O CHEFE E A ASSISTENTE
Igualdade de género consiste na igualdade de direitos e liberdades, de oportunidade de participação, de reconhecimento e valorização do homem e da mulher, em todos os domínios da sociedade, seja político, económico, laboral, pessoal e até familiar. Significa que existe justiça e equidade no tratamento de mulheres e homens, de acordo com as suas respectivas necessidades. Deste modo podemos falar de tratamento igual (quando necessário) ou diferenciado (quando necessário), entre os géneros, porém este último deverá ser considerado equivalente quando nos referimos a direitos, benefícios, obrigações, e oportunidades.
Desigualdade de género consiste na diferença de acesso e de distribuição a recursos económicos, educativos, culturais, políticos, laborais e pessoais, até ao nível de papéis, reconhecimento e prestígio na sociedade. Concretiza-se com desvantagens simbólicas e reais que tanto mulheres como homens experienciam.
As relações de género têm-se caracterizado ao longo dos tempos pela sua desigualdade existindo uma clara hierarquização entre os géneros. Fatores como cultura, religião e sociedades distintas contribuem de forma directa para esta realidade.
São os diferentes tipos de segregação que encontramos na nossa sociedade que aumentam e perpetuam a desigualdade entre homens e mulheres. O aumento da empregabilidade feminina em nada representa o declínio na desigualdade de género, antes pelo contrário.
Com os fenómenos da liberalização, e posterior competitividade económica, os níveis de produção aumentaram o que levou a uma diminuição do valor da mão-de-obra. As mulheres tornaram-se numa atraente força de trabalho, nem sempre da forma mais positiva. Assistimos assim ao fenómeno da segregação em três vectores: sectorial, transversal e vertical.
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Com a divisão, e posterior discriminação por sectores, homens e mulheres estão a exercer profissões características das suas chamadas ‘competências tradicionais’. Existe uma maior tendência para que os homens exerçam “profissões de homem” e as mulheres exerçam “profissões de mulher”. O homem é médico e a mulher é enfermeira. O homem é director da escola e a mulher é professora. O homem é o chefe e a mulher é a assistente.
Quando falamos numa segregação transversal referimo-nos ao facto de existir uma desigualdade evidente na representação de homens e mulheres com a celebração de contratos a prazo, no nível da taxa de desemprego e remuneração, no tamanho das empresas onde trabalham e a rentabilidade da mesma. Existem menos homens a trabalhar com contratos a prazo. Existem mais mulheres desempregadas do que homens. Existem mais homens a serem melhor pagos, pelo mesmo trabalho exercido por uma mulher. Existem mais mulheres a trabalharem em empresas de pequena dimensão e baixa rentabilidade do que homens.
E relativamente à segregação vertical, apesar de existirem mais mulheres com qualificações superiores a sua presença nos quadros das empresas é inferior à dos homens. Existem mais homens em cargos de chefia do que mulheres.
Entre estudos e estatísticas a realidade persiste. Diferenças no tipo de contrato, rendimento, atividades e profissões. Desigualdades no acesso a oportunidades, benefícios, direitos e obrigações. Mas todas as realidades são possíveis de mutação. Podem ser morosas mas não são estanques no tempo. Podem moldar a humanidade por gerações, mas não poderão moldar a realidade a que aspiramos. A única realidade que nos poderá formar enquanto seres, verdadeiramente humanos. Somos todos iguais, com as nossas diferenças. Seremos todos melhores, com as nossas diferenças. E ser ‘diferente’ é diferente de ser ‘desigual’.
Ana Cláudia Gomes