Na tempestade, seja uma caravela
Em 1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral partiu rumo às Índias em uma expedição que reuniu centenas de pessoas e cujo objetivo era consolidar as relações com o Oriente. Das embarcações utilizadas, tínhamos dois tipos principais: as naus e as caravelas, que se distinguiam, dentre outras coisas, pela capacidade de armazenamento e pela velocidade com que conseguiam se deslocar. As caravelas eram menores, mais 'leves' de operar, permitindo uma reação mais rápida dos comandantes diante das tormentas e outras ameaças.
O que o parágrafo acima tem a ver com o momento atual? Tudo. Empresas de todas as áreas - e aqui eu me permito falar especificamente de Educação - estão se reinventando para manter a receita (ou reduzir as perdas), aumentar as vendas (quando possível) e, no meio disso tudo, experimentando novas modalidades de trabalho (aos trancos e barrancos). As escolas não escapam desse cenário. E quando observamos as escolas privadas, o horizonte é bastante cinzento.
Com a entrada de grandes players financeiros no mercado de Educação nos últimos anos, muitas redes profissionalizaram a gestão. Contudo, basta olharmos à nossa volta e encontraremos aquele perfil de escola mais familiar, que até consegue se projetar e ter uma, duas ou mais filiais, mas continua sendo gerida de forma mais artesanal, sem uma noção clara do business da coisa e com uma menor capacidade de gerar caixa. Geralmente, o proprietário acumula as funções de diretor financeiro e pedagógico, ou quando há pessoas nessas funções, suas autonomias acabam limitadas pela paixão dos donos. Enquanto você lia esse parágrafo, tenho certeza que conseguiu projetar na sua mente pelo menos um exemplo que você conheça de escola que se encaixe nesse perfil.
Nas crises, as empresas que conseguem sobreviver possuem uma característica, dentre várias, com a qual eu sou particularmente fascinado: a capacidade de pensar e agir rápido, baseada em bons racionais para a tomada de decisão. Para que as escolas com menor fôlego consigam sair dessa tempestade, será necessário rodar mais 'leve', o que implica pensar uma nova estrutura de custos, uma precificação mais adequada ao cenário que virá e serviços oferecidos mais alinhados a realidade que se apresenta com o auxílio devido de tecnologia para atingir esses objetivos. Será necessário um certo grau de profissionalismo na gestão. Nesse cenário, acredito que as Edtechs terão papel fundamental pela sua natureza ágil e disruptiva, contribuindo com a entrega de soluções com grande usabilidade e baixo custo. Do contrário, as chances do barco afundar são grandes... Que as escolas consigam ser caravelas e vençam essa tempestade!