O CFO é o melhor sucessor para o CEO?

O CFO é o melhor sucessor para o CEO?

Os CFOs estão sendo cada vez mais demandados para a posição de CEO na linha sucessória das companhias - pelo menos é o que tenho percebido. Um levantamento da Crist|Kolder Associates demonstra que, em 2022, 16% dos CEOs das 500 maiores empresas dos EUA tinham origem na área financeira. Mas será que essa lógica realmente se aplica à realidade brasileira? O CFO, tradicionalmente visto como o guardião das finanças, está preparado para liderar a organização como um todo? Será que o CFO é, de fato, o melhor sucessor para o CEO?




Não é só sobre cortes de gastos

Quando pensamos na figura de um CFO, a primeira imagem que vem à mente é a de alguém focado em controle financeiro e corte de custos. No entanto, o CFO moderno precisa ir (e percebo que já se encaminha para essa direção) muito além disso. Para ser um CEO, a adoção de um posicionamento estratégico voltado ao crescimento contínuo é fundamental. Isso envolve desenvolver e implementar estratégias que alavanquem a receita da empresa sem depender exclusivamente de reduções de custos - ele precisa ser criativo e pensar fora da caixa, contemplando uma atuação que envolva decisões arrojadas.

Dados da McKinsey revelam que 70% dos CFOs que se tornaram CEOs conseguiram manter ou aumentar a receita de suas empresas ao longo dos três primeiros anos de mandato, destacando a importância de equilibrar controle financeiro com investimentos em crescimento. Esse processo inclui áreas como inovação, digitalização e novas linhas de negócios, que muitas vezes requerem investimentos iniciais significativos, mas são essenciais para a competitividade a longo prazo.


Uma visão holística do negócio

Outro aspecto fundamental que diferencia um CFO realmente preparado para ser CEO é a capacidade de enxergar o negócio sob uma ótica sistêmica. Enquanto a maioria dos CFOs tende a se concentrar em resultados financeiros, aqueles que aspiram à diretoria executiva precisam ter uma compreensão profunda das diversas áreas da empresa.

Segundo um estudo da Deloitte, 78% dos CFOs acreditam que é fundamental expandir seu papel para áreas além das finanças, como estratégia e operações - tendo em vista que essa visão holística é o que permite ao CFO tomar decisões mais informadas e estratégicas.


Comunicação e gestão de pessoas

Segundo um estudo da PwC, a comunicação é uma das áreas mais críticas para que os CFOs possam se destacar em cargos de liderança. Em minha experiência, os profissionais que chegam ao cargo de CEO costumam se destacar pela competência em gestão de pessoas - e essa habilidade, que muitas vezes não é associada à área financeira, faz toda a diferença em sua atuação.

Um CFO que deseja se tornar CEO precisa ser capaz de inspirar e engajar seu time, construir relacionamentos sólidos e criar uma cultura organizacional positiva. Logo, a forma como se comunica faz toda a diferença. Claro que, muitas vezes, direcionar nossos olhares apenas às métricas e resultados numéricos é o caminho mais atrativo - por outro lado, uma verdadeira liderança deve fazer com que as conquistas da área sejam coletivas, e isso exige uma comunicação clara, empática e, principalmente, a capacidade de ouvir e entender as necessidades e motivações de todos daqueles que impulsionam o negócio no dia a dia.

Segundo a Harvard Business Review, empresas com líderes empáticos e acessíveis tendem a ter colaboradores mais motivados e engajados, o que contribui diretamente para o alcance dos resultados e, por consequência, para a estruturação de uma imagem positiva frente à alta administração. Personalidades diferentes sempre farão parte do mundo corporativo, mas se um CFO quiser chegar à posição de CEO, precisará olhar para fora da bolha financeira (e, acreditem, muitos CFOs que conheço já estão trilhando essa trajetória com êxito).


Orientação a dados: uma estratégia baseada em informação

Uma das grandes competências de um CFO é sua familiaridade com dados e análises financeiras. No entanto, essa habilidade precisa ser levada para além dos relatórios financeiros tradicionais. O CFO que pretende se tornar CEO deve usar dados de maneira estratégica para fundamentar decisões que impactem todas as áreas do negócio - isso significa pensar nos impactos de curto, médio e longo prazo para diferentes setores.

Se houver uma diminuição no orçamento do RH, quais seriam as possíveis decorrências? Na área de operações, um investimento assertivo também pode mudar o jogo. Por isso, o(a) diretor financeiro, além de pensar em como resolver as demandas específicas relacionadas às finanças da companhia, precisa colocar na balança os efeitos de suas decisões. E, sem dúvidas, fazer isso o colocará um passo à frente na disputa pela diretoria executiva.

De acordo com a Gartner, 69% dos CFOs afirmam que sua maior prioridade para os próximos anos é utilizar dados para apoiar a tomada de decisões estratégicas. Logo, com todas as cartas na mesa e um terreno fértil à sua espera, essas lideranças têm a oportunidade de expandir ainda mais sua atuação.


Desenvolvimento de relacionamentos sólidos com outras áreas

Um CEO bem-sucedido sabe que não pode agir sozinho e que o sucesso da empresa depende da colaboração entre todas as áreas - ou, mais especificamente, de sua abordagem intersetorial. Por isso, o CFO que almeja a posição de CEO deve investir no desenvolvimento de relacionamentos sólidos e de confiança com outros departamentos, como marketing, vendas, operações e tecnologia.

Uma pesquisa da Harvard Business Review demonstra que 82% dos CEOs de sucesso têm um forte relacionamento com seus times de liderança, especialmente durante períodos de transformação organizacional. Logo, quando o CFO assume um papel de liderança colaborativa, ele não só melhora o desempenho geral da organização, mas também se posiciona como um líder capaz de mobilizar e unificar toda a equipe em torno de objetivos comuns.




O papel do CFO está se transformando. Não basta mais saber sobre números e manter as finanças em ordem. O CFO que deseja se tornar o sucessor ideal para o CEO precisa estar presente, atuante e disposto a sair da sua zona de conforto. Ele deve ir além da gestão financeira, adotando uma visão holística do negócio, desenvolvendo competências de gestão de pessoas, utilizando dados de maneira estratégica e construindo relacionamentos sólidos com todas as áreas. Quando essas habilidades estão presentes, o CFO é, com toda certeza, o melhor candidato ao cargo de CEO.

E você, o que acha? O CFO é realmente o sucessor ideal para o CEO? Compartilhe suas percepções e experiências nos comentários. 

Alexandre de Salles

CEO | Líder Estratégico em Finanças e Governança | Promovendo Crescimento com Propósito por Meio de Estratégia e Relações Institucionais | CFO as a Service | Conselheiro | Apaixonado por Escrita, Cultura e Inovação

2 m

Nos últimos 12 anos da minha carreira, atuei como diretor de relações institucionais e governo, e depois assumi a função de CFO com o objetivo de me preparar estrategicamente para a cadeira de CEO. Essa transição foi extremamente assertiva, me proporcionando uma visão holística da empresa e fortalecendo minhas competências para liderar a organização de maneira mais abrangente. No entanto, percebi que, na prática, a sucessão interna nem sempre segue essa lógica linear, especialmente diante de um crescente movimento de transição intersetorial. Curiosamente, essa tendência tornou mais fácil a migração para outra empresa, até mesmo em um setor diferente, do que a ascensão natural dentro da mesma companhia.

Douglas Lima

Gerente de privacidade e proteção de dados | Data protection officer

2 m
Tatiana B.

CEO | CFO | MD | Conselheira | W-CFO Member

2 m

Considerando que a função de CFO tem, há tempos, incorporado cada vez mais áreas corporativas, deixando de ser apenas o responsável pelos números e caixa, e assumindo um papel crescente em estratégia, operações, gestão de pessoas e tecnologia, vejo a sucessão como algo natural.

Rodolfo Turelli

CFO do Grupo REAG | Diretor Executivo Financeiro | M&A | Inteligência Artificial | Private Banking | Experiência Internacional | Suiça | Cidadania BR e UE

2 m

O trabalho do CFO tem mudado muito nos últimos anos e realmente ele tem que não só saber de números e Finanças, mas também deve ter um perfil de agregar a área estratégica das empresas, seja comercial , produção e tecnologia com suas opiniões e trazer o melhor resultado para a empresa. Isso só funciona com um CFO que tem a mente aberta para novidades e saber lidar com as diversas nuances das outras áreas. Deve ter também um olhar crítico para o futuro da Cia e ouvir conselhos de diversas fontes, como competidores, parceiros, shareholders e principalmente das pessoas internas da Cia. Só assim terá uma visão estratégica e saberá os desafios a seguir na posição de CEO.

Ivan C.

Manchester MBA | CFO & Board Advisor | GV Angels | Finance, Healthcare & Digital Platforms

2 m

Tudo depende do momento na qual a empresa atravessa. Momentos de turbulência, pressão sobre corte de custos e corrosão de margens - o que diz muito sobre o momento atual pós-pandemia nos mercados em geral - podem combinar com este movimento. De todo modo, profissionais de finanças precisam combinar a tradicional boa leitura dos COGS e SGAs com o sales top line, com elementos de marketing e growth, os próprios indicadores econômicos sobre o balanço e cash flow, além de uma excelente leitura macro da tese onde estão atuando.

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