O desafio das famílias rurais e a água em Cabo Verde
A disponibilidade da água de qualidade e em quantidade nas casas das famílias rurais e que vivem em lugares remotas da ilha constitui-se desde sempre um grande desafio social pois são abastecidas por fontanários, camiões autotanques e muitas vezes transportadas à cabeça ou por animais (Burros -Equus africanus asinus).
O tema água é uma questão que atualmente está a ganhar cada vez mais espaços para discussões e há autores e pesquisadores que acreditam que uma guerra já começou pela água, não obstante das que vemos nos noticiários pelo mundo fora, onde os conflitos travados estão intimamente relacionado pela disputa de território ou de rios, como na Indía ou na Síria.
Já se aproxima as comemorações alusiva de dia de água, e certamente como é de praxe, veremos e teremos várias atividades de reflexão sobre o dia, com encontros acadêmicos, políticos e sociais, o que tornou-se uma prática recorrente no nosso meio para não dizer no mundo, talvez constitui-se uma forma de acalmar a consciência, isto numa lógica pessimista, para os optimistas deve haver outros argumentos para estes encontros de reflexão.
Não se quer aqui menosprezar e nem desqualificar estas atividades, quer sim trazer o problema real das familiais rurais enfrentados e de sair da zona passiva para ativa.
Estas familias neste dia provalvemente não estarão em nenhuma atividade e tampouco a refletir sobre a importância da água, muito menos a sua poupança, pois a dura realidade e o pouco disponível ensinam- lhes tudo.
Uma questão crucial que se quer trazer a baila, são os documentos existentes, planos e estratégias elaborados pelo governo para serem implementados no setor de água e saneamento, como exemplo o Plano Estratégico Nacional de Água e Saneamento (PLENAS) , o Plano Diretor de Água e Saneamento (PDAS), a Avaliação Ambiental Social Estratégica Nacional (AASEN) e entre outras que orientam e recomendam várias ações que podem ser “adaptadas” a nossa realidade. Entretanto na prática pouco se consegue ver.
As famílias rurais e as zonas remotas estão a passar na pele a falta de água, pois os poços, lagoas, nascentes e fontes já não é uma esperança para estas famílias, este ano teve pouca chuva e a operadora responsável pela distribuição de água quase que não está a conseguir responder todas as demandas e as necessidades das zonas rurais e dispersas com frequência e quantidade recomendada e desejada, pois os documentos aprovados pelo Governo, PLENAS, estabelece quanto a acessibilidade em caso onde a habitação não se dispõe de rede interior de distribuição de água as condições de acesso a pontos de água dos sistemas públicos não devem impedir que se atinja a capitação mínima de 40 L/dia. O mesmo plano realça, o direito à água impõe na sua plena concretização, quando não se pode ser retirado aos que vivem de modo disperso e ou zonas de difícil acesso, não deve ser negado o acesso das populações ao mínimo de 40 L/ pessoa, dos quais sendo potável, ao menos quanto a 5L/pessoa, a custo não superiores a 5% do rendimento Familiar.
Espera-se que durante as comemorações de dia água, os legisladores, os decisores e todas as pessoas que fazem parte do processo de tomada de decisão no setor de água e saneamento e não só, possam recorrer aos documentos existentes (que custou balúrdio de dinheiro) e que priorizem com boa vontade este setor com soluções ajustadas às famílias rurais e dispersas, porque se não for com muita boa vontade, pouco se consegue, pois é uma área muito desafiante!
Country Focal Point NAYD Cabo Verde
Helen Barbosa