NOVOS SABERES E HABILIDADES PARA UM NOVO GESTOR ESCOLAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
O Brasil é um país com números bem expressivos quando se trata do mercado educacional. Ao todo, são 47 milhões de estudantes na Educação Básica, dos quais aproximadamente 20% estão concentrados na rede privada de ensino, um efetivo total de 8 milhões de estudantes. No que tange o corpo docente, foram registrados, em 2020, 2,2 milhões de professores. Já nos cargos de direção, existem 161.183 gestores atuando nas 179,5 mil escolas de educação básica. Todo esse ecossistema movimenta R$80 bilhões de reais por ano e tem passado por profundas mudanças.
Aquecimento do setor
Nos últimos anos, acompanhamos um super aquecimento da Educação Básica com a entrada de grandes players que trouxeram não só capital para diversas aquisições, como também uma maior profissionalização da gestão escolar. Desde fundos de private equity até grupos mais tradicionais altamente capitalizados (alguns até com IPO realizado em Nasdaq), observamos uma tendência à concentração do mercado e a entrada de centenas de profissionais que vieram da Indústria e do Comércio. Estima-se hoje que 40% da rede privada de ensino no país esteja nas mãos dos maiores grupos educacionais. Os outros 60% ainda pertencem às chamadas ‘’escolas de bairro’’ e outros tipos, como as escolas confessionais, por exemplo.
Maior profissionalização
Não obstante a maior profissionalização da gestão escolar naturalmente exigida em decorrência de um ambiente mais competitivo, nota-se uma carência na formação dos diretores escolares. Segundo o Censo, 12% dos diretores não possuem formação Superior; do restante, 40% possuem apenas a Graduação. Quase 60% dos diretores escolares da rede privada de ensino ocupam essa posição por serem os proprietários das escolas; outros 30% por indicação ou escolha direta dos mantenedores. Ainda de acordo com o Censo, apenas 1 em cada 10 diretores no país possui curso de formação continuada, com no mínimo 80 horas, em gestão escolar
Implicações da pandemia, desafios a seguir e a importância do diretor-gestor
Soma-se a esse cenário complexo a crise trazida pela pandemia, com o fechamento de milhares de escolas Brasil afora. Na Educação Infantil, por exemplo, segundo dados da Federação Nacional das Escolas Particulares, cerca de 10% das instituições encerraram suas atividades no último ano. Para além das suas atribuições institucionais, o diretor precisa olhar para sua escola como um negócio. É necessário que o diretor se torne também um gestor. Os critérios para as tomadas de decisão devem estar cada vez mais pautados em racionais claros e objetivos, dentro de lógicas que tangenciam os fundamentos de gestão em finanças, pessoas e produtos. Vivemos um cenário bem delicado, com altas taxas de inadimplência, evasão escolar acentuada e uma digitalização abrupta do ensino no último ano, que obrigou as escolas a se adaptarem em questão de dias para continuarem suas atividades. Sabemos que o processo foi doloroso, gerando tensões entre todas as partes envolvidas e muitas escolas tiveram suas fragilidades mais expostas. Isso sem falar na implantação da BNCC e na necessidade de se repensar o processo de aprendizagem, algo que vinha ocorrendo desde antes da pandemia.
Novos conhecimentos para o enfrentamento da realidade
Em essência, o diretor escolar é um grande articulador, tendo como principal função garantir a realização do Projeto Político-Pedagógico (PPP) na escola. Para isso, é fundamental promover a integração entre as diferentes áreas, fornecendo às coordenações pedagógicas condições ideais para o seu trabalho rotineiro, isto é, junto aos corpos docente e discente, além de ser responsável pelos aspectos legais e burocráticos da instituição, que são fundamentais e volumosos. Contudo, dado o novo cenário trazido pela pandemia e já descrito nos parágrafos anteriores - maior competitividade e necessidade de profissionalização da gestão escolar - separamos aqui alguns saberes importantes para que esse gestor enfrente os novos desafios ou os desafios do novo mundo:
1) Finanças
Nem todas as escolas possuem um departamento financeiro. Em se tratando das escolas de menor porte, existe ainda uma informalização dessa função, geralmente acumulada pelo diretor ou atribuída a um terceiro. No dia-a-dia, a contabilidade da escola não é feita dentro dos fundamentos básicos de contabilidade, o que, por sua vez, não permite que o gestor tome boas decisões, uma vez que os números não estão dispostos da maneira adequada. Saber ler um Balanço Patrimonial, um Demonstrativo de Resultados do Exercício ou um Demonstrativo de Fluxo de Caixa são habilidades minimamente importantes para uma boa gestão de qualquer negócio, assim como adotar boas práticas na contratação de fornecedores, pessoas e facilities, afinal, uma decisão de compra ou contratação equivocadas podem gerar custos e, até mesmo, passivos às escolas. No cenário atual, saber ‘fazer as contas certas’ é uma habilidade que agrega muito ao gestor.
2) Pessoas
Qual diretor nunca teve problemas dentro de sua equipe? De profissionais que não conseguem performar bem até aqueles casos onde a má vontade do colaborador é evidente. Um dos grandes problemas envolvendo diretores de escolas é conseguir manter todo o time na mesma frequência. Não bastassem os problemas cotidianos, a implantação da BNCC e a adoção dos itinerários formativos exigem uma grande capacidade de negociação e articulação por parte do gestor, que deve atuar para que todos os agentes estejam na mesma página. Um bom entendimento sobre Análise Transacional, por exemplo, ajuda o gestor a ter mais ferramentas para lidar com essa atmosfera.
3) Produto
Enxergar a Educação como um mercado e a escola como um negócio são uma necessidade do mundo atual, e passaríamos horas questionando a legitimidade disso. Contudo, a realidade está diante dos nossos olhos e enquanto discutimos esse tema, a sua escola vizinha está utilizando todas as técnicas para garantir a melhor jornada de aprendizagem para o aluno enquanto você fica tenso lendo essas linhas. Lembre-se: do lado de lá, temos pais ‘consumidores’ cada vez mais empoderados e atentos ao que se passa dentro de sala. Aquela ‘velha’ escola regida por um diretor inalcançável e imbuído de uma autoridade inquestionável jaz na memória de quem um dia ajoelhou no milho. Hoje, com uma maior competitividade, o gestor PRECISA pensar na experiência do aluno dentro da escola, fornecendo às coordenações e aos docentes todos os recursos necessários para a melhor jornada possível, o que garante uma maior retenção e um maior LTV. Cada vez mais, User Experience e Costumer Success são termos que farão parte da rotina de um gestor.
3.1) Marketing
Esse item é um parágrafo à parte. Até a primeira década do século XXI, as escolas concentravam seu marketing em ações mais, digamos, tradicionais: outdoors, busdoor, panfletos, anúncios em rádios e tv… O tempo passou. Hoje, nossas atenções estão voltadas para o celular, sobretudo para as redes sociais. Há um grande oceano para quem deseja trabalhar com marketing educacional. Liste 10 escolas no seu bairro e você verá que, em muitos casos, o ‘marketing’ delas se resume a postagens no Instagram e alguns vídeos no Youtube, quando não uma ‘impulsãozinha’, aquele famoso ‘dinheiro rasgado’ por quem não entendeu ainda a necessidade de se profissionalizar o marketing da escola. Nesse sentido, o gestor escolar deve conhecer minimamente o marketing digital para conseguir dialogar com o seu time interno ou com uma empresa terceirizada… Ou ainda, para convencer os donos da escola (ou a si mesmo quando ele for o dono) sobre a importância de se investir nesse setor. Conhecer o básico de tráfego na internet e algumas métricas importantes podem dar uma grande vantagem competitiva à instituição dentro do seu bairro.
Gestor escolar 4.0
Em suma, o diretor escolar possui o papel de gestor, regendo toda a orquestra e garantindo a harmonia entre os naipes. Cada vez mais, no entanto, essa função demandará certos conhecimentos e habilidades que não necessariamente foram contemplados durante sua formação acadêmica ou durante sua vida à frente da escola, e que hoje são importantes. Para muito além de um burocrata - visão caricatural semeada no imaginário popular - o diretor-gestor precisará ser muito mais um executivo à frente da escola. Do contrário, corre o risco de sucumbir às intempéries de um mundo cada vez mais dinâmico ou sufocado por uma concorrência mais capitalizada.
FONTES:
MEC/Inep/DEED - Microdados do Censo Escolar
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