O ano de 2020 e a degradação ambiental

Com o passar dos anos houve uma crescente preocupação por parte da população mundial em relação às questões ambientais, muito por conta de os recursos naturais essenciais à existência humana estarem se exaurindo, como consequência de um histórico irracional de manejo destes recursos. Como exemplo, é possível citar a temática dos recursos hídricos, grande receptor de cargas poluidoras oriundas do uso doméstico e de processamentos industriais, sem prévio tratamento ou tratamento adequado.

Todavia, os problemas ambientais, infelizmente, não se resumem à poluição das águas (o que por si só já é um problema enorme, uma vez que existem diversas doenças infecciosas ligadas à veiculação hídrica). Soma-se a isso as queimadas, os desmatamentos desenfreados, a disposição inadequada de resíduos, o avanço não planejado e sem previa preocupação dos sistemas agropecuários sobre áreas naturais, uso e ocupação do solo de formar incorreta. Vale a pena ressaltar ainda nossas ações individuas, como hábitos alimentares e consumo exacerbado.

Tudo que foi citado, está ligado diretamente ao aumento da degradação ambiental, causando alterações, como por exemplo; nos solos e na fertilidade dos mesmos, alterações na biodiversidade e no clima. Segundo Lindahl e Grace (2015), a degradação ambiental pode acarretar ainda em problemas a saúde humana por causar escassez de água e alimentos, provocar o deslocamento de pessoas e aumentar o risco de ocorrência de doenças infecciosas.

Os desastres ambientais devido a essa falta de cuidado com o planeta estão cada vez mais evidentes. No início desse ano muitos foram os relatos desses desastres, como as secas, os incêndios na Austrália e na Amazônia, nuvens de fumaça que escureceram cidades no meio do dia e as enchentes como as que ocorreram em Minas e em São Paulo.

Como se não fosse o bastante todas essas questões, tivemos ainda que enfrentar uma pandemia, que parou o mundo. Carlos Nobre, em painel promovido pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU, pontuou que talvez tenha sido sorte que a pandemia não tenha começado no Brasil, pois a Amazônia tem a maior quantidade de microrganismos do mundo, uma vez que desmatamentos, comercio de animais silvestres e as populações urbanas estão perturbando todo o tempo o sistema.

Todas essas situações e a fala de Carlos nos levar a pensar como os processos humano-induzidos podem acarretam em riscos para a saúde. Em 2015, a OMS publicou o relatório “Investing to overcome the global impact of neglected tropical diseases”, alertando justamente para a relação entro o aquecimento global e as doenças negligenciadas, discorrendo sobre como o aumento na temperatura, causado por ações antrópicas, acarretariam na ampliação de áreas acometidas por doenças tropicas, como a dengue e a malária. A OMS considera as mudanças climáticas a maior ameaça para a saúde, podendo causar milhares de morte até 2030, algo entorno de 250 mil, devido a ondas de calor, e doenças promovidas pela ingestão de água e alimentos contaminados (Assad, 2016).

O Coronavírus, acendeu uma alerta de atenção, que talvez já tivesse que estar acesso a muito tempo. A principio quantos de nós não pensou que o problema era somente na China e que por isso não deveríamos nos preocupar. Contudo, contrariando esse pensamento, a doença chegou nos quatros cantos e devido a pandemia fomos obrigados a mudar por completamento nossas rotinas e hábitos, entramos em quarentena e a aderimos ao isolamento social.

Talvez isso serviu para que fosse entendido como tudo está conectado, é que os problemas que enfrentamos não são somente locais, mas sim globais. Diversos foram os relatos em meios de comunicação, mostrando como a desaceleração e o isolamento, trouxeram efeitos benéficos ao meio ambiente, tendo resultado em uma diminuição da concentração de poluentes tóxicos no ar e na água em diversos lugares.

Todos os acontecimentos desse ano deixaram de uma forma muito evidente que os seres humanos precisam e devem manter os ecossistemas estáveis e saudáveis para a sua própria sobrevivência. E de forma a evitar catástrofes de magnitude muito maior, precisamos refletir e agir sobre a nossa relação com o meio ambiente, pensando na utilização de forma correta e respeitosa dos recursos naturais. 

Fontes:

ASSAD, L. Relações perigosas: aumento de temperatura e doenças negligenciadas. Cienc. Cult. vol.68 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2016.

LINDAHL, J. F.; GRACE, D. The consequences of human actions on risks for infectious diseases: a review. Infection Ecology & Epidemiology, 5, 1, p. 1-11, 2015.

Investing to overcome the global impact of neglected tropical diseases

Para estudioso do clima, "sorte" explica pandemia não começar pelo Brasil




Cassia Moraes

Founder and Board member | Climate Policy and Innovation | International Cooperation

4 a

Parabéns pelo texto!!

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