Nota semanal - 16 a 20 de dezembro

Nota semanal - 16 a 20 de dezembro

Cenário Doméstico

No Brasil, o indice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado pela FGV, registrou uma queda de 95,6 para 92 pontos em dezembro. Essa retração reflete um aumento na cautela por parte dos consumidores, influenciado por fatores como juros elevados, pressões inflacionárias e incertezas no cenário econômico.

Essa queda no ICC é preocupante, pois sugere que as famílias estão mais receosas em comprometer sua renda, especialmente com a aquisição de bens duráveis, que dependem frequentemente de financiamentos. Esse comportamento pode impactar diretamente o crescimento econômico, desacelerando o ritmo de expansão do PIB e, consequentemente, a geração de empregos.

Além disso, essa desconfiança também afeta as empresas, que tendem a ajustar seus investimentos e planos de produção para se adequar à demanda menor.


Cenário Internacional

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, esta semana trouxe novos dados sobre a atividade econômica, que reforçam uma visão abrangente sobre o desempenho do país. O Índice de Gerentes de Compras (PMI), que abrange tanto o setor de serviços quanto o industrial, alcançou 56,6 em dezembro, o maior nível dos últimos 33 meses, superando os 54,9 registrados no mês anterior. Esse resultado foi impulsionado pelo setor de serviços, cujo PMI específico avançou de 56,1 em novembro para 58,5 em dezembro.

Por outro lado, o PMI do setor industrial recuou de 49,7 para 48,3 no mesmo período, marcando o terceiro mês consecutivo de contração e atingindo a mínima em três meses. Apesar desse desempenho misto, o índice composto, que combina serviços e indústria, atingiu o maior patamar do ano, sinalizando um crescimento robusto, ancorado principalmente na força do setor de serviços.

As vendas no varejo também reforçaram o otimismo. Em novembro, houve um aumento de 0,7% mês a mês, superando a previsão de 0,5% e o resultado revisado de 0,5% em outubro. O crescimento foi puxado pelas vendas em concessionárias de veículos automotores e varejistas online. Esses números refletem a resiliência do mercado de trabalho, com baixos níveis de desemprego e crescimento salarial consistente, o que sustenta o poder de consumo das famílias.

Apesar do desempenho sólido no varejo, os números da produção industrial apresentaram sinais de fraqueza. Em novembro, a produção industrial caiu 0,1% na comparação mensal e 0,9% em relação ao mesmo período de 2023. O setor de mineração recuou 0,9% no mês, enquanto os serviços públicos registraram queda de 1,3%. A utilização da capacidade também ficou abaixo da média de longo prazo, caindo para 76,8%. Contudo, esses dados não sugerem riscos significativos à economia como um todo, dado o bom desempenho dos outros setores.

No âmbito dos preços, o Índice de Preços para Gastos Pessoais (PCE), referência para o Federal Reserve medir a inflação, mostrou uma alta de 0,1% em novembro na base mensal e 2,4% na base anual. O núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, permaneceu estável em 2,8% na comparação anual, indicando que a inflação ainda resiste em alguns segmentos, mesmo com desacelerações pontuais.

Já a renda e os gastos pessoais dos norte-americanos também apresentaram avanços. A renda subiu 0,3% em novembro, enquanto os gastos aumentaram 0,4%, refletindo uma economia sustentada por poupanças e consumo robustos.No campo da política monetária, o Federal Reserve anunciou um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, levando-a para o intervalo entre 4,25% e 4,50%. Esta foi a terceira redução consecutiva, alinhada às expectativas do mercado. No entanto, a decisão não foi unânime: a governadora Beth Hammack votou contra, argumentando que a inflação ainda exige cautela.

O presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou que, embora a inflação tenha desacelerado significativamente nos últimos dois anos, ainda está acima da meta de 2%. Ele destacou que o banco central está "próximo de encerrar" o ciclo de cortes de juros, avaliando a proximidade da chamada "taxa neutra", que não acelera nem desacelera a economia. Powell reforçou que futuras decisões dependerão de novos progressos na redução da inflação e da manutenção de um mercado de trabalho sólido.

O Fed espera atingir uma inflação de 2,1% em 2025 e alcançar a meta de 2% apenas no final de 2026. Caso os dados futuros contrariem essas expectativas, ajustes na política monetária poderão ser feitos, incluindo possíveis interrupções nos cortes de juros ou até mesmo aumentos. Até agora, a estratégia do Fed tem mostrado eficácia, com juros elevados reduzindo a inflação ao longo dos últimos dois anos, enquanto flexibilizações graduais buscam estimular a demanda e proteger o mercado de trabalho.

Nesse contexto, equilibrar o controle inflacionário com o suporte ao crescimento econômico permanece como o maior desafio para a política monetária americana, uma tarefa que será decisiva para os rumos da economia nos próximos anos.

Zona do Euro

Na Europa, os indicadores econômicos de dezembro na Zona do Euro trazem um quadro setorial contrastante, que merece atenção. O PMI Industrial manteve-se em 45,2 pontos, reforçando o cenário de contração na atividade manufatureira. Esse resultado reflete a fraca demanda global e as persistentes pressões nos custos de produção, dificultando a retomada do setor.

Por outro lado, o PMI do Setor de Serviços alcançou 51,4 pontos, superando as expectativas. Essa alta é atribuída, em parte, a ajustes sazonais, como o fortalecimento do turismo e da hospitalidade, que costumam ganhar força no final do ano. Isso demonstra que o setor de serviços está atuando como um amortecedor para os impactos negativos enfrentados pela indústria.

O PMI Composto, que combina os dois setores, ficou em 49,5 pontos, indicando uma economia em transição. A retração industrial vem sendo parcialmente compensada pelo desempenho positivo dos serviços, o que evidencia uma dinâmica econômica desigual na região.

No campo inflacionário, os dados apontam para uma desaceleração econômica mais ampla. O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (ICP) contraiu -0,6% em novembro, acumulando uma alta de 2,7% nos últimos 12 meses. CPI geral seguiu a mesma tendência, com uma retração de 0,3% em novembro e um acumulado de 2,2% no ano. Esses números estão bem abaixo dos patamares observados durante os picos de pressão inflacionária, indicando um alívio progressivo.

Outro dado relevante é o leve recuo no crescimento anual dos salários, de 4,5% no segundo trimestre para 4,4% no terceiro. Esse movimento sugere que as negociações salariais estão se moderando, acompanhando a desaceleração inflacionária.

Com menos pressão para reajustes agressivos nos salários, as empresas podem respirar um pouco mais aliviadas, mas o consumo agregado pode sentir os efeitos dessa moderação. De maneira geral, a Zona do Euro se encontra em um momento de transição, com desafios claros no setor industrial e uma moderação nas pressões inflacionárias. Para o futuro, a definição de políticas econômicas eficazes será essencial para equilibrar a retomada econômica com a necessidade de manter a inflação sob controle.

Ásia

No Japão, o BoJ decidiu manter os juros em 0,25%. Contudo, os dados de inflação divulgados na mesma semana mostram que as pressões inflacionárias continuam crescendo. Isso reforça a perspectiva de que a autoridade monetária poderá adotar uma postura mais rígida em breve.

Um dos fatores que amplifica essas pressões é a desvalorização do iene. O dólar atingiu uma máxima de cinco meses, chegando a 157,80 ienes, o que encarece as importações e pode elevar ainda mais os preços ao consumidor.

O núcleo do índice de preços ao consumidor, que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos, subiu 2,7% em novembro em relação ao ano anterior, levemente acima da previsão mediana de 2,6%. Essa aceleração é significativa, considerando o aumento de 2,3% registrado em outubro. Os altos preços do arroz e a retirada gradual dos subsídios governamentais para contas de serviços públicos foram os principais responsáveis por essa alta.

O aumento da inflação não surpreendeu o mercado. Os agentes econômicos apontam que o BoJ já esperava essa tendência quando decidiu manter os juros na véspera. Essa visão sugere que o banco está confiante em retomar as elevações das taxas nos próximos meses, especialmente se os dados continuarem mostrando persistência inflacionária.

Desde março, o BoJ vem ajustando gradualmente sua política monetária. Após abandonar os juros negativos, elevou a taxa de curto prazo para 0,25% em julho, indicando que a economia japonesa está próxima de alcançar, de forma sustentável, sua meta de inflação de 2%.

Além disso, a instituição vem monitorando o crescimento salarial como um pilar para sustentar uma inflação estável. Para 2025, as negociações salariais da primavera serão cruciais nesse contexto. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, sinalizou a possibilidade de um novo aumento de juros em janeiro, dependendo de como os dados econômicos evoluírem.

A perspectiva de elevação dos juros já é acompanhada de perto pelo mercado. Segundo economistas, qualquer menção de Ueda sobre avanços nas negociações salariais ou a consolidação da meta inflacionária pode reforçar as expectativas de alta nas taxas na reunião de janeiro.

Apesar das incertezas, o BoJ segue cauteloso, equilibrando os desafios internos e as políticas externas, incluindo possíveis reformas tributárias no Japão e o impacto das medidas econômicas globais. O caminho para uma política monetária mais rígida está sendo trilhado com cuidado, mas o mercado já se prepara para os próximos passos do banco central.


EQUIPE

 Renan Silva, CGA

renan@bluemetrix.com.br

Guilherme Sales, CGA

guilherme@bluemetrix.com.br

Kaio da Fonseca –Research

kaio.fonseca@bluemetrix.com.br

Catharina Viotti –Research

catharina.bluemetrix@gmail.com



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