre todas as pessoas em que já me inspirei, as pessoas pelas quais tenho muita admiração e respeito, em alguns casos, quase como uma idolatria. Alguns conheci ao durante minha jornada profissional, outros um pouco mais a distância ou pelas mídias existentes ou por citação de outros colegas. Lembrei a importância de meus pais e meus amigos para ter uma vida pessoal e profissional digna e que pudesse deixar algum legado positivo.
Analisando minha trajetória, pessoal e profissional, acredito que o balanço é positivo com mais acertos do que erros, e de certa forma posso concluir que as minhas referências também foram muito importantes.
A minha reflexão é sobre a forma cada vez mais massificada e superficial como estamos identificando os nossos ídolos e referências, quase como um produto de prateleira. Hoje como tudo precisa ser rápido, não temos muito tempo para conhecer melhor as pessoas e avaliar se de fato elas devem ser consideradas como alguém que possa nos ajudar a melhorar.
Nossas referências, principalmente as mais distantes, acabam se tornando nossos ídolos e talvez essa idolatria justifique o fato de um executivo com mais de 60 anos, conhecido e respeitado internacionalmente, com um salário de muito milhares de dólares, entenda que ele, como um super-herói, seja diferente de todos os outros mortais e por isso esteja acima das leis e valores de todos os outros, podendo fazer o que achar certo.
Não consigo imaginar alguém com uma excelente reputação profissional, utilizar e desviar recursos de uma organização para benefício próprio. É insano, qual a razão? Não pode ser dinheiro, até porque o valor do desvio é muito menor que a quantidade de dinheiro que esse executivo ganhou com seu trabalho. Também não faz sentido alguém destruir uma trajetória de sucesso, por achar que tem poder. Como é possível alguém prejudicar uma organização que ele próprio ajudou a recuperar de um processo de iminente falência?
Talvez a exposição exagerada e a idolatria descabida possam ter contribuído com a cegueira do executivo em perceber o que estava fazendo e quais seriam as consequências de suas ações. Muito provavelmente o que lembraremos daqui alguns anos é daquele executivo que lesou a empresa que dirigia por interesse próprio e não do modelo de gestão que evitou a falência de uma tradicional organização.
Tenho duas conclusões sobre esse triste fato:
1) As referências são importantes e podem ser úteis, mas precisamos também acreditar mais em nós mesmos e não transferir a responsabilidade de nosso sucesso ou insucesso para terceiros. Ter uma inspiração, se basear em boas ações de pessoas pode ajudar. Entendo que somos os melhores protagonistas para entender os nossos medos, dificuldades, frustrações, capacidade de realização e competências. Não vamos apenas terceirizar isso;
2) Não podemos esquecer os nossos valores e essência, mesmo quando estivermos em posição de destaque e sucesso. Não consigo acreditar que os pais de alguém o eduquem para ser uma pessoa de má índole, ou que nossos amigos de verdade nos influenciem para realizarmos ações que prejudiquem outras pessoas ou para que tenhamos uma vantagem pessoal. O meio em que vivemos pode até influenciar, mas os nossos bons valores precisam prevalecer.
Em relação ao Carlos Ghosn, como não o conheço, é impossível explicar a razão de seus últimos atos.
Designer de Processos, MSc, Lean, Scrum Master EXIN, Especialista em Gamification.
6 aMuito bom. Texto e situação para refletirmos. Abs.
Gerente de PMO | Gerente de Portfolio, Programas e Projetos | Professor e Palestrante
6 aRogério Roberto LUCIANA SANTOS, PMP, ASF, ITIL Nilo Petrin André Ricardi, PMP