O desafio da recolocação: um aprendizado particular

É um dia qualquer, tudo planejado dentro da rotina, você acorda, se arruma e segue para a empresa e, de repente, após algumas horas no trabalho, a notícia de que “você não faz mais parte da empresa a partir de hoje”. O mundo parece parar de girar por um instante e você pensa, e agora? O que eu faço?

E agora que por um período você meio que vivencia um momento de luto. Como assim? É, vem a culpa, o desespero, às vezes chora, grita, sente vergonha perante os outros, você se cobra pela situação como se de fato suas atitudes e competências fossem insuficientes para estar empregado ou estar naquela empresa. Mas, assim como para outras questões na vida, tudo passa! A “dor” vem, mas ela também vai embora. E não adianta remoer o passado (clichê né?), mas é a mais pura verdade. Porque todos esses pensamentos apenas te deixam se sentindo como um ser humano incapaz e, ter pena de si mesmo agora, não vai levar a lugar algum.

Os primeiros dias (ou o tempo que for melhor pra si) é como um ajuste: nova rotina, descansar um pouco talvez, fazer aquela arrumação no guarda-roupas que está ali há tempos sendo adiada, fazer coisas que não fazia pela falta de tempo.

Após essa “pausa” para respirar, assimilar e melhor aceitar a realidade, vem o processo de “bora, preciso arrumar um trabalho”. Vários currículos impressos e entregues na cidade, passa dias fazendo um tour pelas ruas e empresas; envio do documento por e-mail, cadastro em sites de empregos, plataformas diversas que, quando se dá conta, sabe de cor e salteado todos os números dos seus documentos e dados da sua carteira profissional. O celular que sempre esteve no modo silencioso, agora se encontra no modo normal para não correr o risco de perder nenhuma ligação.

Os dias passam, nenhuma chamada. Retornos de processos no e-mail apenas agradecendo seu interesse pela vaga, seu perfil não foi selecionado. Começam a surgir algumas ligações (Oba!). Participa de entrevistas on-line. E aguarda os retornos/ feedbacks pelo sim ou não. Muitos nãos. O desespero bate à porta novamente, você culpa o mundo por tudo e quer jogar tudo para o ar. Mas desistir não é permitido aqui.

O processo de recolocação, muitas vezes, é desgastante. Muitas vagas, mas nenhuma parece ser 50% que seja, aderente ao seu perfil (a gente tenta mesmo assim).

Mas você aprende durante toda essa jornada:

• Aprende que você, agora mais do que nunca, é o único responsável por gerenciar seu tempo, faça isso da melhor forma possível! Tenha um planner, uma agenda, um caderno!, mas coloque horários para as suas atividades.
• Aprende que não importa quantos "nãos", o "sim" sempre vem; sim, existe uma LED no fim do túnel (tenho quase certeza de ver a minha ali, começando a apontar seu brilho ao longe).
• Aprende a ser mais justo com você e a pensar melhor sobre suas prioridades e definir que caminho quer seguir, a se planejar melhor profissionalmente, onde você quer chegar? O que você quer ser? O que faz seus olhos brilharem?
• Aprende que mesmo estando empregado, isso não te impede de fazer networking e de trabalhar sua empregabilidade (assunto para uma próxima publicação).
• Aprende que por mais que tudo pareça estar de ponta cabeça, TUDO tem um motivo para acontecer. Sei que é difícil acreditar porque o dinheiro acaba, as contas continuam chegando, mas a gente consegue dar valor e agradecer pelo muito que já possui.
• Aprende a cuidar mais de você; por que não se exercitar nesse tempo off? A mente também precisa ser exercitada.
• É um ótimo momento para aprender coisas novas, cursos online e gratuitos, muitas pessoas boas/ profissionais realizando lives no Instagram (ou outras redes) com diferentes temas.
• Aprende que a comparação é a pior coisa que pode fazer a si, a realidade do outro não é a minha, a necessidade de um é diferente do outro; os sonhos, as metas, o caminho que cada um trilhou, pára, não é igual ao seu!
• Se nunca usou qualquer aplicativo para realizar uma chamada de vídeo, agora você vai aprender, não tem como fugir! O áudio falha, esquece de ligar a câmera, mas aprende.
• Faça uma lista das empresas que te interessam, das vagas que se candidata, e todos os dias confira as vagas; sim, você precisa dedicar horas do dia para o seu processo de recolocação, aprendi com a Mariana Torres que você está em casa, mas não sem nada para fazer, seu “trabalho” agora é este, recolocação! Se dedique. Gostaria que o emprego batesse à porta? Claro! Tem dias que o sentimento é esse, mas o mundo real não é assim.
• A cada entrevista, você vai ficando melhor também, aprende a falar melhor de você, suas experiências e expectativas; consegue até perceber quando você foi bem em uma e não na outra, e o porquê. Escreva as respostas para as perguntas mais frequentes e treine antes das entrevistas. Pesquise sobre a empresa também.
• Não diga "estou desempregado", diga "estou em busca de recolocação", deixa o processo parecer mais "leve", as palavras tem energia.
• Se surgir uma vaga para algo que no fundo não é o que almeja, aceita (que seja pela necessidade/ financeiro), e continua trabalhando sua empregabilidade, invista em você, no seu aprendizado. Fique bom mesmo que tecnicamente na sua área, já é meio caminho andado para a área que deseja ingressar.

Isso tudo é só um resumo do que eu tenho aprendido, mas é a minha percepção (e que tenho tentado colocar em prática). Talvez você se encaixe em um ou outro ponto, mas cada um vai ter o seu aprendizado. Cada um vai passar por um processo de recolocação diferente. É preciso paciência, persistência e um pouco de fé vai bem. Tem dias que você não quer nem olhar para o computador e está tudo bem. Descansa hoje, amanhã você volta. Mas faça seu próprio planejamento com as ferramentas que possuir.

O processo às vezes é longo, às vezes é curto, mas ele está acontecendo! Não desista!